XXVII Domingo do Tempo Comum - Ano C

27º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

2 de Outubro de 2016

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas (Lc 17, 5-10)

5Naquele tempo os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé.» 6O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: 'Arranca-te daí e planta-te no mar', e ela havia de obedecer-vos.»

7«Qual de vós, tendo um servo a lavrar ou a apascentar gado, lhe dirá, quando ele regressar do campo: 'Vem cá depressa e senta-te à mesa'? 8Não lhe dirá antes: 'Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, enquanto eu como e bebo; depois, comerás e beberás tu'? 9Deve estar grato ao servo por ter feito o que lhe mandou? 10Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: 'Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer.'»

Mensagem

Lucas reúne nos primeiros dez versículos deste capítulo diversos dizeres de Jesus sobre algumas atitudes fundamentais para a vida de quem quer segui-Lo pelo caminho do discipulado. Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes: vv. 5-7 e vv. 8-10.

A primeira parte trata da questão da fé inabalável, que deve ser característica do discípulo. Inicia-se o diálogo com os apóstolos expressando diante de Jesus a sua insegurança quanto à sua própria fé: “Os apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé!»” (v. 5).

É a experiência de todo(a) discípulo(a). Acreditamos em Jesus, queremos seguir a sua pessoa e o seu projecto, mas a vida encarrega-se de nos demonstrar como é fraca a nossa fé: quantas caídas, traições, incoerências, recaídas! O único recurso é pedir este dom gratuito de Deus, que ninguém pode merecer, que é a fé inabalável. Do fundo do nosso ser gritamos com os Doze: “Aumenta a nossa fé!”

Com a hipérbole (exagero) típica do oriental, Jesus realça tanto a necessidade da fé quanto a sua força, através das imagens do grão de mostarda (semente bem pequena), e da amoreira (árvore mais ou menos grande): “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: 'Arranca-te daí e planta-te no mar', e ela havia de obedecer-vos” (v. 6).

Na segunda parte do nosso texto (vers. 7-10), Lucas descreve a atitude que o homem deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Torah para alcançar a salvação: se o homem cumprisse as regras, Deus não teria outro remédio senão salvá-lo. A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um contabilista, empenhado em fazer contas para ver se o homem tinha ou não direito à salvação.

Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo – desse discípulo que adere a Jesus e ao “Reino”, que faz as “obras do Reino” e que constrói o “Reino” – frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe competia. O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo. E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer-Lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos.

Orar a partir da dúvida

No crente podem surgir dúvidas sobre um ou outro ponto da mensagem cristã. A pessoa pergunta-se como deve entender uma determinada afirmação bíblica ou um aspecto concreto do dogma cristão. São questões que estão a pedir um maior e melhor esclarecimento.

Porém, há pessoas que experimentam uma dúvida mais radical, que afecta a totalidade. De um lado, sentem que não podem ou não devem abandonar a sua religião, porém, por outro lado, não são capazes de pronunciar, com sinceridade, esse “sim” total que implica a fé.

Aquele que se encontra neste estado costuma experimentar, geralmente, um mal-estar interior que lhe impede de abordar a sua situação de modo pacífico e sereno. Pode sentir-se, também, culpado. O que me aconteceu para eu chegar a isto? Que posso fazer nestes momentos? Talvez, a primeira atitude, seja abordar de modo positivo esta situação diante de Deus. 

A dúvida faz-nos experimentar que não somos capazes de “possuir” a verdade. Nenhum ser humano “possui” a verdade última de Deus. Aqui não servem as certezas que usamos noutras dimensões da vida. Diante do mistério último da existência, temos de caminhar com humildade e sinceridade.

A dúvida, por outro lado, testa a minha liberdade. Ninguém pode responder em meu lugar. Sou eu que me encontro enfrentando a minha própria liberdade e sou eu que tenho de pronunciar um “sim” ou um “não”.

Por isso, a dúvida pode ser a melhor alavanca para nos despertar de uma fé infantil e superar um cristianismo convencional. Em primeiro lugar, não se trata de encontrar respostas às minhas interrogações concretas, mas perguntar-me que orientação quero dar à minha vida. Desejo, realmente, encontrar a verdade? Estou disposto a deixar-me interpelar pela verdade do Evangelho? Prefiro viver sem buscar verdade alguma?

A fé brota do coração sincero que se detém a escutar Deus. O importante é ver se o nosso coração procura Deus ou o evita. Apesar de todo o tipo de interrogações e incertezas, se procuramos Deus, de verdade, sempre podemos dizer a partir do fundo do nosso coração a oração dos discípulos: “Senhor, aumenta-nos a fé”. Aquele que reza assim, já é crente!

Palavra para o caminho

Conta o Papa: “Numa das saídas que tive, aqui em Roma, por ocasião de uma Missa, aproximou-se um senhor, relativamente jovem, e disse-me: «Padre, prazer em conhecê-lo; mas eu não acredito em nada! Não tenho o dom da fé! Que me recomenda o senhor?» «Não desanimes! Deus ama-te. Deixa-te olhar por Ele. E basta»”.