XXXII Domingo do Tempo Comum - Ano B

32º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)

8 de Novembro de 2015

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 12, 38-44)

38Continuando o seu ensinamento, Jesus dizia: «Tomai cuidado com os doutores da Lei, que gostam de exibir longas vestes, de ser cumprimentados nas praças, 39de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes; 40eles devoram as casas das viúvas a pretexto de longas orações. Esses receberão uma sentença mais severa.» 41Estando sentado em frente do tesouro, observava como a multidão deitava moedas. Muitos ricos deitavam muitas. 42Mas veio uma viúva pobre e deitou duas moedinhas, uns tostões. 43Chamando os discípulos, disse: «Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou no tesouro mais do que todos os outros; 44porque todos deitaram do que lhes sobrava, mas ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía, todo o seu sustento.»

Chave de leitura

O texto do evangelho deste Domingo apresente dois factos opostos, ligados entre si: por um lado, a crítica de Jesus contra os doutores da Lei que usavam a religião para arruinar as viúvas pobres e, por outro, o exemplo da viúva pobre que dava ao Templo até o que lhe era necessário. Este facto é muito actual.

O contexto de ontem e de hoje

O contexto no tempo de Jesus. O texto de Marcos (Mc 12, 38-44) relata a parte final das actividades de Jesus em Jerusalém (Mc 11, 1 a 12, 44). Foram dias muito intensos, cheios de conflitos: expulsão dos vendilhões do Templo (Mc 11, 12-26) e muitas discussões com as autoridades (Mc 11, 27 a 12, 12), com os fariseus, com os herodianos e saduceus (Mc 12, 13-27) e com os doutores da Lei (Mc 12, 28- 37). O texto deste Domingo apresenta-nos a última crítica de Jesus relativamente ao mau comportamento dos doutores da Lei e uma palavra de elogio respeitante ao bom comportamento de uma viúva. Quase no fim da sua actividade em Jerusalém, sentado diante do tesouro onde eram recolhidas as esmolas do Templo, Jesus chama a atenção dos seus discípulos para o gesto de uma pobre viúva e ensina-lhes o valor de compartilhar (Mc 12, 41-44).

O contexto no tempo de Marcos. Nos primeiros quarenta anos da história da Igreja, desde os anos 30 a 70, as comunidades cristãs eram, na sua grande maioria, formadas por gente pobre (1Cor 1, 26). Pouco depois agregaram-se também outras pessoas mais ricas ou que tinham vários problemas. As tensões sociais, que existiam no império romano, começaram também a aparecer na vida das comunidades. Estas divisões, por exemplo, surgiam, quando as comunidades se reuniam para celebrar a Ceia (1Cor 11, 20-22) ou quando havia alguma reunião (Tg 2, 1-4). O ensino acerca do gesto da viúva era para eles actual. Era como se olhassem ao espelho, porque Jesus compara o comportamento dos ricos e o comportamento dos pobres.

O contexto de hoje. Jesus elogia uma viúva pobre porque sabe compartilhar mais e melhor do que os ricos. Muitos pobres de hoje fazem a mesma coisa. As pessoas dizem: “O pobre nunca deixa morrer de fome a outro pobre”. Mas isto nem sempre é verdade. A Senhora Cristina, uma Senhora pobre do campo, mudou-se para a periferia de uma grande cidade. “No campo era muito pobre mas tinha sempre alguma coisa para compartilhar com um pobre que batesse à porta. Agora que me encontro na cidade, quando vejo outro pobre que vem chamar à minha porta, escondo-me com vergonha porque não tenho nada para compartilhar”. Por um lado, a gente rica que tem tudo e, por outro, a gente pobre que não tem quase nada para compartilhar, excepto o pouco que tem.

Comentário do texto

Marcos 12, 38-40: Jesus critica os doutores da Lei. Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento hipócrita e interesseiro de alguns doutores da Lei. “Doutores” ou Escribas eram os que ensinavam a Lei de Deus. Mas era só de palavra porque o testemunho das suas vidas mostrava o contrário. Gostavam de deambular pelas praças, com longas túnicas, receber a saudação das pessoas, ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e nos banquetes. Queriam aparentar que eram pessoas importantes. Usavam a ciência que tinham e a profissão que exerciam como meio para subir na escala social e enriquecer, e não servir. Gostavam de entrar na casa das viúvas e recitar longas orações em troca de dinheiro. E Jesus termina dizendo: “Esta gente receberá um juízo severo!”.

Marcos 12, 41-42: A esmola da viúva. Jesus e os discípulos estão sentados diante do tesouro do Templo e observam as pessoas que colocam aí as suas esmolas. Os pobres deitam pouco e os ricos deitam grandes quantidades. O tesouro do Templo enchia-se de dinheiro. Todos traziam alguma coisa para o sustento do culto, dos sacerdotes e para a conservação do Templo. Parte deste dinheiro era utilizado para ajudar os pobres. Naquela altura não havia Segurança Social. Os pobres dependiam da caridade dos outros. Os pobres mais necessitados eram os órfãos e as viúvas. Eles não possuíam nada. Dependiam totalmente da caridade dos outros. Mesmo não tendo nada esforçavam-se por compartilhar com os outros o pouco que tinham. Assim, pois, uma viúva muito pobre deposita a sua esmola no tesouro do Templo. Somente uns cêntimos!

Marcos 12, 43-44: Jesus mostra onde se manifesta a vontade de Deus. O que vale mais: o pouco da viúva ou o muito do rico? Para os discípulos a grande soma colocada no tesouro do Templo era muito mais útil para fazer caridade do que o pouco da viúva. Eles pensavam que o problema das pessoas ficava resolvido com muito dinheiro. Aquando da multiplicação dos pães disseram a Jesus: “Senhor, que queres que compremos com duzentos denários para dar de comer a tanta gente?” (Mc 6, 37). Para os que pensam assim, os dois cêntimos da viúva não serviam para nada. Mas Jesus diz: “Esta viúva deitou mais no tesouro do que todos os outros”. Jesus tem outros critérios. Ao chamar a atenção dos discípulos para o gesto da viúva ensina-lhes e ensina-nos onde devemos procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber, no compartilhar. Se hoje compartilhássemos os nossos bens que Deus colocou no universo à disposição da humanidade, não haveria pobres nem fome. Haveria o suficiente e sobraria também para muitos outros.

Esmolas, compartilhar e riquezas

A prática de dar esmolas era muito importante para os judeus. Era considerada “uma boa acção” (Mt 6, 1-4), porque a lei do Antigo Testamento dizia: “Sem dúvida, nunca faltarão pobres na terra; por isso eu te ordeno: abre generosamente a mão ao teu irmão, ao pobre e ao necessitado que estiver na tua terra” (Dt 15, 11). As esmolas, colocadas no tesouro do Templo, tanto para o culto como para a manutenção do Templo ou para os necessitados, os órfãos e as viúvas, eram consideradas acções gratas a Deus. Dar esmola era uma forma de compartilhar com os outros, um modo de reconhecer que todos os bens pertencem a Deus e que nós somos administradores destes bens, de modo que haja vida em abundância para todos.

Foi a partir do Êxodo que o povo se deu conta da importância da esmola e do compartilhar. A caminhada durante quarenta anos através do deserto foi necessária para ultrapassar o projecto de acumulação que vinha desde o faraó do Egipto e que estava bem presente na cabeça das pessoas. É fácil sair do país do faraó mas é difícil ver-se livre da mentalidade do faraó. A ideologia dos grandes é falsa e enganosa. Foi preciso experimentar a fome no deserto para aprender que os bens necessários para a vida são para todos. Isto é o ensinamento da história do maná: “e não sobejava a quem tinha muito nem faltava a quem tinha pouco” (Ex 16, 18).

Mas a tendência para a acumulação era contínua e muito forte e renasce quase sempre no coração humano. Precisamente por causa desta tendência para acumular é que se formam os grandes impérios da história da humanidade. O desejo de possuir e de acumular está no coração destes impérios e reinos humanos. Jesus mostra a conversão necessária para entrar no Reino de Deus. Diz ao jovem: “Vai, vende tudo o que tens e dá-lo aos pobres” (Mc 10, 21). Esta mesma exigência repete-se nos outros evangelhos: “Vendei os vossos bens e dai-os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói (Lc 12, 33-34; Mt 6, 9-20). E acrescenta a razão para esta exigência: “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”.

A prática de compartilhar, da esmola e da solidariedade é uma das características que o Espírito de Jesus, comunicado no Pentecostes (Act 2, 1-13), quer realizar nas comunidades. O resultado da efusão do Espírito é precisamente este: “Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos” (Act 4, 34-35a; 2, 44-45). As esmolas recebidas pelos Apóstolos não eram para acumular mas para distribuir “a cada um conforme a necessidade que tivesse” (Act 4, 35b; 2, 45).

A entrada de pessoas ricas na comunidade cristã por um lado tornava possível a expansão do cristianismo, oferendo melhores condições ao movimento missionário. Mas por outro, a acumulação de bens bloqueava o movimento de solidariedade e de partilha provocado pela força do Espírito Santo no Pentecostes. Tiago quer ajudar algumas pessoas a entender o caminho errado que tomaram: “E agora vós, ó ricos, chorai em altos gritos por causa das desgraças que virão sobre vós. As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes comidas pela traça” (Tg 5, 1-3). Para aprender o caminho do Reino, todos têm necessidade de converter-se em alunos daquela pobre viúva que partilhou o que tinha, o necessário para viver.

Palavra para o caminho

Existe um modo simples de definir os cristãos: são homens e mulheres que têm esperança. Esta é a sua característica fundamental. Santo Agostinho já dizia que “esperar por Deus significa tê-lo” e o poeta Charles Péguy recordava-nos que a esperança é “a fé que Deus ama”. Os cristãos não pretendem conhecer o futuro do mundo melhor que os outros. Vivendo, dia-a-dia, a marcha do mundo, também nós nos debatemos entre a inquietude e a resignação. Somente Deus é a nossa esperança.

O Futuro final do mundo é Deus. Quer saibamos ou não, estamos colocados diante d'Ele. A história encaminha-se para o seu encontro. No final, todo o finito morre em Deus, e em Deus alcança a sua verdade última. Deus é o final misterioso do mundo: Deus encontrado para sempre é o "céu"; Deus perdido para sempre é o "inferno"; Deus como verdade última é o "juízo". Isto que pode fazer alguns sorrirem é para aquele que crê a força mais real para manter a Esperança.

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