Solenidade de Nossa Senhora do Carmo - Mensagem do Padre Comissário

A toda a Família Carmelita em Portugal,

Por ocasião da Solenidade da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo 

“Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois” (Mc 6, 7) 

Estimados Irmãos e Irmãs!

Saudações fraternas em Cristo e Maria, Mãe e Padroeira dos Carmelitas.

Por graça de Deus, temos a felicidade de celebrar mais uma vez a Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, a nossa Mãe e Patrona.

É uma ocasião para partilhar a nossa Alegria, de dar graças pelos dons da Espiritualidade e da Família Carmelitas e de renovarmos o nosso compromisso de vivermos em “obséquio de Jesus Cristo”, qualquer que seja o nosso estado de vida!

Serei breve nesta partilha. Felizmente, temos ao nosso dispor muitos textos e documentos que nos recordam a nossa identidade. A Carta do nosso Prior Geral, Frei Miceál O `Neill, por ocasião da Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, que envio junto com esta mensagem, é um desses textos que convido a ler e a meditar.

Da riqueza imensa da nossa espiritualidade, permitam que saliente um que me parece de notória urgência e de profundo significado para o mundo de hoje: a Vida Fraterna vivida em Comunidade.

O trecho evangélico que escolhi para inspirar esta mensagem é: “Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois” (Mc 6, 7). Estas breves palavras do Evangelho segundo S. Marcos fazem-nos tomar consciência que somos chamados por Jesus e que somos enviados em Seu nome. Esta é uma vocação comum a todos os cristãos. Ser enviados em nome de Jesus e não em nome pessoal ou em nome dum pequeno grupo, leva-nos a ter a humildade de ouvir a Sua Voz e a ter a generosidade de lhe obedecer na Fé. Viver em obséquio de Jesus Cristo traduz este envio que nos é feito por Ele.

Quem é enviado por Jesus, aprende a caminhar “dois a dois”, isto é, sabe construir comunidade e deixa-se construir pela comunidade. A comunidade é um lugar teológico onde Deus se manifesta.  O anúncio é confirmado pelo testemunho fraterno. Aliás, a vida comunitária em nome de Jesus, é, em si mesma, um testemunho de Jesus Cristo Ressuscitado!

Atualmente, a Igreja – e, em particular o ministério do Papa Francisco – tem-nos desafiado à sinodalidade, isto é, a fazer caminho juntos!

A realidade da sociedade, cujas fragilidades foram evidenciadas pela pandemia que ainda vivemos, convoca-nos a dar as mãos e a ser promotores de união e caridade. Num tempo em que as divisões, ódios, preconceitos e ideologias desagregadoras parecem ressurgir, os cristãos e, e particular os que vivem a espiritualidade carmelita, são chamados a ir em contra-corrente, promovendo a proximidade, a fraternidade e a comunhão.

Por isso, e invocando a inspiração e a proteção de Nossa Senhora do Carmo, exorto a que todos os membros da Família Carmelita– frades, irmãs e leigos – façamos tudo o que está ao nosso alcance para sermos testemunhas de uma autêntica vida comunitária.

Temos ao nosso dispor muitos meios para prosseguir esse fim: os encontros fraternos, a oração em comum, a participação comum nas decisões, o diálogo franco e aberto, as estruturas e os órgãos locais de governo que devem ser respeitados e incrementados, a alternância no desempenho dos ofícios, a correção fraterna e todos os documentos oficiais da Ordem e da Igreja com as suas orientações precisas e atuais.

Todos estes meios conferem-nos a capacidade e a competência para resolver, a nível local,  as dificuldades que são colocadas, para tomar as decisões adequadas, para responder aos desafios colocados, para definir programas e projetos comuns e para garantir, com a assistência do Espírito Santo, que as nossas comunidades – religiosas e laicais- têm presente e futuro e que são significativas para o nosso tempo.

Mas, para que todos estes meios sejam veículos para o fortalecimento do espírito comunitário, é necessário deixarmo-nos “enviar em nome de Jesus Cristo”.  Sem uma verdadeira conversão pessoal, sem uma renúncia a projetos e ambições pessoais, sem percebermos que “quando perdemos a nossa vida” (cf. Mc 8, 35) é que ganhamos a verdadeira vida, não será possível fortalecer os nossos vínculos comunitários.

Neste caminho, somos inspirados pela nossa Regra, alimentados pela Sagrada Escritura, fortalecidos pela Eucaristia e iluminados pelo Espírito Santo.

Os tempos que correm precisam de testemunhas que, na Fé, na Esperança e na Caridade nos mostrem que a Comunhão enraizada em Cristo é possível!

Estamos em preparação para as Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa em 2023. É uma oportunidade para, desde já, valorizarmos, acolhermos e dinamizarmos os jovens que Deus coloca no nosso caminho. Os jovens acreditam em Cristo, acreditam no Evangelho, acreditam nas grandes causas. Acreditam numa vida fraterna autêntica. Somos testemunhas dessa vida comunitária? Percebemos como essa vida fala a todos os que precisam de ouvir uma palavra de Esperança? Sabemos acolher os mais jovens?

Que Nossa Senhora do Carmo, que se levantou apressadamente (cf Lc 1, 39) ao encontro da sua prima Isabel, nos inspire a deixar o nosso comodismo – símbolo duma vida egocêntrica e descomprometida – e a ir ao Encontro do Outro!

Santa, Alegre e Fraterna Solenidade de Nossa Senhora do Carmo.

Santo António dos Cavaleiros, 14 de julho de 2021.

Frei Agostinho Castro, O. Carm.

(Comissario Geral da Ordem do Carmo em Portugal)