Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. João (20,19-23)
20,19Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se de pé no meio e diz-lhes: «A paz esteja convosco». 20Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos alegraram-se ao verem o Senhor. 21Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós». 22Dito isto, soprou e diz-lhes: «Recebei o Espírito Santo: 23àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, serão retidos».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- O texto de hoje narra a primeira aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos. Já o lemos na oitava de Páscoa, mas repete-se hoje, dia de Pentecostes, termo das festas pascais, para sublinhar que: a) a Páscoa cristã não é uma data, mas um acontecimento, sendo o Tempo pascal um só dia (S. Atanásio, fest. 1: IGMR, NGALC, 22), “o dia que o Senhor fez” e que jamais terá ocaso (S. Agostinho, Serm. 258,1; 254,8; cf. Sl 118,24), dia esse que é Jesus Cristo, nossa Páscoa (1Cor 5,7); b) o Pentecostes é a meta, a realização da Páscoa. Para os judeus, o 16 de nisan (o dia a seguir ao primeiro dia dos Ázimos, ou seja, o dia a seguir à Páscoa: cf. Ex 12,8), é o Dia das Primícias (Yom HaBikkurim: Lv 23,9-12), que, naquele ano, coincidiu com o primeiro dia da semana (cf. 1Cor 15,20), o Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor. Nesse dia, começa o ‘omer (Lv 23,10: “feixe”), a contagem decrescente (de 49 a 1) dos dias que faltam até ao Pentecostes, para mostrar que o Pentecostes é a meta e a realização da Páscoa; 3) é através do Espírito Santo que Cristo ressuscitado se torna presente e atuante na sua Igreja.
- «Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se de pé no meio e diz-lhes: “A paz esteja convosco”».
- v. 19 (vv. 19-23: Mc 14,14-18; Lc 24,36-43). O “primeiro dia da semana” evoca o início da criação (Gn 1,3ss). Cristo ressuscitado é as primícias (1Cor 15,23), o princípio da nova criação. Inseguros e desamparados, os apóstolos tinham-se trancado, com “medo dos judeus” (9,22), no Cenáculo, a uns 50 m do palácio de Caifás (18,24).
- Ressuscitado, “veio Jesus” (Ap 5,6s) ter com eles para com eles ficar para sempre (14,18s). “Pôs-se de pé” (v. 26; 21,4; Lc 24,36; cf. Lc 6,8; Nm 17,13), ressuscitado, vitorioso. “No meio” (v. 26): Jesus apresenta-se como já estando ali (cf. v. 27). O seu corpo, ressuscitado, está glorificado, pneumatizado (cf. 1Cor 15,42-49), não estando mais sujeito às leis do tempo e do espaço, mas muito acima delas, englobando todos os tempos e todo o universo. Por isso, Jesus não atravessa paredes, mas apenas se revela como aquele-que-é-e-que-ali-está com eles: “Eis que eu estou convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,20). “No meio” não tem determinativo: na comunidade cristã, Jesus ocupa o lugar central; Ele é o Mediador (1Tm 2,5; Hb 8,6), o centro de comunhão, o fator de união, o ponto de referência, de convergência e de irradiação dos discípulos.
- Jesus saúda-os com a fórmula tradicional: “Paz convosco” (he. shalôm alechem, 3x: vv. 21.26; Gn 43,23; Sl 122,8; Tb 12,17; Jr 4,10; Dn 3,31; 1Pd 5,14). De mero augúrio, a saudação converte-se no dom efetivo da paz que Jesus tinha prometido e anunciado (14,27), a paz messiânica, definitiva, plenitude dos bens prometidos por Deus (Sl 85,9.11; 122,6; Mq 5,5; Is 9,7; 26,12; 32,17; 52,7; 66,12), que agora, na sua humanidade glorificada, alcançou e dá através do Espírito Santo (Is 53,5; 2Ts 3,16; Rm 5,1; Cl 1,20; Gl 5,22; Ef 2,14ss).
- «Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos alegraram-se ao verem o Senhor».
- v. 20. Só depois de ter falado, é que Jesus se dá a conhecer. De facto, o encontro com o Ressuscitado só é possível na fé, a qual nasce da escuta da Palavra (Rm 10,17; Gl 3,2.5). Por isso, é só depois de terem escutado Jesus e acreditado nele que os seus discípulos o veem (v. 16; cf. 1,50).
- Jesus, porém, não se deixa ver totalmente (é impossível abarcar o Ressuscitado!), mas mostra apenas os “sinais” de que é Ele, o Crucificado, que está ali, vivo: as mãos perfuradas pelos cravos, sinal da sua obra (v. 25; Lc 24,40); e o lado traspassado pela lança, manifestação do seu amor. Só João refere a chaga do lado (19,34). Ao apresentar as chagas como sinal distintivo da sua nova condição de ressuscitado (Ap 5,6), Jesus sublinha a realidade da sua ressurreição corporal e a eficácia perene da sua morte na cruz.
- Os discípulos “alegram-se ao verem o Senhor” (v. 18). É a alegria escatológica, imperecedoura, anunciada pelos profetas (Is 66,10-14; Jr 31, 10‑14; 38,14; Sf 3,14s; Zc 10,7), prometida por Jesus (16,20.22) e agora por Ele conferida, alegria esta que brota da comunhão com Ele ressuscitado e, nele, da comunhão com o Pai e com os irmãos (14,28; 15,11; 17,13; 1Jo 1,4; Gl 5,22). “O Senhor”: as aparições de Jesus ressuscitado são teofanias (“manifestações divinas”: 21,1) em que Ele Se revela, não apenas como ressuscitado na sua humanidade glorificada, mas também como Deus, “o Senhor” (gr. Kyriós, he. Adonai, o título divino reservado no AT para evitar pronunciar o nome sagrado Iahveh: vv. 18.28; 1Cor 12, 3; Fl 2,11).
- «Jesus disse-lhes de novo: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós”».
- v. 21: 17,18. Jesus repete a saudação do v. 19, confirmando o dom que faz. João junta num só dia (o Dia que Jesus ressuscitado é), a comunicação dos dons messiânicos da nova aliança. Por isso, é só após o encontro com o Ressuscitado que os apóstolos são “enviados” (gr. apostellô; e, neles, a Igreja) como continuadores da sua missão, a missão que o Pai lhe deu, para que a levem a cabo como Ele o fez: com o dom do Espírito Santo (v. 22; 1,32s; 15,26s).
- «Dito isto, soprou e diz-lhes: “Recebei o Espírito Santo”».
- v. 22. João compendia os dons de Cristo ressuscitado num único dom, o dom messiânico por excelência: o Espírito Santo (7,39). João realça assim a unidade das Pessoas divinas e da Sua ação (4,24; 10,30; 17,11.21s), fonte da unidade da Igreja. Como sempre o dom do Espírito Santo é acompanhado pelo símbolo que exprime a sua ação, neste caso o sopro. Jesus “sopra” (gr. emfusaô). Este verbo evoca: a) Gn 2,7; Sb 15,11, a criação do homem por Deus: o Espírito dá a vida, faz viver o homem; b) Ez 37,9; 1Rs 17,21 LXX, o dom de uma vida nova, dada por Deus, mediante o Espírito, aos mortos. Jesus dá o Espírito à comunidade dos discípulos, que estava como que morta.
- O termo “espírito” em hebraico (ruah) e em grego (pneuma) designa também o “sopro” e o “vento”. “O Espírito Santo” (nome que no AT só aparece em em Sl 51,13; Is 63,10.11; Sb 1,6; 9,17; 7,22) é o princípio de vida que Deus infunde no homem (Jb 7,7; Sl 144,4; Sb 15,11), neste caso, princípio de vida nova, através do qual Deus comunica com ele (At 1,2), age no mundo e manifesta o seu poder, levando a cabo a sua obra criadora (Gn 1,2), vivificante (Jb 33,4) e regeneradora (3,5-8). Para o receber, há que esvaziar-se de si mesmo, aceitar Jesus como o Senhor e aspirar dele em oração o dom do Espírito Santo, em íntima comunhão de fé e amor com Ele.
- Não se trata, porém, já do dom pleno do Espírito, pois o verbo “soprar” não tem complemento (cf. Sb 15,11; 1Rs 17,21). Jesus ressuscitado (7,30), comunica a vida que alcançou, legando o Espírito Santo como princípio de vida nova à Igreja, por Ele gerada na cruz (cf. 19,30), Igreja aqui representada por estes dez discípulos. De facto, dos “Doze” (6,67.70s), faltam Tomé, que está ausente (v. 24), e Judas Iscariotes, que se matou (Mt 27,5; At 1,15ss). No AT, “dez” simboliza a totalidade, sendo o número mínimo de adultos necessário para que a sinagoga se possa reunir para o culto (o minyan: Gn 18,32; Nm 13,2.26; 14,6.27; bMeg 23b; jMeg 4,4). Jesus comunica o Espírito Santo, como fonte de vida nova, ao “povo que vai nascer” (Sl 22,31), indicando que a Igreja sucederá à sinagoga como novo Povo de Deus. Ele fá-lo já, a fim de preparar os discípulos, aos poucos (cf. At 1,2), para receber o Espírito Santo em plenitude, que assim lhes será concedido no dia de Pentecostes, ao infundir-se pessoalmente no íntimo de cada crente (1,33; Ez 36,27), fazendo assim nascer (“vir à luz”) a Igreja.
- «”Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, serão retidos”».
- v. 23: Mt 18,18. Pelo Espírito Santo Jesus comunica à Igreja, na pessoa destes Dez: a) a missão e b) o poder que o Pai lhe deu. a) Tal como na pregação de João Batista (1,29-34), a missão de Jesus é resumida no dom messiânico por excelência, o Espírito Santo (Lc 24,47; Jr 31,33s; 33,8s; Ez 36,22-29; At 2,38; 5,31; 10,43; 13,38s; 26,18), que sela o dom da nova Aliança, resumido na “remissão dos pecados” (Mt 26,28). A remissão dos pecados é dada pelo Espírito Santo infundido como dom, pois é Ele que restabelece a comunhão do homem com Deus e com os outros, que o pecado rompera. b) O poder divino (gr. exousía) de perdoar os pecados é conferido por Cristo à sua Igreja, na pessoa dos apóstolos (cf. Mt 9,6ss; 18,18), para que esta continue a sua missão, levando a Sua salvação a todos os homens por Ele resgatados pelo seu Sangue, derramado na sua paixão e morte de cruz (cf. Ef 1,7; Cl 1,14.20; 1Pd 1,18s; 1Jo 1,7; Ap 5,9).
Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
- Jesus é a fonte e o centro da minha vida, o meu modelo e projeto, o meu ponto de referência, aquele com quem me identifico?
- Sinto necessidade da presença e da ação do Espírito Santo? Invoco-o, peço a sua vinda? Entrego-lhe a direção e a condução da minha vida? Confio na sua ajuda? Escuto e obedeço à sua voz?
- Que testemunho dou/damos aos outros de Jesus: de vida nova, união, paz, reconciliação e cooperação? Sou/somos testemunhas e instrumentos do seu amor e do seu perdão neste mundo?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 104,1ab.24ac.29bc-31.34 (R. 30)
Refrão: Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a terra.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
A terra está cheia das vossas criaturas. R.
Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se enviais o vosso Espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra. R.
Glória a Deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Senhor, nosso Deus, que no mistério de Pentecostes santificais a Igreja dispersa entre todos os povos e nações, derramai sobre a terra os dons do Espírito Santo, de modo que também hoje se renovem nos corações dos fiéis os prodígios realizados nos primórdios da pregação do Evangelho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc