I Domingo do Advento - Ano B

1º DOMINGO DO ADVENTO (ANO B)

30 de Novembro de 2014

alt 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 13, 33-37)

33Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tomai cuidado, vigiai, pois não sabeis quando chegará esse momento. 34É como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, delegou a autoridade nos seus servos, atribuiu a cada um a sua tarefa e ordenou ao porteiro que vigiasse. 35Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar o galo, se de manhãzinha; 36não seja que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. 37O que vos digo a vós, digo a todos: vigiai!»

Contexto

Vigiai! Esta é a palavra chave da curta passagem que a Igreja reserva para a liturgia do primeiro Domingo do Advento. Vigiar, estar atentos, esperar o dono da casa que deve regressar, não adormecer, é isto o que Jesus pede a todo o cristão.

O texto que nos é proposto situa-nos em Jerusalém, pouco antes da Paixão e Morte de Jesus. É o terceiro dia da estada de Jesus em Jerusalém, o dia dos «ensinamentos» e das polémicas mais radicais com os líderes judaicos (cf. Mc 11,20-13,1-2). No final desse dia, já no Jardim das Oliveiras, Jesus oferece a um grupo de discípulos (Pedro, Tiago, João e André – cf. Mc 13,3) um amplo e enigmático ensinamento, que ficou conhecido como o discurso escatológico (cf. Mt 13,3-37).

A maior parte dos estudiosos do Evangelho segundo Marcos consideram que este discurso, apresentado com uma linguagem profético-apocalíptica, descreve a missão da comunidade cristã no período que vai desde a morte de Jesus até ao final da história humana. É um texto difícil, que emprega imagens e uma linguagem marcada pelas alusões enigmáticas, bem ao jeito do género literário «apocalipse». O seu objectivo seria dar aos discípulos indicações acerca da atitude a tomar frente às vicissitudes que marcarão a caminhada histórica da comunidade, até à vinda final de Jesus para instaurar, em definitivo, o novo céu e a nova terra.

Mensagem

Comecemos por identificar os protagonistas da parábola. O dono da casa é Jesus, que no entanto não partiu, simplesmente mudou o seu modo de estar presente entre os discípulos. Ele agora está mais próximo de cada pessoa do que estava quando caminhava pelas estradas da Palestina. Tendo entrado no mundo dos ressuscitados, Ele já não está sujeito – como estava – aos limites da nossa condição humana. Por este motivo convidou os seus discípulos a manterem sempre viva a percepção da sua presença no meio deles: «Eu estarei sempre convosco! Até ao fim dos tempos» (Mt 28,20). Não é fácil esta perceção, já que só a pode ter quem tem um olhar capaz de perscrutar a densa escuridão da noite. É significativo o facto de o Senhor avisar que Ele chega durante a noite. Como um ladrão. Ele vem quando o mundo está envolvido na escuridão: «Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa» (Mt 24,43). Também as dez virgens foram surpreendidas durante o sono: esperavam o noivo que tardava, começaram todas a dormitar e acabaram por adormecer; «a meio da noite, ouviu-se um brado: “ Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!» (Mt 25,5-6). Porquê esta insistência na noite?

Os mestres de Israel ensinavam que, na história do mundo, existiram quatro grandes noites. A primeira foi no momento da criação: não existiam o Sol e a Lua e era noite quando Deus disse «Faça-se a luz!» (Gn 1,3). Houve uma segunda noite, aquela em que Deus estabeleceu a aliança com Abraão (Gn 15). Depois uma terceira, a mãe de todas as noites, aquela da libertação de Israel do Egipto, que foi «noite de vigília para o Senhor, noite de vigília para todos os filhos de Israel nas suas gerações» (Ex 12,42). A quarta noite é a que Israel espera; nela Deus intervirá para criar o mundo novo e dar início ao seu reino.

Quando, no Novo Testamento, se fala da vinda do Senhor durante a noite, trata-se de uma referência a esta quarta noite. É a nossa noite, é o tempo em que vivemos, tempo que é escuro, tempo no qual as propostas de vida mais consensuais são as hedonísticas, não as das bem-aventuranças de Jesus. Esta quarta noite é cuidadosamente dividida por Marcos, de acordo com o cálculo popular romano, em quatro partes, pontualmente evocadas: o anoitecer, a meia-noite, o canto do galo e o alvorecer (v. 35) para sublinhar, de forma meticulosa, o aviso a estar vigilantes, a não dormitar nem sequer por um instante. Quem tem um olhar orientado pelo amor deixa-se interpelar pelos acontecimentos e sabe ver neles os sinais de que as esperanças de um mundo novo começam a realizar-se. Quem é vigilante está pronto para acolher o Senhor que vem e sabe reconhecê-lo em quem procura a paz, o diálogo e a reconciliação; vê-o nos pobres que, sem recorrerem à violência, se empenham a favor da justiça; vê-o no estrangeiro que procura ajuda; abraça-o em quem está sozinho e precisa de conforto.

A escuridão incute temor, em certos momentos, torna-se tão densa que até mesmo o cristão dotado de um fino olhar de fé pode perder de vista o seu Senhor e ser apanhado pelo cansaço, pelo aborrecimento, pelo desconforto. Quando sente as pálpebras pesadas de sono, deve recordar a exortação de Paulo: «A noite (a quarta, a última noite) adiantou-se e o dia está próximo» (Rm 13,12). Há um segredo para permanecer acordados: a oração, vista como um diálogo constante com o Senhor. Quem não reza dormita, acaba por resignar-se e adequar-se, como todos, à escuridão, acaba por resignar-se e adequar-se, como todos, à escuridão da noite que envolve o mundo (Mc 14,37-40).

Os servos, outras personagens da parábola, representam os discípulos empenhados na execução dos projetos do seu Senhor. A cada um é confiada uma tarefa, uma missão a desempenhar, de acordo com as suas capacidades. Ninguém deve esperar que o dono da casa realize sozinho a sua obra. São os servos os executores. O porteiro, que deve ser mais vigilante do que os outros, indica aquelas pessoas que, na comunidade, têm o encargo dos serviços mais importantes, aqueles dos quais depende a própria vida da Igreja: o anúncio da Palavra de Deus, a celebração dos sacramentos, o apoio aos discípulos que vacilam na fé. Estes porteiros devem estar mais vigilantes do que os outros: nos seus pensamentos, nas suas palavras, nas suas escolhas de vida são convidados a comportar-se sempre como «filhos da luz», nunca como «filhos das «trevas» já que devem também manter acordados os seus irmãos mais fracos, aqueles que correm perigo de serem enganados pelos príncipes deste mundo.