Santa Teresa de Jesus: reformadora e fundadora

Santa Teresa de Jesus: reformadora e fundadora

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A Providência sempre dispõe de quem escolher para levar a cabo uma boa obra. Perante a Reforma protestante, lavrou de imediato a Reforma Católica, por muitos denominada de Contra-Reforma. A segunda metade do século XVI e todo o século XVII foram uma época em que em toda a catolicidade floresceram os heróis, os mártires, os pregadores, os evangelizadores, e também os profetas da vida ascética e mística. Com os pés fincados na Regra inicialmente dada aos Irmãos da Virgem Maria do Monte Carmelo, e com uma visão de Cristo humano - esse que diz, “vinde a mim” - e não totalmente distante enquanto divindade, Teresa apostou no rigoroso abandono dos negócios do mundo, para tratar com Deus a favor da salvação da humanidade. “Esta é a nossa vocação”, escreveu.

Teresa iniciou uma Reforma tão significativa, que provocou discordâncias, e mesmo forte oposição, derivada de instalados hábitos culturais. A chamada”reforma teresiana” estava em marcha, dentro da Ordem do Carmo. De facto, para aplicar as reformas pastorais decretadas pelo concílio de Trento, com vista ao melhor bem da Igreja, face às novas heresias, a Ordem mandou a Espanha um Visitador, o Padre João Baptista Rúbio, que tomou conhecimento da iniciativa de Teresa, que receou ver a sua acção reprovada. Pelo contrário, o Visitador apreciou o trabalho de Teresa e deu-lhe aconselhamento para desenvolver esse trabalho, autorizando-a levar por diante a fundação de outros mosteiros, pois Fr. Rúbio considerou que se tratava de uma “boa obra”.

Teresa recebeu destas palavras como que uma vida nova, dispondo-se, isenta de temor, a interpretar os carismas carmelitas, a vivê-los de um modo diferente e original, interiorizante mas de olhos vigilantes para o mundo, e a multiplicar o número de novos mosteiros em toda a Espanha, que percorreu, feita andarilha, a proceder a novas fundações, do mesmo passo motivando os frades da primeira Ordem para também eles se reformarem no caminho de perfeição. Dentre os frades desde logo se afirmou um, que dava pelo nome de João de S. Matias, que depois mudou o nome para João da Cruz.

Num livro que deixou manuscrito, intitulado Livro das Fundações (escrito entre 1572 e 1582) Teresa narra a história das fundações de novas comunidades monásticas femininas, de orientação carmelita, fundações essas a que procedeu nas suas dinâmicas andanças, apesar de a saúde não ser das melhores, estimando-se que tenha percorrido, na maior parte dos percursos a pé, 6.000 quilómetros.

Depois do mosteiro de S. José de Ávila (1562) fundou o Convento Duruelo (1568) para frades contemplativos, e os Carmelos femininos de Medina del Campo (1567), Malagón e Valladolid (1568), Toledo e Pastrana (1569), Salamanca (1570), Alba de Tormes (1571). Segóvia (1574) e depois Sevilha, o seu projecto logo passando para outros países, incluindo Portugal. Em 1581, abriu o primeiro Convento de Frades (Convento de S. Filipe) e em 1584 o primeiro de monjas, (Mosteiro de Santo Alberto), ambos em Lisboa.

Enquanto a reforma teresiana crescia e dava novos frutos, Teresa, estando em Toledo, adoeceu gravemente e, apesar disso, ainda aceitou o cargo de Prioresa do primeiro mosteiro por ela fundado, S. José de Ávila onde concluiu o seu principal escrito, As Moradas. Em fins de Setembro de 1582, estando em Alba de Tormes (S. João da Cruz assistiu a esta fundação) recolheu ao leito e não mais se ergueu, finando-se no princípio da noite do dia 4 de Outubro de 1582. Nasceu nesse dia para o Céu como “filha da Igreja”, “ Serafina do Carmelo” e professa do Carmelo antigo, do qual se não desvinculou, muito embora em 1580 tivesse surgido a Ordem do Carmelo Descalço (O.C.D.), abrangendo as doutrinas de Santa Teresa e de S. João da Cruz, e bem assim as respectivas fundações.

Teresa de Jesus foi beatificada em (1614) pelo Papa Paulo V, canonizada (1622), pelo Papa Gregório XV e declarada Doutora da Igreja Universal (1970), pelo Papa Paulo VI. Festa litúrgica em 15 de Outubro.

 Pinharanda Gomes

Pensamentos de Santa Teresa de Jesus

  • Ó Senhor, experimento tanta alegria ao pensar que as minhas infidelidades fazem com que melhor se conheça a vossa misericórdia, que sinto suavizar-se a dor pelas graves ofensas que vos fiz.
  • A oração é onde o Senhor ilumina para entender as verdades.
  • Jamais creiais que adquiristes uma virtude, enquanto não a tiverdes provado com aquilo que lhe é contrário.
  • No nosso próximo, procuremos ver tão somente as virtudes e as boas obras e cubramos os seus defeitos considerando os nossos pecados.
  • Deus tem cuidado dos nossos interesses muito mais do que nós mesmos, sabendo o que convém a cada um.
  • O caminho da cruz é o que Deus reserva aos seus escolhidos: quanto mais os ama, mais os sobrecarrega de tribulações.
  • Existem almas tão simples que nada sabem sobre os costumes e os assuntos do mundo, mas que, no entanto, muito entendem das relações com Deus.
  • A coragem em sofrer muito ou sofrer pouco está sempre na proporção do amor.
  • Não há melhor meio para descobrir as insídias do demónio e obrigá-lo a dar-se a conhecer, do que o da oração.
  • Ó Senhor! Como os cristãos pouco vos conhecem!
  • Almejemos e pratiquemos a oração já não para desfrutar, mas para ter a força de servir ao Senhor.
  • A quantos tudo abandonam por amor de Deus, Ele se entrega totalmente.
  • Quem começa a servir verdadeiramente o Senhor, o mínimo que lhe pode oferecer é a própria vida.
  • Muitas vezes o Senhor permite uma queda a fim de manter a alma na mais profunda humildade. Se ela se arrepende e volta a Ele com sinceridade, mais progredirá, conforme sabemos de muitos santos.
  • Por mais profunda que seja, a verdadeira humildade nunca inquieta, nem agita, nem perturba a alma, mas a inunda de paz, de suavidade e de repouso.
  • Quem deveras ama a Deus, todo o bem ama, todo o bem quer, todo o bem favorece, todo o bem louva, com os bons se junta sempre e os favorece e defende; não ama senão verdades e coisa que seja digna de amar. Pensais que é possível, a quem mui deveras ama a Deus, amar vaidades, ou riquezas, ou coisas de deleites do mundo, ou honras, ou tenha contendas ou invejas? Não, que nem pode; e tudo, porque não pretende outra coisa senão contentar ao Amado.
  • Não há nada que se possa comparar com a grande beleza duma alma e com a sua imensa capacidade!
  • Jamais chegaremos a conhecer-nos, se juntos não procurarmos conhecer a Deus.
  • Só porque derramamos muitas lágrimas, não devemos pensar que já alcançamos a perfeição. Antes, pratiquemos muitas obras e exercitemos a virtude, pois estas são as coisas que mais convém para o nosso caso.
  • É um facto que, embora saibamos que estamos sempre na presença de Deus, muitas vezes negligenciamos em pensar nisso.
  • Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta.
  • A outros santos parece ter dado o Senhor graça para socorrer numa determinada necessidade. Ao glorioso São José tenho experiência de que socorre em todas.
  • A oração é um tratar de amizade, estando muitas vezes a sós com Quem sabemos que nos ama.

Caminhos Carmelitas

  • Perseverar na oração
    Embora Deus não atenda logo a sua necessidade ou pedido, nem por isso, (…) deixará de a socorrer no tempo oportuno, se não desanimar nem de pedir. São João da Cruz  
  • Correção fraterna
    Hoje o Evangelho fala-nos da correção fraterna (cf. Mt 18, 15-20), que é uma das expressões mais elevadas do amor, mas também uma das mais difíceis, porque não é fácil corrigir os outros.  Quando um...
  • O sacerdote
    Sou filha da Igreja. Oh! Quanto alegria me dão as orações do sacerdote! No sacerdote não vejo senão Deus. Não procuro a ciência do sacerdote, mas a virtude de Deus nele. Santa Maria de Jesus...
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    Esta presença viva e real de Jesus é a que deve animar, guiar e sustentar as pequenas comunidades dos seus seguidores. É Jesus quem há-de alentar a sua oração, as suas celebrações, projectos e...
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    «Negar-se a si mesmo» não significa de modo algum mortificar-se, castigar-se a si mesmo e, menos ainda, anular-se ou autodestruir-se. «Negar-se a si mesmo» é não viver pendente de si mesmo,...
  • A cruz de Jesus
    Se queremos esclarecer qual deve ser a atitude cristã, temos que entender bem em que consiste a cruz para o cristão, porque pode acontecer que a coloquemos onde Jesus nunca a colocou. Chamamos...

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