Domingo de Páscoa - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. João  (20, 1-9) 

20,1No primeiro dia da semana, Maria Madalena vem de manhã, sendo ainda escuro, ao sepulcro e vê a pedra retirada do sepulcro. 2Então corre e vem ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e diz-lhes: «Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». 3Pedro saiu, pois, com o outro discípulo e vieram ambos ao sepulcro. 4Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. 5Debruçando-se, viu os panos de linho no chão, mas não entrou. 6Entretanto, vem também Simão Pedro, que o seguia; entrou no sepulcro e vê os panos de linho no chão 7e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus, não com os panos de linho no chão, mas enrolado, num lugar à parte. 8Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. 9De facto, ainda não tinham compreendido a Escritura que é necessário Ele ressuscitar dos mortos.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • O presente texto abre a terceira secção da segunda parte do Quarto Evangelho (20,1-31), onde se apresenta Jesus ressuscitado como o Homem Novo, o Senhor, que dá início à nova criação e à comunidade de homens novos, que a Ele se convertem e nele acreditam.
  • v - 1 (vv. 1-10: Mc 16,1-8; Lc 24,1-11; Mt 28,1-8). A cena decorre em Jerusalém, na manhã de Páscoa. Começa com uma indicação cronológica: “no primeiro dia da semana”. Este foi o dia em que Deus deu início à criação (Gn 1,5) e é o dia em que Ele inaugura a nova criação em Cristo ressuscitado, dia que, por isso, se chama “o Dia do Senhor” (Ap 1,10; lt. dominica), o dia em que a comunidade cristã se reúne para celebrar a Eucaristia (cf. v. 26; At 20,7; 1Cor 16,2).
  • João descreve em seguida, quase sempre no presente do indicativo, a reação dos discípulos perante a descoberta do sepulcro vazio, recorrendo, como é seu habito, à técnica do “personagem em destaque” (cf. o perfil jornalístico). Foca a narração em três pessoas: Maria Madalena, Simão Pedro e “o discípulo que Jesus amava”.
  • A primeira personagem é Maria Madalena (he. de Magdala, “torre”, “grandeza”), que também é a primeira que João nomeou entre as mulheres que estavam junto à cruz de Jesus (19,25). Ela dirige-se ao jardim (19,41; cf. Ct 4,16; 5,1; 8,13), que ficava ao pé do Calvário, onde Jesus fora crucificado, onde está o sepulcro de Jesus, a uns 40 m do Gólgota. Ela não vai sozinha, mas acompanhada (cf. v. 2: “não sabemos”). Vai de “manhã”, o tempo que assinala o despontar de um novo dia, mal se abrem as portas da cidade, por volta das 6 h, quando “ainda era escuro” (cf. 1,5; 8,12; 12,46; Lc 24,22). É uma alusão a Ct 3,1-5, o megillat (“rolo” que se lê durante as festas), que tinha sido lido na véspera, sábado, festa judaica da páscoa. Chega ao sepulcro e vê (gr. blepô, “observar”) que a pedra que servia de calço à porta (he. dopheq: Ohal 2,4) fora “retirada” (Sl 24,7.9; Is 53,8) e a pedra rotatória exterior (golel: Sanh 47b) tinha sido rolada para trás, deixando aberta a entrada e permitindo ver que nenhum corpo estava lá. O verbo “retirar” está no particípio perfeito no passivo divino indicando que a pedra foi retirada, de uma vez para sempre, por Deus.
  • v - 2: cf. vv. 13.15; Lc 24,23. Maria pensa logo o pior, “corre” (cf. Gn 24,20.28; 29,12; Ct 1,4; 1Cor 9,24) e vai ter com Simão Pedro e o discípulo que Jesus amava (o próprio evangelista: cf. 13,23; 19,26; 21,20.24), para lhes dizer de que teriam “retirado” (o verbo está no aoristo, indicando um espaço de tempo: cf. Mt 14,12) o corpo de Jesus, pensando talvez que alguém (o jardineiro: 20,15) ao ver que o sepulcro tinha sido ocupado, o tinha tirado dali indignado para o lançar numa vala comum, uma vez que o sepulcro onde o tinham posto era novo, de uma pessoa rica (19,41) e Jesus tinha sido condenado e morto, crucificado, como um blasfemo, um maldito, tendo assim profanado o sepulcro, de modo que ninguém mais lá poderia ser sepultado.
  • “Não sabemos” indica que Maria Madalena não fora só ao sepulcro, mas acompanhada por outras mulheres, como referem os Sinóticos (Mc 15,47; 16,1; Lc 24,10; cf. Jo 19,25: Maria, mulher de Cleofás, tia de Jesus, mãe de Tiago e de José; Salomé, mãe de João e de Tiago, filhos de Zebedeu; Joana, etc.). A expressão evoca os diálogos de Jesus com os judeus (7,11.22; 8,14.28.42) e com os seus discípulos (13,33; 14,1-5; 16,5) que “não sabem” (cf. Gn 28,16; Is 45,15 LXX) para onde Ele vai. Pode ser uma alusão a Moisés (Dt 34,6) e a Elias (cf. 2Rs 2,17), os dois maiores emissários de Deus no AT, cujos corpos nunca foram encontrados. Maria designa Jesus como era seu hábito, “Senhor” (11,3.32), título que a partir do v. 18 passa a ser uma confissão de fé na divindade de Cristo ressuscitado (cf. Fl 2,11).
  • v - 3: cf. 18,16; Lc 24,24. João apresenta agora na pessoa de Simão Pedro e do discípulo amado a atitude dos apóstolos diante do mistério da morte e ressurreição de Jesus. Estas duas figuras aparecem lado a lado no Quarto Evangelho em diversas circunstâncias : na Última Ceia (13,23ss), na paixão (18,15-18) e na aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos junto ao lago de Tiberíades (21,7). Nelas, o “discípulo amado” antecipa-se sempre a Pedro.
  • v -v4. É o que agora acontece: o “outro discípulo”, mais jovem do que Pedro, corre à sua frente (Gn 24,29; 29,13), mais depressa do que ele (porque movido pela esperança e o amor: cf. Is 40,31; Sl 119,32; Tob 11,3), para comprovar a notícia dada por Maria Madalena (cf. 1Ma 16,21) e chega primeiro ao sepulcro.
  • v - 5. O discípulo «debruça-se» para ver através da entrada do sepulcro e da passagem para a câmara principal o lugar onde o corpo de Jesus tinha sido colocado. O sepulcro, situado numa falésia, estava escavado na rocha, tinha uma entrada e duas divisões. A primeira era a antecâmara, onde se preparava o cadáver, seguida da câmara principal, que estava separada dela por uma passagem mais baixa do que a entrada (com cerca de 1,33 m de altura) sendo preciso abaixar-se para poder entrar nela. Aí havia uma laje tendo sido sobre ela que o corpo de Jesus fora depositado.
  • O discípulo amado vê apenas os “panos de linho” (gr. othónia, usados, como era habitual, para envolver o corpo na sepultura: 19,40), caídos no chão. Mc 15,46, Lc 23,53 e Mt 27,59 preferem o sinónimo “lençol” (he. sadin, gr. sindôn: Jz 14,12; Pv 31,24). Mas nenhum dos evangelistas fala em “ligaduras” (gr. keiría), como as que envolviam o cadáver de Lázaro (11,44).
  • O discípulo aguarda que Pedro “entre” (18,15), não apenas por deferência para com ele, à semelhança de Jesus (que mencionava sempre Pedro em primeiro lugar: Lc 22,8; At 1,13; 3,1.3.11; 4,13.19; 8,14; cf. Mc 3,16s p; 9,2p; 14,33p; Gl 2,9), mas também porque o discípulo amando simboliza os que irão acreditar em Jesus sem O terem visto (20,29), fundamentados apenas na fé da Igreja (simbolizada nos dois apóstolos: 1,35; Mc 6,7p; Mt 18,20), professada por Simão Pedro e por ele representada (cf. 6,68; 21,15ss; Lc 24,34!; 1Cor 15,5!; cf. Mc 8,29p; Lc 22,32). Com este gesto João alude veladamente ao martírio de Pedro que entrará primeiro do que João no sepulcro, “seguindo” os passos de Jesus até à cruz (13,36s; 18,15; 21,19s.22).
  • v - 6: Lc 24,12. Chega então Simão Pedro, que «segue» João (18,15: cf. 1,37-42) e vê (gr. theorein: um ver que faz pensar) os panos de linho caídos no chão 
  • v - 7. Simão Pedro repara também que o «lenço» (gr. soudárion) que tinha sido posto sobre o rosto de Jesus (só João anota este pormenor, também referido no caso de Lázaro: 11,44), não estava caído no chão, mas «enrolado num lugar à parte» (cf. Lc 23,53p). Simão Pedro, porém, não entende este sinal (cf. Lc 24,12).
  • v - 8. Finalmente entra o outro discípulo, aquele que Jesus amava. Ele «viu» (gr. oraô, o ver que repara, reconhece, comprova e testemunha: 14,9), ou seja, percebe, a partir do pormenor de que o lenço não estava caído no chão ou posto de qualquer maneira sobre a laje, mas que tinha sido “enrolado” (gr. entulisso: só aqui na Bíblia e em Mt 27,59 e Lc 23,53) e posto sobre a laje num lugar à parte», com amor, “sinal” que o corpo de Jesus não tinha sido “roubado” (cf. Mt 28,13), nem intempestivamente levado para outro lado por alguém, mas tirado por Deus (cf. Dn 14,36-38).
  • «E acreditou» (20,29; cf. 1,50; 2,11; 3,36; 6,26), reconhecendo neste “sinal” a ação de Deus (cf. 20,30s; 21,7) que ressuscita Jesus de entre os mortos.
  • v - 9. O que fundamenta a fé do discípulo não é, porém, este sinal (4,48), que apenas a ela apela, mas a Palavra de Deus, consignada na Escritura (2,22; 12,16), expressa nas palavras de Jesus (14,3.28; 16,16s.19-22) e transmitida pela Igreja, evocada na pessoa dos apóstolos, aqui mencionados no plural: «ainda não tinham compreendido a Escritura» (cf. 2,22). A Cristo ressuscitado só se chega pela fé, fé que nasce da aceitação do anúncio (cf. v. 2) e da escuta da Palavra de Deus (cf. Rm 10,17; Gl 3,2.5).
  • Que diz a Escritura? «É necessário Ele ressuscitar dos mortos». “É necessário” (gr. deĩ) indica o desígnio salvífico de Deus, expresso nas Escrituras. Elas anunciam que o Messias-Rei, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (1,29), devia morrer e ressuscitar ao terceiro dia (Sl 16,10; 22,22-31; 26,19; Is 25,8; 53,10ss; Os 6,2; 13,14; Lc 24,25-27.44-46; At 2,24-36, 13,32-37; 17,3; 1Cor 15,4). Por sua vez, só à luz da a morte e ressurreição de Jesus se podem entender as Escrituras (aqui, o AT) que falam acerca dele (5,39).
  • “Ressuscitar”: o verbo não está aqui na voz passiva, como é habitual no NT (gr. eguérte: 2,22), mas no infinitivo aoristo da voz ativa (gr. anastênai: Mc 8,31; 9,10; Lc 24,7.46; At 10,41; 17,3) indicando que não é apenas Deus que ressuscita Jesus, mas é o próprio Jesus que ressuscita (cf. 5,26; 10,17s).
  • O “discípulo amado” é assim o modelo do discípulo que está em plena sintonia com Jesus: acreditando nele sem O ver (20,29), porque escuta o anúncio, conhece a Palavra de Deus e acredita no seu amor e que, por isso, permanece junto dele, corre ao seu encontro, compreende os seus sinais, descobre a sua presença viva e operante na história e na vida dos homens e a testemunha (porque a tal leva o amor).

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio…

d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática? 

  • Tenho fé em Cristo ressuscitado? Já me encontrei com Ele? Como?
  • Que significa para mim a ressurreição de Jesus? Que decorre dela, para mim, na prática da minha vida quotidiana: na família, no trabalho, nas minhas relações com os outros, no seio da comunidade cristã?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                      Sl 118, 1-2.16-17.22-23 (R. 24)

Refrão:        Eis o dia que fez o Senhor: nele exultemos e nos alegremos.

Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.      R.

A mão do Senhor fez prodígios,
a mão do Senhor foi magnífica.
Não morrerei, mas hei de viver
para anunciar as obras do Senhor.      R.

A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.      R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor, Deus do universo, que, neste dia, pelo vosso Filho Unigénito, vencedor da morte, nos abristes as portas da eternidade, concedei-nos que, celebrando a solenidade da ressurreição de Cristo, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos para a luz da vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc