27º Domingo do Tempo Comum, ano C – 5 de outubro de 2025

Fé como um grão de mostarda

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (17,5-10)

Naquele tempo, 17,5os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta-nos a fé». 6O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te e planta-te no mar’ e ela obedecer-vos-ia. 7Quem, de entre vós, que tenha um servo a lavrar ou a apascentar, lhe dirá quando ele regressar do campo: ‘Vem imediatamente reclinar-te à mesa’? 8Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me algo para jantar, cinge-te e serve-me enquanto como e bebo; e, depois, comerás e beberás tu’? 9Terá de agradecer ao servo porque fez o que foi ordenado? 10Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos inúteis: fizemos o que devíamos fazer’».

  Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • v. 5. Os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta-nos a fé».

    Continuamos a acompanhar Jesus no seu caminho para Jerusalém, enquanto Ele nos ensina como viver no Reino de Deus, esforçando-nos por entrar pela porta estreita (13,24). O texto de hoje tem duas partes: um dito sobre a fé (vv. 5-6); e uma parábola sobre a raiz desta, a humildade (vv. 7-10).

    Depois ter apresentado as exigências para entrar no Reino de Deus, em particular a última, a do perdão fraterno (vv. 3-4), neste inciso, exclusivo de Lucas, “os apóstolos” (6,13; 9,10; 11,49; 22,14; 24,10), apercebendo-se de que o que Jesus diz, o Evangelho, está acima das meras forças humanas, pedem a Jesus que lhes aumente a fé. Não dizem a “minha”, nem a “nossa” fé (o que soaria, no caso da primeira, a subjetivismo, e, no da segunda, a confessionalismo), mas “a fé”.

    Lucas vinca, com razão, que este pedido é feito a Jesus, “o Senhor” (2x: v. 6), o título divino, reservado no AT para substituir o Nome sagrado, que, fora três ocasiões, nunca se pronunciava. De facto, para ter fé é necessário pedi-la a Deus (em favor de si mesmo ou de outro), porque a fé é um dom de Deus, “que nos vem por meio de Jesus” (At 3,16), dom que só Jesus, seu “autor e consumador” (Hb 12,2) mediante a sua morte e ressurreição, pode levar à perfeição. Para isso, há que pedi-la cada dia (cf. 11,9-10.13) e alimentá-la (cf. Mt 6,11) pela oração (v. 5; Tg 1,20) e a escuta da Palavra de Deus, a matriz de onde ela brota (cf. Rm 10,17; Gl 3,5).

    No AT, o substantivo "fé" não existe; existe apenas o substantivo "fiel", aplicado a Deus (Dt 7,9; Is 49,7). Ao invés, usa-se o verbo "crer" (he. 'aman: Gn 15,6; Is 7,9; 43,10), que tem o sentido de apoiar-se/firmar-se no que é firme, permanece e é confiável. "Crer" significa, pois, apoiar-se, firmar a própria existência e caminhada na palavra de Deus e nas suas promessas, certos de que Deus é fiável e verdadeiro, que cumpre o que promete, faz o que diz, permanecendo a sua palavra digna de confiança para sempre. No NT, além disso, a fé continua a não ser primordialmente uma crença numa doutrina ou num conjunto de dogmas, mas antes de mais um "acreditar em", sendo, por isso, uma adesão pessoal, uma entrega livre, um abandono confiante a Jesus Cristo, para dele receber a sua vida e o seguir no seu caminho, apoiados na sua Palavra, transmitida pela Igreja, mediante a qual se recebe, pelo Espírito Santo, a força para a cumprir (cf. 1Cor 15,1s; Rm 1,16-17; Jo 1,12-13),

    A fé é, assim, necessária para a salvação (cf. Jo 3,18; Mc 16,16; 1Cor 15,2; Hb 11,6). Porquê? Porque a salvação é uma graça, um dom do amor de Deus, que consiste em viver em comunhão com Ele. O que só é possível se se aceitar o seu amor, renascendo do alto, por meio de Jesus Cristo, graças ao Espírito Santo. Isso exige, porém, a decisão livre e a aceitação pessoal desta dádiva gratuita de Deus. O que só acontece mediante a fé. De facto, pode-se amar alguém por laços de sangue, por dívida, por interesse ou gratidão; pode-se esperar algo por medo ou por necessidade; mas acreditar é sempre uma opção pessoal, livre, de abertura, de aceitação e de confiança no outro e naquilo que ele diz. Acredito no outro e no que ele me diz e eu não sei, nem estou a ver, porque quero.

    Reconhecendo assim que o seu amor e adesão a Jesus ainda eram débeis, os apóstolos pedem-lhe que lhes aumente a fé, para neles crescerem e o seguirem, aderindo plenamente, sem reservas, à sua Palavra.

  • v. 6: O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te e planta-te no mar’ e ela obedecer-vos-ia.

    v. 6: Mt 17,20; 21,21; Mc 11,22-23.

    Jesus começa por lhes dar a conhecer a força da fé. Serve-se, para isso, de duas imagens: 1) o “grão de mostarda”, considerado então como sendo a unidade mais pequena de volume, peso e capacidade que se podia medir (± 1mm3, 1g, 1ml: mToh 8,8; mNid 5,2; jBer 5,1,4); 2) e a “amoreira”, uma árvore de fruto, cuja raiz, pivotante, penetra profundamente no solo, e cujo porte pode atingir os 4 m. Dizer a uma amoreira que se arranque pela raiz do lugar onde está e se plante no mar e vê-lo acontecer é apenas uma imagem (tanto que Mt 21,21 e Mc 11,23 falam antes de um monte), pois ninguém, nem sequer Jesus, fez tal milagre. O que Jesus pretende afirmar é que basta um pouco de fé para obter resultados inesperados e prodigiosos. Quem tiver fé em Jesus verá surgir, crescer e frutificar em si uma vida nova, radicada na sua Palavra e mergulhada no amor de Deus, que ninguém seria capaz de imaginar (cf. 1Cor 2,9; Ef 3,20) e que nenhum ser humano, por si só, pode alcançar. Mas quem tem fé sabe “que para Deus nada é impossível” (1,37; 19,26) e verá realizar-se na sua vida o milagre da sua própria e gradual transformação pessoal.

  • v. 7. Quem, de entre vós, que tenha um servo a lavrar ou a apascentar, lhe dirá quando ele regressar do campo: ‘Vem imediatamente reclinar-te à mesa’?

    A segunda parte da passagem de hoje (vv. 7-10) é a parábola do servo inútil, um texto exclusivo de Lucas. Nela, Jesus apresenta a terra (húmus) donde brota e cresce a fé: a humildade.

    Esta parábola é a contrapartida à parábola da prontidão dos servos (12,35-37), em que o Senhor vem e serve à mesa os servos que, ao chegar das bodas, encontrou vigilantes. A parábola visa, antes de mais, os apóstolos e os servidores das comunidades cristãs. Está relacionada com a passagem anterior (vv. 5-7), por causa da humildade que os discípulos de Cristo devem ter quando, graças à fé, por seu intermédio se operarem sinais e portentos (cf. 1Cor 12,9-10; 13,2; Gl 3,5).

    A parábola é tirada da vida real. Se alguém tem um servo (gr. doúlos: “servo”, mas também “escravo”) que de dia esteve a trabalhar nos campos ou a guardar gado…

  • v. 8, Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me algo para jantar, cinge-te e serve-me enquanto como e bebo; e, depois, comerás e beberás tu’?

    … não dirá ao servo, quando ele regressar a casa, para lhe preparar e servir o jantar, sendo só depois de ele, o patrão, “comer e beber” (5,30.33; 7,33.34; 10,7; 12,19. 29.45; 13,26; 17,27s), que o servo se poderá sentar à mesa, para também o fazer (cf. 22,27; Ap 3,20)?

  • v. 9. Terá de agradecer ao servo porque fez o que foi ordenado?

    É uma pergunta retórica: terá o senhor de agradecer ao servo por ele ter cumprido o seu dever, fazendo o que “foi ordenado”? Claro que não! Note-se que o verbo “ordenar” não tem aqui complemento indireto (o pronome pessoal “lhe”), indicando, deste modo, que Jesus se está a referir à sua própria palavra como um todo (cf. v. 10: “tudo”; 5,5), passando, neste momento, a dirigir-se a todos os seus discípulos.

  • v. 10. Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos inúteis: fizemos o que devíamos fazer’».

    Da mesma feita que um servo não se orgulha perante o seu senhor de ter feito o que devia fazer, também os discípulos de Cristo não se devem orgulhar do que fizeram, nem pensar em vantagens, proveitos ou recompensas pessoais no exercício da sua missão, nem envaidecer-se ou ufanar-se do Senhor realizar através deles sinais e prodígios. O que importa é que façam o que o Senhor mandou e que nenhuma outra recompensa almejem ter, a não ser a de poderem cumprir em tudo a vontade do Senhor (cf. 11,28; 22,42).

    Os fariseus estavam convencidos de que, graças às suas obras e observância da Lei, ganhariam a salvação. Deus não teria, então, outro remédio senão salvá-los. Neste caso, a salvação não seria um dom de Deus, mas uma conquista do homem, alcançada graças às forças e méritos de cada um, sendo Deus apenas um controlador que certificava quem a ela teria direito. Jesus rejeita tal conceção. A atitude do discípulo perante Deus não é a de quem acha que já fez tudo bem feito, tendo, por isso, direito a exigir de Deus uma recompensa; mas é a daquele que obedece a Deus e cumpre a sua vontade por amor, com fé, desprendimento e humildade, encetando cada dia, sempre de novo, a sua caminhada, entregando-se inteiramente a Ele e confiando-lhe tudo (cf. Sl 37,5), deixando a Ele o encargo de velar pelos frutos.

    Quem deveras ama, nunca acha que já nada mais tem que fazer e quem deveras tem fé e se empenha no serviço do Evangelho, sabe que por si só nada pode (cf. Jo 5,19; 15,5), nada é (cf. 1Cor 1,28-31; 15,10) e que tudo deve a Deus (Rm 11,35; 2Cor 3,5s; Fil 2,13; Tg 1,17). Sabe que é “um servo inútil” (gr. achreíos: 2Sm 6,22; cf. Br 6,15; Mt 25,30), cujo trabalho, esforços e sucesso são apenas um ato exterior – que também se devem à ajuda e ao contributo de muitos outros, que, na sua grande maioria, não se veem, nem aparecem –, sendo, por si sós, incapazes de libertar, converter e transformar os corações. Daí o plural: “somos servos inúteis”.

    Deus é o único que é capaz de transformar e salvar o homem (cf. Ef 2,8), devendo-se a Ele todo o mérito da obra que se fez ou do bem que se recebeu (1Cr 29,14; 1Cor 3,5s), como refere S. Paulo: “Deus é que opera em vós, tanto o querer como o operar, segundo o seu beneplácito” (Fl 2,13). O facto dos discípulos terem cumprido o seu dever não lhes dá, pois, direito a reivindicar de Deus determinados privilégios, cargos ou dons. Tudo é graça e dom da misericórdia de Deus, sendo delas que dependem não só salvação que recebem de Deus, como também o poderem corresponder ao seu amor e terem a dita de serem chamados a colaborar na sua obra (cf. 1Cor 9,16-18; 2Cor 3,5).

    Ler o texto uma segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha...
e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?

  • A “minha fé” é a fé da Igreja, nasce da adesão à Palavra de Deus?

  • Confio-me a Deus, apoio-me na Sua Palavra, abandono-me à Sua ação, obedeço à Sua voz no meu dia-a-dia, deixando que Ele faça, em mim, de mim e através de mim, tudo o que lhe aprouver?

  • Há pessoas que “nunca dão ponto sem nó”, buscando em tudo o seu próprio interesse ou vantagem pessoal. O que motiva as minhas ações, gestos e palavras? Que pretendo com elas: o bem e o amor desinteressado ou o louvor, a vantagem e o interesse pessoal?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (saborear em silêncio a Palavra em Deus, deixando que ela inflame e fecunde o coração)

    Salmo responsorial                                              Sl 95,1-2.6-7.8-9 (R.8)

    Refrão: Hoje, se escutardes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.     R.

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
Pois Ele é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.     R.

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
                     \ apesar de terem visto as minhas obras».     R.

Pai-nosso…

Oração conclusiva:

Deus todo-poderoso e eterno, que, na abundância do vosso amor, cumulais de bens os que Vos imploram, muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa misericórdia, libertai a nossa consciência de toda a inquietação e dai-nos o que nem sequer ousamos pedir. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria (ou outra invocação mariana) ...

Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc