Solenidade de Todos os Santos - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Mateus (5,1-12)

Naquele tempo, 5,1ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-se. Os seus discípulos aproximaram-se dele 2e Ele, abrindo a boca, ensinava-os, dizendo: 3”Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. 4Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados 5Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os artífices da paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa justiça, porque deles é o reino dos Céus. 11Bem-aventurados sois, quando, por causa de mim, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. 12Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa. Pois foi assim que perseguiram os profetas que vieram antes de vós”.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • Mateus apresenta Jesus como o novo Moisés, o Filho de Deus, o único que conhece o Pai e, por isso, o único que sabe que o Pai realmente quer e que no-lo pode ensinar (11,27). E assim como a Lei tem cinco rolos, também Mateus reúne cinco discursos de Jesus, começando aqui o primeiro, o Sermão da Montanha (Mt 5-7).
  • v. 1(vv. 1-12: Lc 6,20-26). Ao dizer que Jesus “vê”, Mateus evoca Deus que “viu” a escravidão e conhece o sofrimento do seu povo (Ex 3,7). Anota também o alcance universal da obra e da mensagem de Jesus que se destina a todos, judeus ou não-judeus, “as multidões” (no plural: 9,36; cf. Lc 6,17). E assim como Moisés subiu por duas vezes o Sinai para receber a Lei e a dar ao seu povo (Ex 19,3;24,15.18; 34,4), também Jesus sobe “ao monte” a fim de nos dar a nova Lei. Aí “senta-se” para falar como a Sabedoria (Jo 6,3; Pv 9,14). “Os discípulos aproximaram-se dele”: Mateus alude a Moisés quando este desceu pela segunda vez do Sinai, trazendo as tábuas da Lei, e “todos os filhos de Israel se aproximaram e ele transmitiu-lhes todos os mandamentos que o Senhor lhe tinha dito no monte” (Ex 34,32).
  • O facto, porém, de Jesus ter subido ao monte com os discípulos e não sozinho (como Moisés, as duas vezes que subiu ao Sinai: Ex 19,12s; 34,3), evoca antes Moisés a subir ao Monte Nebo para daí contemplar a Terra prometida que Deus lhe mostra (Nm 27,12), depois de lhe anunciar que, após a sua morte, será Josué (gr. “Jesus”) a introduzir nela o seu povo, para lha dar como herança e aí o apascentar (Nm 27,15-23; Dt 31,7). Jesus é o Salvador enviado por Deus para libertar a humanidade do sofrimento da escravidão da morte, que mostra aos seus discípulos, logo no início, o Reino onde os introduzirá, após a sua morte e ressurreição, para aí os apascentar com a sua Palavra.
  • v. 2.Como a sabedoria (v. 1), Jesus “abre a boca” (Sr 24,2) e “ensina”, como rabbi (23,8), mas com autoridade (7,29), explicando o verdadeiro sentido da Palavra de Deus (22,16) e mostrando como praticá-la, de modo que todo o povo possa compreender (cf. Ne 8,8).
  • É com as bem-aventuranças, a mais sublime expressão da espiritualidade humana, que se abre o Sermão da Montanha. A “bem-aventurança” é uma felicitação que aparece nas exortações a uma vida sábia (Pv 3,13; 8,34; Sl 1,1), em ações de graças (Sl 32,1s; 33,9; 84,6.13) e nos anúncios proféticos da alegria messiânica futura, dada por Deus (Is 30,18; 32,20). São “oito”, o número da eternidade, rematadas por uma nona, que as recapitula (cf. Sr 25,7-10). Formam quatro pares, tocando uma mais o amor a Deus e a outra o amor ao próximo, rematadas pela última. Cada uma começa pela afirmação, seguindo-se uma promessa sinónima do Reino, o dom de Deus por excelência. As Bem-aventuranças são nove janelas através das quais já se vislumbra aqui na terra a meta: o Reino dos céus; são as portas que nele introduzem, as vias para nele avançar. Não há outro meio para entrar no Reino e nele caminhar, seguindo Jesus, senão identificando-se com alguma delas.
  • v. 3Bem-aventurados os pobres em espírito. Não são felizes os ricos, nem os pobres com mentalidade de ricos, mas os que, como Jesus, vivem pobres (8,18; Sf 3,12), acreditam nos pobres (11,25s) e neles veem os primeiros destinatários da Boa Nova (Lc 4,18). Pobres em espírito são os que reconhecem que nada é seu, mas tudo é dom de Deus (1Co 4,7; Tg 1,17) e que, por isso, nada reservam para si, sendo capazes de partilhar. São aqueles que, por livre escolha, deixam tudo, inclusive a si mesmos, para totalmente se darem a Deus e aos irmãos. Deles é o Reino dos céus (v. 10; 18,3s; 23,8-12; Mc 10,14; Lc 18,16s; Tg 2,5). O verbo está no presente, indicando que eles já entram no Reino aqui na terra.
  • v. 4Bem-aventurados os que choram. Os que “choram” são os que, sem casa para habitar e campos para cultivar, são obrigados a servir senhores sem escrúpulos, sofrendo prepotências e humilhações (Is 61,7). São os que choram com os que sofrem; os que choram o seu pecado e o pecado do seu povo, porque sabem que ele é a verdadeira causa da sua ruína (Is 22,4; Tb 13,14). “Porque serão consolados” (Sl 126,5s; Sr 48,24) por Deus (Is 51,12; 66,13; 2 Cor 1,3-7; 2Ts 2,16s), através de Cristo (Is 40,2; 61,1ss).
  • v. 5.Bem-aventurados os mansos. “Mansos” (Sl 37,11) são os que foram privados dos seus direitos e bens, e que, embora não se resignando, sofrem e suportam a injustiça, sem recorrer à violência. São os humildes que não se deixam levar pela ira, nem cultivam sentimentos de ódio ou de vingança (11,29; Nm 12,3). “Porque herdarão a terra” (Sl 37,22.29; 44,4; Is 57,13; 60,21; 61,7), não a terrena, prometida a Abraão e à sua descendência (Gn 15,7; Lv 20,24; dir-se-ia “possuirão”), mas a herança definitiva do Reino dos céus, para onde peregrinam como estrangeiros sobre a terra (Lv 25,23; 1Cor 6,9 s; Gl 5,21; Fl 3,20; Hb 11,13-16).
  • v. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Jesus não fala aqui da justiça humana, mas da justiça de Deus, isto é, da Sua vontade que tem o seu fundamento no amor a Ele e se traduz em relações fraternas de amor ao próximo. Deus não é justo porque retribui segundo os méritos, mas porque, com o seu amor, “torna justos” os maus. É justo porque não faz aceção de pessoas e “quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Para nós, a “justiça foi feita” quando o culpado foi punido e recebeu o castigo merecido; para Deus, a “justiça foi feita” quando o pecador se tornou justo, o pequeno foi ouvido, o necessitado ajudado; o oprimido libertado. A justiça de Deus é sempre vida e salvação. “Porque serão saciados” (Sl 4,8; 63,2.6; 107,8s; Is 41,17-20; 44,3; 49,9-10; 55,1-3; 66,11; Lc 1,53; Jo 6,35).
  • v. 7Bem-aventurados os misericordiosos. Misericordioso não é só o filantropo que distribui esmolas, mas o que imita a Deus, tendo entranhas de misericórdia para com aquele que sofre (Ex 34,6s). Na Bíblia, mais que um sentimento de compaixão, a misericórdia é uma ação em favor de quem necessita de ajuda (Ex 22,26; Sl 112,4; Lc 1,54.72). “Misericórdia” é ter um coração que vê a miséria do outro e age para diminuir a sua dor (Lc 10,29-37). Misericordioso é quem perdoa as ofensas, ama e faz o bem, mesmo aos inimigos (Lc 6,35-38). “Porque alcançarão misericórdia” (Tg 2,13; 1Pd 2,10; 1Tm 1,13.16; cf. Sl 37,26).
  • v. 8. Bem-aventurados os puros de coração. Puros de coração são os que agem com intenção reta e leal, sem maldade (15,17-20; 23,25s; Is 1,16.25), nem duplicidade ou segundas intenções, para enganar os outros, mas com simplicidade (Gn 20,5; Sl 24,4), procurando ter uma atitude e um comportamento em tudo conforme à vontade de Deus. É o que rejeita os ídolos (Ez 36,25), mesmo o próprio eu e o dinheiro, para amar a Deus de coração indiviso, não tendo dois senhores; é o que não julga ou guardando rancor ao outro (Rm 2,1ss), mas dá o que possuiu (Lc 11,41) e faz o bem, sem aceção de pessoas (Tt 1,15). “Porque verão a Deus” (Hb 12,14), ou seja, “verão”, nesta terra, o Reino de Deus (Jo 3,3) e o Seu amor em ação (1Jo 3,1ss; cf. Ex 34,6s).
  • v. 9. Bem-aventurados os artífices da paz. Na Bíblia, “paz” não é a mera ausência da guerra; é a plenitude de todos os bens prometidos por Deus: a harmonia com Ele, com os outros, consigo mesmo e com a criação. Implica a justiça, a boa convivência entre as pessoas e as nações; a casa, o trabalho, a educação, a saúde, a prosperidade, a alegria de estar juntos. “Artífice da paz” é o que se empenha para que isto seja cada vez mais possível para cada pessoa. “Bem-aventurado” é o que o faz sem recorrer à opressão ou à violência; o que promove o diálogo, o entendimento e a reconciliação; que perdoa de coração e faz o bem a quem lhe fez mal; o que não busca o próprio interesse, mas o bem, a concórdia e a união fraternas (Ef 4,3). “Porque serão chamados filhos de Deus”, porque imitam Cristo, nossa paz (Mq 5,4; Is 9,6; Ef 2,14).
  • v. 11: Lc 6,22. Jesus acrescenta uma última bem-aventurança, a nona, que é o desdobramento da anterior e a síntese de todas as outras. Nela, Jesus passa da terceira pessoa, para a segunda pessoa do plural, dirigindo-se apenas aos discípulos, advertindo-os que serão odiados, rejeitados e sofrerão perseguições (10,22s; 23,34; 24,9; Mc 10,30; 13,13; 21,12.16s; Lc 11,49; Jo 15,20; At 9,16; 14,22; 2Tm 3,12; cf. Mt 13,21). Num mundo construído e organizado a partir do egoísmo, do poder, dos interesses pessoais ou de grupos, aqueles que desejam viver de verdade o amor desinteressado do Pai, serão insultados, perseguidos, ridicularizados, difamados (Is 51,7; At 8,1; 13,50; Rm 8,35; 2Cor 4,9), podendo mesmo chegar a pagar com a própria vida o seu empenho.
  • v. 12: Lc 6,23. A perseguição não é, porém, para Jesus, sinal de desaire, mas de sucesso, sendo mesmo um motivo de alegria desde já (1Pd 3,14; Ap 19,7; cf. At 5,41; 2Cor 12,10; Fl 1,29; Cl 1,24; Hb 10,34; Tg 1,2) porque mostra que se fez a escolha certa, aquela que está do lado de Deus, identificando-se com Jesus. Os seus discípulos serão como os profetas que, apesar de perseguidos (At 7,52; Hb 11,33-38; Tg 5,10s), serviram a Deus de forma desinteressada, não à espera de uma recompensa pessoal, mas apenas por amor a Ele e ao Seu povo, confiando sempre nele, sem nada mais querer do que a glória de Deus e a salvação dos homens. A sua recompensa é grande (Gn 15,1; 2Cor 4,17; Hb 10,35; cf. Sr 2,8), porque é o próprio Deus (cf. Is 62,11; 49,4).  

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • É possível ser pobre e feliz ao mesmo tempo? Que tipo de felicidade buscam as pessoas do nosso tempo?
  • Procure recordar os momentos em que se sentiu feliz na sua vida. A sua visão de felicidade é a mesma de Jesus? Como alcançá-la?
  • Com que bem-aventurança se identifica mais? E menos?
  • Como viveu Jesus as bem-aventuranças? Como as vivo eu no meu dia-a-dia? De que maneira Maria me pode inspirar? 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                            Sl 24, 1-6 (R. cf. 6)

Refrão:        Esta é a geração dos que procuram a vossa face, Senhor. 

Do Senhor é a terra e o que nela existe,
o mundo e quantos nele habitam.
Ele a fundou sobre os mares
e a consolidou sobre as águas.      R.

Quem poderá subir à montanha do Senhor?
Quem habitará no seu santuário?
O que tem as mãos inocentes e o coração puro,
o que não invocou o seu nome em vão.      R.

Este será abençoado pelo Senhor
e recompensado por Deus, seu Salvador.
Esta é a geração dos que O procuram,
que procuram a face de Deus.      R.

Pai-nosso… 

Oração conclusiva 

Deus todo-poderoso e eterno, que nos concedeis a graça de honrar numa única solenidade os méritos de todos os vossos santos, dignai-Vos derramar sobre nós, em atenção a tão numerosos intercessores, a desejada abundância da vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc