Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (10,25-37)
Naquele tempo, 10,25levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para o pôr à prova: «Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?». 26Disse-lhe Ele: «Que está escrito na Lei? Como a lês?». 27Ele, respondendo, disse: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e o teu próximo como a ti mesmo». 28Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás». 29Mas ele, querendo justificar-se, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?». 30Retorquindo, Jesus disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, que, depois de o despirem e espancarem, se foram embora, deixando-o meio-morto. 31Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou pelo outro lado. 32De igual modo, passou também por aquele lugar um levita que, ao vê-lo, passou pelo outro lado. 33Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão. 34E, aproximando-se dele, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. 35No dia seguinte, tirou dois denários, deu-os ao estalajadeiro e disse: ‘Cuida dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar. 36Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?». 37Ele disse: «O que usou de misericórdia para com ele». Disse-lhe Jesus: «Vai e faz tu o mesmo».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- O presente texto situa-se na secção lucana da “subida de Jesus para Jerusalém” (9,51-19,57), durante a qual Ele prepara os seus discípulos para serem testemunhas do Reino após a sua partida deste mundo.
- 25: Levantou-se um doutor da lei e perguntou a Jesus para o pôr à prova: «Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?»
- ( 25-28: Mt 22,35-40; Mc 12,28-31). O presente texto começa com a pergunta de um doutor da lei (gr. nomikós), que, surgindo inesperadamente, se levanta e interroga Jesus, “para o pôr à prova” (4,12; Dt 8,2.16): “Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?” (18,18). A vida eterna, para os judeus, é a vida do mundo futuro (Ab 4,16), inaugurada pela ressurreição dos mortos (Dn 12,2); para Jesus, é a vida de Deus, ou seja, o próprio Deus.
- 26: Disse-lhe Ele: «Que está escrito na Lei? Como a lês?»
- Jesus, à boa maneira dos rabinos, contrapõe-lhe outra pergunta, neste caso uma dupla pergunta: “O que está escrito na Lei?”, ou seja, na Torá (os 5 primeiros livros da Bíblia), na Palavra de Deus. Não na Halacá (“o caminho”), a tradição oral judaica, opinião dos homens. Só a Palavra de Deus pode ser o fundamento da vida do homem (Dt 8,3). Depois, pergunta-lhe “Como a lês?”. Cada rabino dava a sua própria interpretação da Torá e da forma como dizia que havia de ser posta em prática (cf. At 22,3; 26,5). Não basta ler a Palavra de Deus: é preciso entendê-la e pô-la em prática.
- 27: Ele, respondendo, disse: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e o teu próximo como a ti mesmo».
- O doutor da lei responde certeiro, citando o texto de Dt 6,5: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força», com uma adição de Js 22,5, tirada dos LXX (os Setenta, a tradução grega do AT): «e com todo o teu entendimento», ambos relativas ao amor a Deus, e com Lv 19,18: «e o teu próximo como a ti mesmo», relativo ao amor ao próximo. “Amarás”: o futuro do indicativo do verbo “amar” (gr. agapáô) rege os dois mandamentos: o do amor a Deus e o do amor ao próximo. Trata-se, pois, dum duplo mandamento, o de amar. É a prática deste duplo mandamento que leva à “vida eterna”.
- Deus deve ser amado e posto acima de tudo, em primeiro lugar, como origem, fundamento e meta do próprio ser e vida. a) “De todo o coração”. O “coração” é a pessoa no seu íntimo. O amor a Deus deve ser total, pessoal, completo. b) “De toda a alma”. A “alma” é a vida. O amor a Deus deve abarcar toda a vida e existência pessoais, informá-la e expressar-se nela, traduzindo-se numa entrega incondicional a Deus. c) “com toda a tua força”: pondo todos os seus bens, dons e capacidades ao serviço de Deus. A Mishná explica-o assim: “Com todo o teu coração, isto é: com as tuas duas inclinações, a boa e a má; com toda a tua alma, ou seja, também quando Ele te tira a vida; com todas as tuas forças: com todas as tuas riquezas. Outra explicação de com todas as tuas forças é: seja qual for a medida que Ele para ti medir, dar-lhe-ás graças” (Ber 9,5; cf. 1Ts 5,18). Lucas, seguindo Marcos, acrescenta: “de todo o teu entendimento” (gr. dianóia: cf. Gn 8,21), ou seja, com todas as tuas faculdades: inteligência, vontade, criatividade, sensibilidade, projetos, planos, etc.
- O amor a Deus, porém, por si só não basta: ele deve completar-se e traduzir-se no amor ao próximo (cf. Rm 13,9; Gl 5,14; Tg 2,8; Jo 13,34; 15,12).
- 28: Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás».
- Jesus elogia a resposta (7,43), mas lembra que não basta sabê-lo: é preciso pô-lo em prática. Tal é o caminho da vida: “Faz isso e viverás” (Lv 18,5; Ez 20,11.13; Ne 9,29; Dt 10,12s; 30,20; Rm 10,5; Gl 3,12).
- 29: Mas ele, querendo justificar-se, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?»
- “Querendo justificar-se”, o doutor da lei pergunta: “E quem é o meu próximo?”. Segundo a Lei, na passagem relativa ao amor ao próximo, que ele acabara de citar, “próximo” era apena um membro do povo de Israel (v. 27: Lv 19,18); cf. Ex 20,16-17; 21,14.18.35).
- 30: Retorquindo, Jesus disse: «Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, que, depois de o despirem e espancarem, se foram embora, deixando-o meio-morto.
- É neste contexto pedagógico que Lucas insere a parábola do bom samaritano, exclusiva dele. A parábola situa-nos no Wadi Qelt, o caminho de cerca de 27 km que levava de Jerusalém a Jericó, atravessando o deserto de Judá. Era uma estrada perigosa, infestada de bandos armados. Ora um homem, não identificado (nada se diz dele, embora, pelo contexto, se depreenda que é um judeu), caiu nas mãos dum bando de salteadores que lhe roubaram tudo, inclusive a roupa, espancando-o e deixando-o meio-morto, caído à beira da estrada, necessitado de ajuda.
- 31: Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou pelo outro lado.
- Pela estrada vem, “por coincidência”, um sacerdote, que “descia” de Jerusalém para sua casa, depois de ter cumprido as suas funções litúrgicas no templo (cf. 1,5; 1Cr 24,10-18). Ao ver o homem nu e meio-morto, passa para o lado oposto da estrada e segue o seu caminho, sem se deter.
- 32: De igual modo, passou também por aquele lugar um levita que, ao vê-lo, passou pelo outro lado.
- “De igual modo”, também por coincidência, passa por ali um levita que faz o mesmo que o sacerdote: ao vê-lo, passa pelo outro lado do caminho. Porquê? Porque não querem ficar impuros. De facto, segundo a casuística judaica, estar “meio-morto”, equivalia a estar morto. Ora, quem tocasse um cadáver ficava impuro durante uma semana (Nm 19,11.16) – a não ser que se tratasse dum parente muito chegado, pais, filhos ou irmãos (Lv 21,1s). Apesar de saberem tudo sobre Deus e lidarem diariamente com as suas coisas, estas duas figuras sagradas não estão em sintonia com Deus, pois nada sabem de amor ao próximo. A sua religião é oca, feita de ritos e de gestos vazios, que nada têm a ver com o amor.
- 33: Mas um samaritano, que ia de viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão.
- Pela estrada passa também um samaritano que “ia de viagem”. Na época de Jesus, as relações entre os judeus e os samaritanos eram conflituosas: os judeus detestavam os samaritanos, tendo-os como hereges, por serem uma mistura de sangue israelita com sangue gentio; os samaritanos, por sua vez, tratavam os judeus com desprezo (cf. 9,53; Jo 4,9; Esd 4,6-24; Ne 3,33-37). Trata-se, pois, de um inimigo, um infiel, longe da salvação e do amor de Deus. Mas é ele que vai parar e cuidar do ferido, sem medo de correr riscos, atrasar a viagem e adiar os seus esquemas pessoais. “Passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de compaixão”: a estes três verbos, Lucas junta outros dez (7 ações feitas +3 a dizer), que descrevem a ação do samaritano.
- 34: E, aproximando-se dele, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele.
- Pv 3,27s. O samaritano 1. aproxima-se do homem ferido, 2. liga-lhe as feridas, 3. deitando azeite e vinho (o vinho para as desinfetar, o azeite para as tratar); 4. coloca-o sobre a sua própria montada; 5. leva-o para uma estalagem, 6. cuida dele
- 35: No dia seguinte, tirou dois denários, deu-os ao estalajadeiro e disse: ‘Cuida dele; e o que gastares a mais eu to pagarei quando voltar.
- Passa a noite com o ferido na estalagem, dá dois denários (um salário equivalente a duas jornas) para pagar o restante alojamento e tratamento do ferido ao estalajadeiro, a quem encarrega de o fazer, 8. e diz-lhe que o que gastar a mais 9. ele lho pagará, 10. quando voltar. “Voltar” é uma alusão velada ao juízo final, aquando última vinda de Cristo, na glória (cf. 19,15). O samaritano trata daquele homem como se fosse alguém da sua própria família. Apesar de ser um herege, tem um coração cheio de amor, atenção e desvelo para com o outro e, portanto, cheio de Deus.
- 36: Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?»
- Jesus pergunta então ao doutor da lei quem foi, a seu ver, o próximo daquele homem que caiu não mãos dos salteadores. Jesus não reduz as pessoas a adjetivos, não as classifica por classes, qualidades ou pertenças, mas olha apenas à sua condição humana, à situação em que se encontram.
- 37: Ele disse: «O que usou de misericórdia para com ele». Disse-lhe Jesus: «Vai e faz tu o mesmo».
- O doutor da Lei responde que é o que usou de misericórdia para com esse homem. Jesus conclui a parábola, dizendo: “Vai e faz tu o mesmo”. É a segunda insistência em fazer (v. 28). Tal é o caminho da vida eterna (v. 25). A verdadeira religião, que conduz à vida plena, à vida eterna, passa pelo amor a Deus, traduzido em gestos concretos de amor ao próximo.
- A resposta de Jesus à pergunta inicial do doutor da Lei (v. 25) é clara: para alcançar a vida eterna é preciso amar a Deus e ao próximo. “Próximo” não é uma categoria de pessoas, mas é todo aquele de quem eu me aproximo, porque necessita de mim, seja ele amigo ou inimigo, conhecido ou desconhecido, da mesma etnia ou nação ou doutra; “próximo” é qualquer pessoa caída nos caminhos da vida que, para se levantar, precisa da minha ajuda, da minha presença e do meu amor.
Ler o texto a segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?
- Estou a caminhar em direção à vida eterna? Como?
- O meu grupo ou comunidade são fechados, sendo “proibida a entrada a estranhos”, ou são um espaço onde todos têm lugar e são amados, mesmo aqueles que a vida atira para a berma da estrada?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 69,14.17.30-31.33-34.36ab.37 (R. cf. 33)
Refrão: Procurai, pobres, o Senhor e encontrareis a vida.
A Vós, Senhor, elevo a minha súplica,
pela vossa imensa bondade respondei-me.
Ouvi-me, Senhor, pela bondade da vossa graça,
voltai-Vos para mim pela vossa grande misericórdia. R.
Eu sou pobre e miserável:
defendei-me com a vossa proteção.
Louvarei com cânticos o nome de Deus
e em ação de graças O glorificarei. R.
Vós, humildes, olhai e alegrai-vos,
buscai o Senhor e o vosso coração se reanimará.
O Senhor ouve os pobres
e não despreza os cativos. R.
Deus protegerá Sião,
reconstruirá as cidades de Judá.
Os seus servos a receberão em herança
e nela hão de morar os que amam o seu nome. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Senhor nosso Deus, que mostrais aos errantes a luz da vossa verdade para poderem voltar ao bom caminho, concedei a quantos se declaram cristãos que, rejeitando tudo o que é indigno deste nome, sigam fielmente as exigências da sua fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc