A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. João (14,23-29)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 14,23«Se alguém me ama, guardará a minha palavra, o meu Pai o amará, Nós viremos a ele e junto dele faremos mansão. 24Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. Ora, a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou. 25Tenho-vos dito estas coisas, enquanto permaneço junto de vós. 26Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse. 27Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração. 28Ouvistes o que Eu vos disse: vou, mas venho para vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis porque vou para o Pai, porque o Pai é maior que Eu. 29Disse-vos agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- Continuamos a escutar o “testamento” de Jesus na Última Ceia. Hoje Ele anuncia o seu novo modo de permanecer entre os seus após a sua partida. O texto tem duas partes, de cariz trinitário: a) promessa da vinda do Pai com Jesus a quem que O ama (vv. 23s); b) anúncio da partida de Jesus para o Pai e promessa da vinda do Espírito Santo (vv. 25-29).
- v. 23: cf. 14,15.21 “Amar” (gr. agapáô) a Jesus não é um mero sentimento, mas consiste em “guardar a sua Palavra” (cf. 1Jo 3,18; Dt 12,28; 32,46s; 2Rs 23,3; 2Cr 34,31; Pv 7,1s; 1Sm 20,17.23).
- O verbo está no conjuntivo porque para “amar” a Jesus é preciso ter nascido de Deus (v. 28; 21,15s; 1,13; 3,3-7; 1Jo 4,7; 5,1; cf. Jr 31,33s; Dt 30,6; Ez 11,19s; 36,26s). “Guardar” (gr. têreô: “prestar atenção”, “conservar”, “lembrar-se”, “ser fiel”) é seguir, obedecer, pôr em prática a sua Palavra (cf. Pv 3,1; Lc 11,28).
- O verbo está no futuro porque é na vida, por obras, que se prova o amor. “Palavra” (gr. lógos; he. dabar, “pessoa”, “coisa”, “acontecimento”) está no singular porque: a) é sinónimo de Evangelho (Mc 2,2; 4,14.33; At 1,1; 8,4; 10,36; Gl 6,6); b) é o próprio Jesus, o Verbo de Deus encarnado (1,1.14); c) tal como os Dez Mandamentos, “as Dez palavras” (Ex 34,28), tudo o que Jesus é, disse e faz pode-se resumir numa só palavra: amar (13,1; 15,9; 17,26; 1Jo 4,8.16).
- Tal como a Palavra de Jesus é uma só, também “o seu mandamento” é um só: quem O amar, “guardará a sua palavra” (8,51; 17,6), os seus mandamentos (vv. 15.21; 1Jo 3,23; 5,3; Dt 10,12; 11,13), ou seja, o mandamento novo do amor (13,34s; 15,15,12ss.17; 1Jo 2,7-10; 3,11; 4,21; 2Jo 5).
- Quem o amar, verá cumprir-se nele, já aqui, na terra, a principal promessa do AT (e tema fundamental de João): “porei neles a minha habitação” (Ez 37,26s; Lv 26,11s; 2 Cor 6,16; cf. Ex 29,45; Zc 2, 14s; Ef 3,17; Ap 3,20; 21,3). A separação física de Jesus dará lugar à íntima união do discípulo com Ele: o Pai e Jesus (que são um: 10,30) “virão a ele e nele farão a sua mansão” (v. 2, gr. mónê: “demora”, “lugar de descanso”, “morada permanente”; na Bíblia, só aqui e em 1Mac 7,38), admitindo-o a participar na sua vida divina e manifestando-se a ele com divina familiaridade (v. 21).
- v. 24. Quem não o ama, não aceita a sua Palavra, não a compreende, nem a põe em prática (8,37.43.47; cf. 1Cr 10,13), e separa-se dele (6,60.66; 13,30). Sendo a palavra de Jesus “do Pai que O enviou” (3,34; 12,49s; cf. 7,16; 8,26.28.38; 14,10; 17,7s), esse também não se abre ao Pai, rejeitando o seu mandamento e o seu dom: a vida eterna (12,50; 17,3).
- v. 25. “Disse estas coisas” (16,4.25.33): Jesus é o mensageiro (2Rs 1,7), “o enviado de Deus que fala as palavras de Deus” (3,34), “não do alto” (Ex 20,22), mas “permanecendo” entre nós. Ele é, pois, o Messias prometido (1,25; Dt 18,18). Mas a sua presença física na terra está a terminar.
- v. 26. Jesus anuncia que a sua “permanência” visível entre nós acabará e será substituída pela vinda do Espírito, que Ele promete (vv. 15ss) e que inaugurará o tempo da Igreja (At 15,28). O Espírito é o “Paráclito”.
- O termo “paráclito” (gr. “chamado para estar ao pé”) é um termo jurídico grego que só aparece em João (v. 16; 15,26; 16,7; 1Jo 2,1). Na literatura rabínica era sinónimo de “advogado de defesa”, “intercessor” (cf. Rm 8,26s). O termo podia ser aplicado a anjos (Tg Yer 33,23; jQid 1,61d,32); aos sacrifícios (jBer 4,7b,28; Pesiq 191), à prática dos mandamentos (mAb 4,11), à penitência e à prática das boas obras (mSchab 32a); em especial à esmola e às obras de caridade (TPea 4, 21, 24). Também era aplicado a homens (TG Yer 16,20), sobretudo a Moisés (PesiqR 10,38b; ExR 18,80b). Neste caso o Paráclito era uma pessoa sábia, verdadeira, íntegra, de grande prestígio e autoridade, cuja palavra fazia fé. No tribunal, punha-se ao lado de quem era injustamente acusado, ajudava-o, falava em seu nome, exponha a sua causa, defendia-o e intercedia por ele, garantindo que esta causa era ganha e que os direitos e interesses daquele que ele defendia eram salvaguardados.
- O nome “Espírito Santo” vem do AT (5x: Sl 51,13; Is 63,10s; Sb 1,5; 9,17; cf. Sb 7,22). Tal como Jesus, o Espírito Santo é uma Pessoa divina, viva e dinâmica (v. 16: “outro Paráclito”), que será enviado pelo Pai “em nome” de Jesus (14,13s; 15,16; 16,23s.26). A sua missão será a de levar a obra de Jesus (“dar vida eterna”: 6,40; 12,50; 17,2s) até ao fim, garantindo que a sua causa não esmoreça, seja esquecida, truncada ou posta de lado (Is 42,1-9).
- O Espírito Santo: 1) “ensinará” (didásko, “mostrar indicando”, “apontar por sinais”: 6,45; 1Jo 2, 20.27; Lc 12,12p; 1Cor 2,13) e 2) “recordará” “tudo” (gr. pánta, “todas as coisas e todos”) aos discípulos, dando-lhes a “conhecer” – ou seja, realizando neles e fazendo-lhes compreender –, após a ressurreição de Jesus, o real significado e alcance de tudo o que Jesus é, disse e fez, bem como a nova ordem de coisas nele inaugurada (2,22; 12,16; 13,7; 16,4.13). Para isso, tornará Jesus presente neles, ajudando-os a levar a cabo a sua obra e missão neste mundo, mostrando-lhes o caminho a seguir e ensinando-os a encarnar, viver, anunciar e testemunhar o Evangelho em toda a parte.
- v. 27. Fruto do dom do Espírito nos tempos messiânicos é a paz. Enquanto Messias, Jesus: 1) “deixa-lhes a paz”. “Paz” (shalom) é a saudação tradicional dos semitas. No AT, não designa apenas a ausência de guerra, mas compreende a totalidade dos bens prometidos por Deus (saúde, harmonia familiar, justiça, trabalho, educação, etc.), a felicidade perfeita e a salvação trazidas pelo Messias, Messias que é a paz (Mq 5,4), paz que Jesus realiza e deixa aos discípulos como dom, herança, tarefa e programa a cumprir.
- 2) Ao mesmo tempo Jesus vai mais longe: “dá-lhes a sua paz” (Ag 2,9; cf. Rm 5,1; Cl 3,15; 2Ts 3,16), a paz messiânica, definitiva que Ele conquistou, derrotando Satanás, o pecado e a morte, e que, ressuscitando (20,19.21.26), levou à sua plenitude, paz que jorra da sua comunhão com o Pai e à qual temos acesso por meio dele (Ef 2,14s.17), graças ao Espírito Santo, inaugurando-se assim nele a nova era da salvação e reconciliação universais (Is 9,5s; 11,1-9; 52,7; 53,5; 54,13; Mq 5,4; Sl 72,7; 85,9.11).
- Jesus, porém, é realista. Não dá a paz “como o mundo”: de forma condicionada, temporária e interesseira, enganando com falsas promessas, impondo-a à força, recorrendo a armas, com opressão e violência. Jesus dá a paz definitiva, plena e verdadeira, sem medida, de forma gratuita, a quem nele crê. Mas dá-a sem isentar os seus de dificuldades e tribulações. Por isso, os exorta a não se perturbarem (v. 1), nem intimidarem (2Tm 1,7).
- São duas coisas diferentes: a “perturbação” nasce do temor, provém de dentro, do próprio “coração” (12,27); a “intimidação” é um temor incutido por algo ou por alguém a partir de fora (Dt 31,6.8; Js 1,9; 8,1; 10,25; Sl 27,1; Sr 34,14). Mesmo no meio das provações (2Cor 7,5), nada nem ninguém lhes poderá tirar a paz que Jesus lhes dá para que possam levar, com fé e confiança, a sua missão até ao fim (16,33).
- v. 28. A partida física de Jesus deste mundo será seguida da sua vinda aos discípulos (v. 3; 16,16s.19). Embora dolorosa, a sua partida será motivo de alegria escatológica para eles (16,20.22; 20,20), fruto do amor novo (15,11; Gl 5,22) que o Espírito lhes dará (Rm 5,5), regenerando-os e fazendo-os participar da vida plena e definitiva que Jesus lhes alcançará “indo para o Pai” (16,28; cf. v. 12; 7,33; 13,1; 16,5.10.17; 20,17).
- O Pai é “maior” que Jesus, não enquanto Deus, mas porque: a) é pelo Pai que Ele, o Filho, é gerado, e o Espírito Santo procede desde toda a eternidade; b) é por Ele que ambos são enviados (1,1.14; 8,26. 28; 10,29. 32; 14,10.24; 16,28); c) é pelo Pai que Jesus será glorificado, enquanto homem, na ressurreição (12,28; 17,1.5); d) a comunhão com o Pai é a meta e a plenitude da vida cristã (17,1ss.24; 1Jo 1,1ss).
- v. 29: 13,19. Jesus diz isto “antes de acontecer”, para que, quando acontecer, acreditem que Ele é Deus, que faz o que diz (Is 41,23; 42,9; 43,9s; 44,7s; 46,9ss; 48,5s) . A Palavra de Jesus cumpre-se sempre e em toda a parte (Mt 24,35p). Ela destina-se a suscitar a fé, que vem pelo ouvido (Rm 10,17; Gl 3,2.5), para que os que nele creem possam ver realizar-se na própria vida tudo o que Ele disse e fez para a salvação do homem (1,12s; Lc 1,45) e assim, crendo, tenham a vida eterna (3,16; 20,31).
Ler o texto a segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha
e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?
- Amo Jesus? Tenho percorrido o seu caminho? Como?
- Estou atento à voz, sinais e apelos do Espírito Santo na minha vida e no mundo de hoje? Estou pronto e disponível para lhes corresponder?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 67,2-3.5-6.8 (R. 4)
Refrão: Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.
Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção,
resplandeça sobre nós a luz do seu rosto.
Na terra se conhecerão os vossos caminhos
e entre os povos a vossa salvação. R.
Alegrem-se e exultem as nações,
porque julgais os povos com justiça
e governais as nações sobre a terra. R.
Os povos Vos louvem, ó Deus,
todos os povos Vos louvem.
Deus nos dê a sua bênção
e chegue o seu louvor aos confins da terra. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Deus todo-poderoso, concedei-nos a graça de viver dignamente estes dias de alegria em honra de Cristo ressuscitado, de modo que a nossa vida corresponda sempre aos mistérios que celebramos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc