O desejo de crer

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O que mais se opõe à fé não são as dúvidas e interrogações que podem nascer sinceramente em nós, mas a indiferença e a superficialidade da nossa vida.


Quem busca sinceramente a Deus, vê-se envolvido, mais de uma vez, na obscuridade, na dúvida ou na insegurança. Porém, se busca Deus, há nele um desejo de crer que não é destruído pela dúvida, pela fadiga, pela obscuridade nem pelo próprio pecado.


Não esqueçamos que a fé não se reduz a umas convicções que nos inculcaram desde crianças, ou uma visão da vida que ainda defendemos. Aquele que crê de verdade não se fixa nas fórmulas nem nos conceitos. Não descansa nas palavras.Simplesmente, busca Deus.


Por isso, o grande inimigo da fé é a indiferença. Esse evitar constantemente a grande interrogação da existência. Esse fechar os ouvidos a todo o chamamento ou convite que nos é feito para buscar a verdade.


Muitos cepticismos teóricos e abordagens doutrinais somente contêm insensibilidade, apatia e temor de uma busca sincera e nobre.


A nossa fé enfraquece-se, não quando duvidamos na nossa busca e desejo de Deus, mas quando nos afastamos dele. Assim diz Santo Agostinho: «Quando te afastas do fogo, o fogo continua a dar calor, porém tu te esfrias. Quando te afastas da luz, a luz continua a brilhar, porém tu te cobres de sombras. O mesmo ocorre quando te afastas de Deus».


Quando alguém vive com o desejo sincero de encontrar esse Deus, cada escuridão, cada dúvida ou cada interrogação pode ser um ponto de partida para algo mais profundo, um passo a mais para abrir-se ao mistério.


Tudo isto não é fácil de entender quando vivemos na casca [superficialidade] de nós mesmos, presos por mil coisas e insensíveis para tudo aquilo que não seja encher os nossos bolsos e as nossas ambições.


Por isso, a nossa fé cresce não quando falamos ou discutimos sobre «questões de religião», mas quando sabemos limpar o nosso coração de tantas amarras e murmurar caladamente a oração dos discípulos:«Senhor, aumenta nossa fé!».


Quando oramos assim, não estamos à procura de mais segurança nas nossas convicções crentes, mas sobretudo de um coração mais aberto a Deus.

J. A. Pagola