Audiência Geral - 11 de Janeiro

RESUMO DA AUDIÊNCIA GERAL

- 11 de Janeiro de 2017 -

 

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 Amados irmãos e irmãs, bom dia! 

 

Esperar é uma necessidade primária do homem: esperar no futuro, acreditar na vida, o chamado «pensar positivo».


Mas é importante que esta esperança seja posta naquilo que pode deveras ajudar a viver e a dar sentido à nossa existência. É por isso que a Sagrada Escritura nos admoesta contra as falsas esperanças que o mundo nos apresenta, desmascarando a sua inutilidade e mostrando a sua insensatez. E faz isto de várias maneiras, mas sobretudo denunciando a falsidade dos ídolos nos quais o homem é continuamente tentado a pôr a sua confiança, fazendo deles objecto da sua esperança.


Em particular os profetas e sábios insistem sobre isto, tocando um ponto nevrálgico do caminho de fé do crente. Porque fé significa confiar em Deus — quem tem fé, confia em Deus — mas chega o momento em que, confrontando-se com as dificuldades da vida, o homem experimenta a fragilidade daquela confiança e sente a necessidade de certezas diversas, de seguranças tangíveis, concretas. Confio em Deus, mas a situação é um pouco crítica e eu preciso de uma certeza um pouco mais concreta. E está ali o perigo! Então somos tentados a procurar consolações até efémeras, que parecem preencher o vazio da solidão e aliviar a fadiga do crer. E pensamos que as devemos encontrar na segurança que o dinheiro pode dar, nas alianças com os poderosos, na mundanidade, nas falsas ideologias. Por vezes procuramo-las num deus que se possa submeter aos nossos pedidos e magicamente intervir para mudar a realidade e torná-la como a queremos; um ídolo, precisamente, que como tal nada pode fazer, impotente e mentiroso. Mas nós gostamos dos ídolos, gostamos tanto! Certa vez, em Buenos Aires, devia ir de uma igreja para outra, mil metros, mais ou menos. E fi-lo a pé. Há um parque no meio, e no parque havia pequenas mesinhas, mas muitas, tantas, onde estavam sentados os videntes. Estava cheio de gente, que faziam até a fila. Tu davas-lhe a mão e ele começava, mas, a conversa era sempre a mesma: há uma mulher na tua vida, há uma sombra que vem mas tudo vai correr bem... E depois, pagavas. E isto dá-te segurança? É a segurança de uma — permiti-me a palavra — de uma estupidez. Ir ter com o vidente ou a vidente que lêem as cartas: isto é um ídolo! Isto é o ídolo, e quando nós lhes estamos tão afeiçoados: compramos falsas esperanças. Enquanto que na esperança da gratuitidade, que Jesus Cristo nos trouxe, gratuitamente dando a vida por nós, por vezes não confiamos muito nela.


Um salmo cheio de sabedoria apresenta-nos de modo muito sugestivo a falsidade destes ídolos que o mundo oferece à nossa esperança e na qual os homens de todas as épocas são tentados a confiar. É o Salmo 115, que recita assim: «Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. / Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não veem. / Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. / Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta. / A eles se tornem semelhantes os que os fazem, assim como todos os que neles confiam!» (vv. 4-8)


O salmista apresenta-nos, de maneira também um pouco irónica, a realidade absolutamente efémera destes ídolos. E devemos compreender que não se trata só de representações feitas de metal ou de outro material, mas também das que são construídas com a nossa mente, quando confiamos em realidades limitadas que transformamos em absolutas, ou quando reduzimos Deus aos nossos esquemas e às nossas ideias de divindade; um deus que se parece connosco, compreensível, previsível, precisamente como os ídolos dos quais fala o Salmo. O homem, imagem de Deus, fabrica para si mesmo um deus à sua própria imagem, e é até uma imagem mal feita: não ouve, não age e sobretudo não pode falar. Mas, nós ficamos mais contentes por ir ter com os ídolos do que com o Senhor. Muitas vezes sentimo-nos mais felizes com a esperança efémera que este falso ídolo nos dá, do que com a grande esperança certa que dá o Senhor.


Como prossegue o Salmo, é preciso confiar e esperar em Deus, e Deus concederá a bênção. Diz assim o Salmo: «Israel, confia no Senhor [...] / Casa de Aarão, confia no Senhor [...] / Vós, os que temeis ao Senhor, confiai no Senhor [...] / O Senhor lembrou-se de nós; ele nos abençoará» (vv. 9.10.11.12).


O Senhor recorda-se sempre. Até nos maus momentos ele se recorda de nós. E esta é a nossa esperança. E a esperança não desilude. Nunca. Nunca. Os ídolos desiludem sempre: são fantasias, não são realidades. 

 

Papa Francisco