Mensagem de Natal do Padre Comissário

“Não posso temer um Deus que se fez tão pequeno por mim...
Amo-O! Ele é só Amor e Misericórdia”
(Sta Teresinha do Menino Jesus, Carta 266)

 

A toda a Familia Carmelita!

A Celebração anual do Nascimento de Jesus é um espaço teológico que nos convoca a uma experiência de Deus, sempre nova e sempre renovadora.

Diante do Mistério do Presépio que, como nos diz Papa Francisco na sua obra “O Admirável Mistério”, é um Evangelho Vivo, somos convidados a renovar o nosso compromisso de discípulos missionários de Jesus, redecobrindo a profundidade do Mistério da Encarnação e do Nascimento de Jesus.

Os Carmelitas vivem em obséquio de Jesus Cristo. Um Cristo que se faz Menino, que se faz simplicidade. Que necessita de cuidados. Que se faz vulnerabilidade. Que se apresenta com a força da Paz e da Fraternidade.

É esta Pobreza do Presépio que nos conduz ao Mistério do Amor. E essa é a nossa maior fortaleza. É o Amor, simples e pobre, que nos conduz para o coração de Deus. Que nos faz perceber, não pela razão, mas pela oração e pela obediència na fé, quem é o próprio Deus.

Que consequência tem essa certeza na nossa vida? Essa certeza de fé leva-nos a aceitar a nossa pobreza e a nossa fragilidade como caminho da descoberta de Amor Divino encarnado em Jesus. Em cada um de nós, há um presépio onde Jesus quer nascer e onde diariamente se realliza o seu Mistério Pascal.

Que significa isto? Significa que viver o Natal é aprender a morrer para o mal e a viver para o Bem! É perceber que o Menino Jesus, que se fez Homem entre nós, que passou pela experiência do sofrimento e da morte, está vivo e caminha connosco. Ele é o Emanuel.

Em tempos de crise social e humana, em tempos de guerras e ódios, cada um de nós é chamado a ser testemunha da Paz e da Faternidade que Jesus nos anuncia no Evangelho.

A vida das nossas comunidades – alicerçada na Oração, na Fraternidade e no Serviço – devem ser presépios vivos donde emane a doçura da contemplação e da unidade em Crsito. Somos desafiados a dar uma especial atenção aos mais frágeis, aos mais sós e aos mais vulneráveis. Saibamos encontrar em cada um dos irmãos e irmãs o rosto de Crsito.

Dum modo particular, convido-vos a olhar e a valorizar três figuras nas quais a graça de Deus transforma a fragilidade em força e testemunho.

a) Sta Teresinha do Menino Jesus e e da Santa Face. No dia 2 de Janeiro de 2023 cumprimos já o 150º aniversário do nascimento de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Santa Face. A este propósito, o papa Francisco escreveu uma Exortação Apostólica intitulada “C`est la Confiance”, datada de 15 de outubro de 2023. Convido-vos a redescobrir a figura desta santa carmelita, exemplo vivo do caminho da “infância espiritual” e testemunho evidente de oração, fraternidade e serviço. E, acima de tudo, mestra da confiança em Deus, sobretudo nos momentos de crise e de obscuridade. A este propósito, cito o que o nosso Papa escreve no nº 24 daquela exortação apsotólica:”A confiança plena, que se torna abandono ao Amor, liberta-nos de cálculos obsessivos, da preocupação constante com o futuro, dos medos que tiram a paz. ... a verdade é que, se estamos nas mãos de um Pai que nos ama sem limites, venha o que vier havemos de o ultrapassar e, de uma froma ou de outra, cumpri-se-á na nossa vida o seu projecto de amor e de plenitude”. 

b) São Francisco de Assis e o primeiro Presépio. O “pobre” de Assis é considerado o criador do primeiro presépio da história. Situa-se esse acontecimento no Natal de 2023, na cidade italiana de Greccio. Em 2023, celebramos os 800 anos dessa iniciativa de São Francisco. Nesta partilha, não poderia deixar de referir esta criação de S. Francisco, não só pelo seu “aniversário”, mas também como um mote para valorizarmos e promovermos a presença do Presépio nas nossas comunidades, nas nossas casas, nas casas dos nossos familiares, amigos, conhecidos, locais de trabalho, convivo, escolas, capelas, igrejas, instituições sociais, etc. É um meio de evangelizar e de trazer para a consciência coletiva o Mistério Central da Celebração do Natal.O Presépio é um sinal da infinita Bondade de Deus.

c) Papa Francisco e o Sinodo sobre a Sinoldalidade. O ministério do papa Francisco tem sido marcado pelo incremento da dimensão da escuta e da participação em todas as instâncias da vida da Igreja. Apesar da sua saúde mais frágil, ele mostra a frotaleza de quem se enraiza na confiança em Deus. Nesse contexto, convocou um Sinodo dos Bispos Extraordinário com o tema “Sinodalidade: Comunhão, Participação e Missão”. Este sínodo, tem sido um intenso processo de escuta e integração. Da primeira assembléia sinodal (que se reuniu de 4 a 29 de outubro de 2023) e em que também participaram muitos leigos, foi emitida uma Síntese que vos convido a ler e a meditar. É um documento bem completo, atual e com desafios bem concretos que comprometem todos os cristãos. Todos somos convidados a participar na vida da Igreja. Esta igual dignidade e igual compromisso estão bem plasmados no seguinte número da referida sintese: “Os sacramentos da iniciação cristã conferem a todos os discípulos de Jesus a responsabilidade da missão da Igreja. Leigos e leigas, consagradas e consagrados, e ministros ordenados têm igual dignidade. Receberam carismas e vocações diversas e exercem papéis e funções diferentes, todos eles chamados e nutridos pelo Espírito Santo para formar um só corpo em Cristo. Todos discípulos, todos missionários, na vitalidade fraterna de comunidades locais que experimentam a suave e confortante alegria de evangelizar. O exercício da corresponsabilidade é essencial para a sinodalidade e é necessário a todos os níveis da Igreja. Todo o cristão é uma missão neste mundo (in Síntese1 da Assembleia Sinodal, parte 8, a)).

Neste ano que estamos a terminar, damos graças a Deus pela experiência de Fé e de Fraternidade que vivemos enquanto Familia Carmelita. Damos graças a Deus pelos seiscentos anos da constituição da Provincia Portuguesa da Ordem do Carmo, efeméride que coincide com a doação definitiva do Convento do Carmo  à Ordem do Carmo por parte de Nuno Álvares Pereira, hoje São Nuno de Santa Maria (julho de 1423).

A todos desejo um Santo e Feliz Natal vivido na profunidade da simplicidade do presépio de Belém. Que o ano de 2024 seja uma oportunidade para revitalizarmos e fortalecermos a nossa identidade enquanto Familia Carmelita, dando especial atenção aos mais pobres e aos mais vulneráveis e consolidando os vínculos fraternos que nos unem.

A Nossa Senhora do Carmo, que foi a primeira a viver o caminhito na fé e na humildade, encomendamos a nossa Familia Carmelita em Portugal. Que ela, humildade e pobre nos inspire e anime a viver o nosso carisma que tanto signifcado tem para os homens e as mulheres nossos contemporâneos.

Lisboa, Santa Isabel, 20 de dezembro de 2023.
Pe Frei Agostinho Marques de Castro, O Carm.
(Comissario Geral da Ordem do carmo em Portugal)