São Nuno de Santa Maria, santo de Maria

São Nuno de Santa Maria, santo de Maria

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Outra característica muito definida do perfil espiritual de São Nuno foi a sua devoção à Virgem Maria. Já na sua vida de soldado se encomendava sempre à Virgem Santíssima, antes das batalhas, e pedia também aos soldados que o fizessem. Tinha plena confiança na protecção de Nossa Senhora. Jejuava frequentemente em honra de Nossa Senhora e fomentava sempre a devoção mariana no meio daqueles que o rodeavam. De igual modo, no fim das batalhas, costumava peregrinar a algum santuário mariano.

Por isso mandou reconstruir alguns deles que estavam abandonados ou em mau estado. Ele mesmo pagou a reconstrução de alguns templos, ou mandou construir novos, ou decorá-los dignamente. Neste sentido, muitas igrejas dedicadas a algum orago mariano devem à maior ou menor participação do santo Condestável a sua criação ou subsistência, como as de Sousel; o templo dedicado a Nossa Senhora dos Mártires, em Estremoz; Vila Viçosa; Portel; Évora; Mourão; Camarate; Monsaraz; etc. Um lugar especial merecem, na lista, tanto o templo dedicado a Santa Maria das Vitórias (conhecido como Batalha), construído pelo próprio Rei D. João I a instâncias do seu Condestável para comemorar a batalha de Aljubarrota (perto de Fátima, é uma das jóias do gótico português), como o sumptuoso templo do Carmo, em Lisboa. Alguns historiadores apontam também a intervenção do santo Condestável no auge que em Portugal foi tendo a devoção à Imaculada Conceição, que, com o tempo, se haveria de converter na Padroeira do país, em 1640, a instâncias do Rei D. João IV.

Logicamente que a piedade mariana de Nuno cresceu com o contacto com os carmelitas e, sobretudo, ao ingressar no convento de Lisboa como irmão donato. O facto de ter escolhido, como nome religioso, o de “Nuno de Santa Maria” é, a todos os títulos, significativo. Consta que passava horas em oração diante duma imagem de Nossa Senhora, a quem se encomendava constantemente. O seu exemplo deve ter contribuído, sem dúvida, para que o templo se convertesse num centro importantíssimo de piedade mariana.

Uma vez mais o exemplo de São Nuno pode ser também um estímulo para a nossa própria vida espiritual. Certamente que a devoção mariana de Nuno era vivida sob as formas e expressões de piedade daquela época. Cada período da história deve procurar as suas próprias expressões e, no caso concreto do Carmelo, somos chamados a mostrar e a difundir a devoção à Virgem Santíssima de maneira que seja um reflexo da boa notícia da salvação em Cristo. Devemos conseguir que, como o Concílio Vaticano II nos pediu, a nossa piedade e a nossa devoção mariana não desemboquem nem num afecto estéril e transitório, nem numa vã credulidade (LG 67).

Fernando Millán Romeral, O. Carm.