Mensagem de Páscoa do Padre Comissário

A toda a Família Carmelita.

Saudações fraternas em Cristo e Maria, Mãe dos Carmelitas.

«Ide à cidade, a casa de tal pessoa, e dizei-lhe: “O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo. É em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa com os meus discípulos’». (Mt 26, 18)

Nos relatos evangélicos da celebração da Páscoa de Jesus, não é referido o nome do proprietário da casa na qual Jesus celebrou a Última Ceia com os seus discípulos. Nem sabemos o nome da sua família. Noutras passagens do Evangelho, refere-se que Jesus é recebido por Simão, pela família de Betânia, por Zaqueu, por Mateus…etc.

Pessoalmente, sempre me interrogou este anonimato e, ao mesmo, tempo, este acolhimento da parte do responsável desta casa. Pergunto: Será de alguém que já conheceria Jesus, mas que os seus discípulos não conheceriam? Será que se manteve em casa quando Jesus e os seus discípulos celebravam a Páscoa? Teria família? Seria um espaço de eventos? Onde terá ele próprio celebrado a Páscoa judaica? Terá sido uma testemunha oculta/ocular da instituição do sacramento da Eucaristia, do Lava-pés, da Oração Sacerdotal de Jesus e da proclamação solene do Mandamento Novo de Jesus?

Mais do que um mero exercício de especulação acerca da identidade desta personagem, interessa, a partir da leitura da Fé, perceber os ensinamentos espirituais que esta passagem nos oferece.

Numa leitura muito própria, vejo nesta passagem, um convite de Jesus a celebrar a Páscoa connosco, na nossa casa. “É em tua casa que eu quero celebrar a Páscoa”! É na Casa das nossas comunidades religiosas e laicais; é na casa das nossas famílias; é na casa das nossas paróquias, das nossas capelanias que Jesus quer celebrar novamente a Última Ceia! E, é sobretudo, na casa do nosso Coração que Ele deseja ser acolhido, em que Ele se mostra próximo!

A não nominação da pessoa que acolhe Jesus em sua casa para celebrar a Páscoa não é um anonimato superficial, mas sim a abertura a um sujeito comunitário. Cada um de nós que forma a Igreja, todos aqueles que buscam a Cristo nas suas vidas é chamado a escutar a voz de Jesus que quer que vivamos a sua Páscoa em comunhão com Ele e com os Irmãos.

É a partir do Coração que vivemos o Mandamento Novo do Amor: ”Amai-vos uns aos outros como Eu vos Amei”. É este Amor que nos leva a viver em serviço amoroso, como quem lava os pés aos irmãos. É este amor-doação de Jesus que é atualizado e celebrado em cada Eucaristia.

Ser Eucaristia é viver o lava-pés, é escutar a Palavra, é acolher o Amor, é ser Comunhão, é receber o Pão e o Vinho Consagrados.

Se reduzirmos a Eucaristia à celebração sacramental-ritual, muitas vezes feito de forma individualista e reservada, então não viveremos a Eucaristia no seu sentido mais profundo. A Última Ceia é uma totalidade de momentos e não só uma parte.

Em tempos (e perdoem-me se alguma sensibilidade se ofende) ouvi uma expressão que me ficou na memória: “Devemos deixar uma cultura de missinhas para passarmos a ser, em todos os momentos, verdadeiramente Eucarísticos”. Deixo esta expressão para meditação.

Que a nossa Páscoa nos faça verdadeiramente Amor-Doação. A Ressurreição é viver nesta lógica do Amor que se dá até à Cruz!

Termino esta partilha falando dum exemplo concreto de quem viveu esta lógica da Cruz no seu sentido mais profundo. Trata-.se do Frei Pablo Maria de la Cruz Alonso Hidalgo, Carmelita.

Frei Pablo Maria de la Cruz Alonso Hidalgo é um jovem religioso Carmelita que partiu para o Pai no dia 15 de julho de 2023, sábado, vésperas de Nossa Senhora do Carmo, menos de um mês depois dele ter emitido a profissão solene "in articulo mortis" (próximo da morte). Tinha 21 anos.

Paulo foi diagnosticado com um sarcoma de Ewing, uma forma rara de câncer ósseo, quando tinha 16 anos.

Alguns dias antes da sua profissão religiosa, foi admitido ao noviciado em cerimónia presidida Provincial de Aragão, Castela e Valencia, no Hospital Clínico Universitário de Salamanca. Também estiveram presentes os pais de Alonso e o mestre de noviços.

Emitiu a Profissão religiosa no dia 25 de junho de 2023.

Antes de partir, escreveu uma Carta que foi entregue a Sua Santidade, o Papa Francisco, na viagem para Lisboa para a celebração da JMJ23, por Eva Fernández, correspondente no Vaticano da COPE, emissora de rádio da Conferência Episcopal Espanhola. Partilho uma citação dessa Carta que, certamente nos ajudará a viver estes dias do Sagrado Tríduo Pascal:

«Tenho consciência de que tudo tem uma razão dentro do plano de Deus. No meio de altos e baixos, dias melhores e piores, e com muita purificação pela doença, hoje contemplo a minha vida e posso confessar que fui e sou feliz. Descobri que o centro da minha vida não é a doença, mas Cristo. Como disse aos meus amigos, à minha família, aos meus irmãos carmelitas: “Através do sofrimento na doença encontrei Deus, e através da morte na doença irei com Ele. E, por isso, agradeço-Lhe (…) Pedi insistentemente ao Senhor que sejamos pequenos e pobres e, assim, estejamos próximos dos pequenos, especialmente dos mais doentes e das suas famílias. A Cruz deu-me um sentido especial para ver o que acontece com eles e a coragem para estender a mão e tocar as suas feridas. Quero também que a minha oferta chegue às famílias dos doentes. Por isso, uno a fragilidade da minha vida frágil – mas que sei ser preciosa aos olhos de Jesus – bem como as minhas intenções às d`Ele»

Que estes exemplos nos estimulem a viver com mais convicção a nossa identidade carmelita!

Que Maria, a mulher que se manteve de pé junto á Cruz, nos inspire e fortaleça.

Em nome pessoal e em nome da Ordem do Carmo em Portugal, a todos desejo Uma Santa Páscoa! Que o Senhor Jesus Cristo Ressuscitado nos encha de Esperança e na Caridade.

Lisboa, 28 de março de 2024, Quinta -feira Santa

Frei Agostinho Marques de Castro, O. Carm