Solenidade de Todos os Santos – 1 de novembro de 2025

Solenidade de todos os Santos site

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)

Leitura do Evangelho segundo S. Mateus (5,1-12)

Naquele tempo, 5,1ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-se. Os seus discípulos aproximaram-se dele 2e Ele, abrindo a boca, ensinava-os, dizendo: 3”Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. 4Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. 5Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os artífices da paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa justiça, porque deles é o reino dos Céus. 11Bem-aventurados sois, quando, por causa de mim, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem toda a espécie de mal contra vós. 12Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa. Pois foi assim que perseguiram os profetas que vieram antes de vós”.

      Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

Mateus apresenta Jesus como o Filho de Deus que recapitula a história da salvação, cumprindo em si as promessas, figuras e gestas do AT, levando-as à plenitude e reunindo o novo Povo de Deus (21,43), formado por gentes de todas as nações (10,18; 12,18.21; 24,14; 28,19).

Com as bem-aventuranças, Mateus, que já dissera que Jesus ensinava e pregava (4,17.23), transmite-nos o primeiro dos cinco discursos de Jesus: o “Sermão da Montanha” (cc. 5-7: Lc 6,20-49), a magna charta do Reino, sem dúvida, o texto religioso mais sublime da humanidade.

  • v. 1. Ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-se. Os seus discípulos aproximaram-se dele.

    v. 1
    : Lc 6,17. “Vendo” (idôn) é uma alusão a Deus que no Sinai diz a Moisés: “Vendo, vi” (Ex 3,7) a aflição do Meu povo na escravidão do Egito. Jesus “vê” “as multidões”, compostas por judeus e gentios (4,25!; cf. 8,1.18; 9,36; 14,15. 19.22.23; 15,29ss.39), que habitavam nas trevas e na sombra da morte (4,16), e “vêm a Ele”, representando todos os povos (cf. Sb 6,2; 8,10), a quem se destina o Evangelho (28,18ss). Desde o início, o Evangelho irrompe, em Mateus, como boa nova de salvação universal.

    Então Jesus “subiu ao monte” (Lc 6,17: desceu a uma planície), não para se pôr acima dos outros, mas para a todos poder ver (4,8). No AT, “o monte” (Mt, 16x; com artigo: = 8,1; 14,23; 15,29; 17,9; 17,20 = 21,21; 21,1 = 24,3; 26,30; 28,16) é o lugar da revelação e do encontro com Deus (Gn 22,2; Ex 3,1; 1Rs 19,8; Sf 3,11; Is 52,7), onde todos os povos da terra acorrerão para escutar a Palavra de Deus (Is 2,3). A confluência dos termos “Galileia”, “monte”, “ensinar”, “discípulos” e “aproximar-se” repete-se na conclusão (28,16.19s).

    A menção de Jesus “subir ao monte” é uma referência a Moisés que “subiu ao monte” Sinai, por duas vezes, para receber a Lei e a dar ao povo (Ex 19,3; 24,15.18; 34,4). Ao acrescentar que “os seus discípulos vieram ter com Ele”, Mateus refere-se não à primeira vez, quando Deus decretou que ninguém se aproximasse do monte, caso contrário morreria (Ex 19,12s), mas à segunda, quando Moisés, depois do povo ter pecado, subiu ao Sinai e, passados quarenta dias, desceu, trazendo as tábuas da Lei na mão, “e todos os filhos de Israel vieram ter com ele, e ele ordenou-lhes tudo que o Senhor lhe tinha dito” (Ex 34,32). A palavra de Jesus dirige-se a pecadores (9,13), com os quais Ele não vai renovar (Ex 34,10.27), mas selar uma nova Aliança (26,28).

    A expressão evoca ainda a terceira e última subida de Moisés “ao monte” (Nebo: Dt 34,1), antes de morrer, para dai “ver” (Nm 27,12s; Dt 32,49.52) a Terra Prometida, na qual será Josué (gr. Jesus), e não ele, a introduzir o Povo de Deus (Dt 31,7.23). Jesus é maior do que Moisés: é o novo Josué que introduzirá o verdadeiro Povo de Deus, o da nova aliança, na Terra prometida definitiva, o Reino dos céus.

    Jesus “senta-se” à maneira dos rabinos (23,2; Lc 5,3) para falar, e os seus discípulos vêm ter com Ele, sentando-se a seus pés (cf. Lc 10,39; At 22,3).

  • v. 2. E Ele, abrindo a boca, ensinava-os, dizendo:

    Como a sabedoria (12,42), Jesus “abre a boca” (na assembleia, gr. ekklesia: Sr 24,2) e, como rabino, “ensina” a Palavra de Deus ao povo, “explicando o seu sentido para que todos pudessem compreender” (Ne 8,8).

    Jesus não promulga uma nova “Lei” (Mt, 8x: 5,17.18; 7,12; 11,13; 12,5; 22,36.40; 23,23), feita de mandamentos, incapazes de dar a vida. De facto, na Bíblia, nunca aparece a expressão “Lei da vida”, dizendo-se apenas que pelo cumprimento dos mandamentos o homem viverá (Lv 18,5; Ne 9,29; Br 4,1; Ez 20,11.13.21; Lc 10,28; Rm 10,5; Gl 3,12; Dt 4,1; 6,24; 8,1). Ao invés, Jesus proclama a sabedoria do Reino (13,19), verdadeira árvore da vida (Pv 3,18; 15,4), muito superior àquela.

    Enquanto Filho de Deus, só Jesus conhece o Pai e sabe o que Ele tinha em mente quando deu a Lei a Moisés. Por isso, só Ele pode mostrar o que o Pai realmente quer e o que, de facto, Lhe agrada (11,27).

    E tal como Moisés fixou por escrito a Lei (Torá: Ex 34,27s) em cinco livros (o Pentateuco), também Jesus, em Mateus, pronuncia cinco discursos (5-7; 10; 13; 18; 24-25), sendo o primeiro, o inaugural este, o “Sermão da montanha” (5-7), introduzido pelas bem-aventuranças, onde Jesus apresenta o Reino de Deus e resume o seu programa de vida.

    Há duas versões das bem-aventuranças: a de Mateus e a de Lucas. A versão das “bem-aventuranças” de Mateus é mais desenvolvida, mais espiritualizada e posterior à de Lucas, mais primitiva, só com quatro bem-aventuranças (6,20b-23), seguidas por quatro lamentações proféticas, disposta num rigoroso paralelismo antitético (6,24-26).

    As “bem-aventuranças” são um género literário já usado no AT que aparece: a) em fórmulas de ação de graças (Sl 32,1s; 33,12; 84,5.6.13); b) em exortações a uma vida sábia e prudente (Pv 3,13; 8,32.34; Sl 1,1), c) e como anúncio profético da alegria messiânica (Is 30,18; 32,20). São sempre anúncio de uma alegria que vem de Deus e que só Ele pode dar (Br 4,4). Por isso se chamam “bem-aventuranças”: porque respondem ao desejo fundamental do ser humano de ser feliz, mostrando-lhe como o pode ser, não com uma felicidade pessoal, intransmissível, terrena e temporária, mas com a verdadeira felicidade, a do “Reino dos céus”, isto é, a felicidade perfeita, eterna e comunicativa de Deus, a qual não se alcança por meios humanos, mas é puro dom seu.

    As bem-aventuranças são nove, dispostas numa sequência de 8+1, em que a primeira (v. 3) e a oitava (v. 10) terminam com a mesma promessa: “porque deles é o Reino dos céus”, formando uma inclusão semítica. Trata-se de um artifício sapiencial, em que, tendo-se enunciado os diversos comportamentos, se remata com um último, que a todos inclui e sintetiza, destacando a sua unidade profunda (cf. Sr 25,7).

    As duas primeiras (vv. 3s) e as duas últimas bem-aventuranças (vv. 10s) têm mais a ver com o amor a Deus, alternando nas outras o amor ao próximo (vv. 5.7.9) e o amor de Deus (vv.6.8), estreitamente ligados, de modo a fazer progredir os discípulos, passo a passo, na santidade.

    Cada bem-aventurança tem duas partes: a primeira, é um convite, aquilo que o homem deve fazer, respondendo ao apelo de Deus; a segunda, é uma promessa, aquilo que Deus realiza na vida daquele que respondeu ao seu apelo (Nm 23,19; Ez 36,36; Lc 1,38.45; 1Ts 2,13).

    As bem-aventuranças não são uma lei, porque uma lei pode sempre ser contornada; não são uma utopia, porque esta nunca pode ser alcançada; não são uma moral, porque esta vem através de normas exteriores; não são um conjunto de princípios éticos, porque não dependem do esforço humano. São o anúncio profético, de cariz sapiencial, da bem-aventurança eterna do Reino dos Céus (v. 1). Tal como Deus fez ver do alto do monte Nebo a Terra Prometida a Moisés (onde ele não entrou: Nm 27,12s; Dt 32,49.52), também Jesus, logo no início da sua pregação, dá a entrever aos seus discípulos algo da verdadeira Terra prometida, o Reino dos céus, onde Ele, Jesus, verdadeiro e definitivo Josué, os introduzirá, já nesta terra (cf. acima).

    As bem-aventuranças são, pois, as nove janelas que Jesus, logo no início da sua pregação, abre aos seus discípulos, para, através delas, poderem vislumbrar o Reino dos Céus (cf. Ex 24,10), vendo como é que ele já se começa a manifestar e a realizar aqui na terra.

    Cada uma das bem-aventuranças começa com a palavra “bem-aventurado”, no original makários (“feliz”, “abençoado”), adjetivo grego que traduz o verbo hebraico ‘esher, “ir direto”, “seguir diretamente”, “ir em frente”, “avançar”. As bem-aventuranças são assim, também, simultaneamente, as nove portas através das quais se pode entrar no Reino e as nove vias pelas quais há que avançar, para nele se poder viver (7,13s), não havendo outra forma de o fazer: quem quiser entrar no Reino, pertencer-lhe e nele viver tem de se identificar com alguma delas, pois só assim poderá ser semelhante a Jesus, o modelo acabado de todas elas, que as ensina, porque todas viveu (5,19).

  • v. 3. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.

    v. 3: Lc 6,20. Bem-aventurados os pobres em espírito. Não são os “pobres de espírito” (os simplórios, ingénuos, tolos), nem os pobres com mentalidade de ricos; são aqueles que se sentem e vivem como pobres (8,18; cf. Sf 3,12), acreditam nos pobres (11,25s) e neles veem os primeiros destinatários da Boa Nova (Is 61,1; Lc 4,18).

    São pobres “em espírito” (Sl 34,19) porque, ao escutar a Palavra, se arrependem sinceramente (4,17; Sl 51,19; Is 57,15), não confiando nos seus próprios méritos (Lc 18,10-14), reconhecendo que nada do que têm é seu (Lc 17,10), mas que tudo é dom de Deus (cf. 1Cor 4,7; Tg 1,17), a quem confiam a direção da própria vida. Não se apoiam, nem se gloriam em si mesmos, pretendendo ser o centro e a medida de tudo, mas gloriam-se apenas no Senhor (cf. Jr 9,22s; 1Cor 1,27s). Por isso, mesmo quando são desprezados e odiados pelos outros (Pv 14,20; 19,4.7), abrem-se a eles, vendo-os como irmãos, a quem estimam como sendo superiores a eles (cf. Fl 2,3), considerando-se ditosos e sentindo-se agradecidos por os ter (cf. 2Ts 2,13). Procuram assim viver em comunhão com eles e estão sempre desejosos de os servir (cf. 23,11) e assistir nas suas necessidades, nada querendo só para si, mas estando dispostos a tudo partilhar com os outros, especialmente com os mais necessitados, esquecendo-se de si mesmos (cf. 25,37ss; Lc 17,10).

    São, em particular, aqueles que tudo deixam (cf. 19,27), de tudo se desprendem e tudo vendem, para buscar “em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça” (6,33), e adquirir o “tesouro escondido” e a “pérola preciosa” (13,44.46) do Evangelho. Esta pobreza voluntária, que Jesus assumiu e com a qual nos veio enriquecer (2Cor 8,9) implica a renúncia ao uso egoísta dos bens, dons e capacidades que se possuem (riquezas, carismas, dotes, tempo), para os pôr à disposição e serviço dos outros, sobretudo dos mais pobres e necessitados, não é facultativa, mas está no coração do Evangelho: é a porta de entrada no Reino (19,23-26). Porque só os pobres em espírito aceitam, como as crianças (11,25s; 18,3s), receber o que Deus lhes quer dar através dos irmãos, como quer e quando quer, deixando-se guiar, ensinar e corrigir pelos outros.

    A promessa feita aos pobres em espírito é que “deles é o Reino dos céus” (v. 10; 18,3s; 23,8-12; Mc 10,14; Lc 18,16s; Tg 2,5). O verbo está no presente, indicando que os que assim procedem, já entram e começam a possuir o Reino dos céus na terra.

  • v. 4. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.

    v. 4: Lc 6,21b. Bem-aventurados os que choram. Deus não tem prazer no sofrimento do homem, nem é Ele que envia desventuras e tribulações. Nos profetas, “os que choram” são os que não têm casa para habitar, campos para cultivar, que são obrigados a servir senhores sem escrúpulos, sofrendo injustiças, prepotências e humilhações (Is 61,7). São também os que choram porque veem os outros sofrer, os que choram por causa dos seus pecados (Is 57,18; Jr 50,4; Lm 1,9.15; Br 1,5) e dos pecados do seu povo, que sofre a ruína por causa deles (Sl 137,1; Is 22,4; Jr 9,1; 13,17 Jl 2,17; Tb 13,14; Lc 19,41). São ainda os que anunciam a Palavra, incompreendidos, passando por dificuldades, enfrentando adversidades e sofrendo tribulações.

    A promessa é que “eles serão consolados” (Sl 126,5s) por Deus (Is 51,12; 66,13; 2 Cor 1,3-7; 2 Ts 2,16s), através de Jesus Cristo (Is 40,2; 61,1-3; cf. Sr 48,24).

  • v. 5. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.

    Bem-aventurados os mansos, “Mansos” (Sl 37,11) são os humildes, brandos, dóceis para com o próximo (1Pd 3,4s). São os que foram privados dos seus direitos e dos seus bens e que, embora sem se resignar, suportam a injustiça, sem se deixar levar pela ira ou guardar ressentimento, não cultivando sentimentos de ódio ou de vingança (11,20; cf. Nm 12,3), nem pagando o mal com o mal (5,39-42; Rm 12,17-21; 1 Cor 13,4s; 1Ts 5,15; 1Pd 3,8s).

    A promessa é que “eles herdarão a terra” (Sl 37,11.29; Is 60,21), não a terrena, prometida a Abraão e à sua descendência (Gn 13,15; porque então Jesus diria “terão a sua parte na terra”), mas “herdarão a terra”, não uma parte dela, mas toda ela, a verdadeira terra prometida, definitiva, o Reino de Deus, para onde caminham como estrangeiros e peregrinos (cf. Lv 25,23; 1 Cor 6,9 s; Gl 5,21; cf. Fl 3,20; Hb 11,13-16), começando a viver nele já cá na terra (cf. v. 3; 19,29).

  • v. 6. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.

    v. 6: Lc 6,21a. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Jesus fala aqui não tanto da justiça humana, retributiva (do ut des: “dou para que tu dês”), nem apenas da justiça social, distributiva (suum cuique tribuere: “dar a cada um o que é seu”), que leva à falta de pão e de paz, mas da justiça divina, que tem o seu fundamento no amor de Deus, que quer a salvação de todos (Is 56,1; 61,11; Jr 9,22s; 23,5s; Dn 7,22; 1Tm 2,4), e a todos se estende (Sl 145), sem aceção de pessoas (Dt 10,17; Jb 34,19; At 10,34; Rm 2,11; Ef 6,9; Cl 3,25; Tg 2,1.9; 1Pd 1,17).

    Justiça esta que, da nossa parte, se traduz na adequação da nossa vontade e comportamento à vontade de Deus (cf. 3,15), ou seja, na obediência a ela (Dt 6,25), e no amor ao próximo (1Jo 3,10), através de relações fraternas e na compaixão pelo outro, em todos os âmbitos da vida pessoal e comunitária (religioso, familiar, social e profissional: 5,20; 23,23; Lv 19,15; Sl 146,7; Jr 7,5ss).

    Deus é justo não porque retribui conforme os méritos de cada um, mas porque, com o seu amor, “torna justos” aqueles que são maus. Para nós, a “justiça foi feita” quando o culpado foi punido; para Deus, a “justiça foi feita” quando o malvado se tornou justo, quando o pequeno foi ouvido, quando o necessitado foi ajudado, quando o oprimido foi libertado.

    A primeira vez que a palavra “justiça” (Mt, 7x: 3,15; 21,32; 5x no Sermão da Montanha: vv.10.20; 6,1.33) aparece no AT refere-se à fé de Abraão (Gn 15,6; Rm 4,3; Tg 2,23; cf. Sl 4,6), o qual, vivendo em conformidade com a vontade de Deus (Gn 22,18), fez com que a bênção de Deus se estendesse a todas as nações (Gn 18,18s; Sl 98,2; Jr 4,2). Dar a conhecer a verdadeira justiça de Deus e levá-la até aos confins da terra é a obra do Messias (Is 9,6s; 45,8; 61,10; Jr 23,5-8; 33,15s), que, para o poder levar a cabo, receberá a plenitude do Espírito Santo (Is 11,4s) a fim de purificar (Is 4,4) e reconduzir o povo de Deus ao Senhor (Zc 8,7s), apascentando-o com justiça (Ez 34,16), e de trazer a justiça eterna à terra (Dn 9,24), levando-a às nações sem desanimar (Is 42,6). Por isso esta bem-aventurança, tal como a oitava, inclui o anúncio do Evangelho (cf. Rm 1,17).

    A promessa é que, quem tem fome e sede de justiça, preferindo a justiça de Deus que vem pela fé (Gl 2,16; Rm 3,21s; Fl 3,9; Hb 11,7), à sua própria justiça e à justiça das suas obras (cf. 2Pd 1,1), trabalhando pelo bem e a salvação dos homens (cf. Is 26,9; 45,8; Am 8,11s) “será saciado” e repleto com a justiça, a paz, o amor e a alegria de Deus, que são fruto do Espírito Santo (cf. Sl 107,9; Is 51,1-8; 55,1ss; Rm 14,17).

  • v. 7. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.

    Bem-aventurados os misericordiosos. Não se trata aqui da filantropia de quem distribui esmolas, mas antes de imitar a Deus que tem entranhas de misericórdia por aqueles que sofrem (Ex 34,6s). Na Bíblia, a misericórdia, mais do que um sentimento de compaixão e piedade, é uma ação em favor de quem necessita de ajuda (Ex 22,26; Sl 112,4; Lc 1,54.72). Ser misericordioso é ter um coração que vê a miséria do outro e age para diminuir a sua dor. O exemplo mais claro é o do bom samaritano que viu e usou de misericórdia para com o homem agredido pelos bandidos (Lc 10,37). Misericordioso é ainda aquele que, como Deus, perdoa as ofensas e faz o bem, mesmo aos maus, aos ingratos e aos inimigos (5,45-48; Lc 6,35-38).

    A promessa é que “estes alcançarão misericórdia”, aquando o juízo de Deus, no último dia (cf. Tg 2,13; 1Pd 2,10; 1Tm 1,13.16; cf. Sl 37,26).

  • v. 8. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.

    Bem-aventurados os puros de coração. Puros (ou limpos) de coração são aqueles que agem com intenção sincera e leal, sem maldade (15,17-20; 23,25s; Is 1,16.25), duplicidade ou segundas intenções, com a finalidade de enganar os outros, mas agem com simplicidade (cf. Gn 20,5; Sl 24,3s; Pv 22,11), procurando ter uma atitude e um comportamento em tudo conformes à vontade de Deus. Alimentam-se da Palavra do Senhor (Jo 13,10s; 15,3) e rejeitam os ídolos (Ez 36,25), inclusive o da desobediência (1Sm 15,23) e o do dinheiro, para não terem dois senhores e amarem a Deus de coração indiviso; não julgam nem guardam rancor aos outros (Rm 2,1ss), mas partilham o que possuem (Lc 11,41), fazendo o bem, sem aceção de pessoas (Tt 1,15) e vivendo em paz com todos.

    A promessa é que “esses verão a Deus” (Hb 12,14), ou seja, “verão”, nesta terra, o Reino de Deus (cf. Jo 3,3) e o Seu amor em ação (1Jo 3,1ss; cf. Ex 34,6s), reconhecendo-o na pessoa dos irmãos, em especial dos necessitados (25,34-40), embora sem poder ainda contemplar a face de Deus (cf. Ex 33,20-23; Jo 1,18), o que só será possível no céu (cf. 18,10; Ap 22,4).

  • v. 9. Bem-aventurados os artífices da paz, porque serão chamados filhos de Deus.

    Bem-aventurados os artífices da paz. Na Bíblia, “paz” (he. shalom) não é a mera ausência de guerra; indica a harmonia com Deus, com os outros, consigo mesmo e com a própria criação (Is 11,1-9); implica a justiça, a boa convivência entre os irmãos e as nações, a casa e o trabalho, a prosperidade, a educação e a saúde, a alegria do estar juntos. Numa palavra: é o bem-estar total.

    “Artífices da paz” (ou “pacificadores” ou “construtores da paz” ou “promotores da paz”) são os que se empenham para que isto seja cada vez mais possível para cada homem. “Bem-aventurados” são o que o fazem sem recorrer à opressão, à coação, à violência ou ao uso das armas, empenhando-se com todas as forças a pôr fim às guerras e conflitos; são os que procuram levar os contendedores ao diálogo e reconciliação; são os que perdoam de coração ao irmão, que fazem o bem a quem lhes fez mal (Rm 12,17-21), os que, em vez de procurar o próprio interesse, buscam a concórdia e constroem a união fraterna (Ef 4,3).

    A promessa é que “estes serão chamados filhos de Deus”, tal como Cristo, nossa paz (Mq 5,4; Is 9,6; Ef 2,14), cujas obras imitam.

  • v. 10. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa justiça, porque deles é o reino dos Céus.

    Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça. Jesus não ilude os seus discípulos, dizendo claramente que quem alinha do lado da justiça de Deus, se empenha no restabelecimento da paz e se esforça por levar a Boa-nova da salvação a todos os homens, sofrerá perseguições, pagando assim, tal como Ele, o preço do bem e da felicidade dos outros.

    A promessa é que “deles é o Reino de Deus, promessa esta que repete a do v. 10, formando uma inclusão semítica, indicando que aqui se concluem as bem-aventuranças, as quais revelam a presença, mostram a entrada e ensinam a viver no Reino de Deus já sobre esta terra.

  • v. 11. Bem-aventurados sois, quando, por causa de mim, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem toda a espécie de mal contra vós.

    v. 11: Lc 6,22. A recapitular, Jesus acrescenta uma última bem-aventurança, a nona, que é o desdobramento da anterior e a síntese de todas as outras. Supõe já a época pós-pascal. Nela, Jesus passa da terceira pessoa do plural, usada nas oito bem-aventuranças anteriores, para a segunda pessoa do plural, dirigindo-se apenas aos seus discípulos. Nela, adverte os seus discípulos que serão odiados, rejeitados e sofrerão perseguições (cf. 10,22s; 23,34; 24,9; Mc 10,30; 13,13; 21,12.16s; Lc 11,49; Jo 15,20; At 9,16; 14,22; 2Tm 3,12; cf. Mt 13,21). Num mundo construído e organizado a partir do egoísmo, do poder, dos interesses pessoais ou de fações e de grupos, aqueles que desejam viver de verdade o amor desinteressado do Pai, serão insultados, perseguidos, ridicularizados e difamados (cf. Is 51,7; At 8,1; 13,50; Rm 8,35; 2Cor 4,9), podendo mesmo chegar a pagar com a própria vida o seu empenho, porque os opressores, dando-se conta de que a sua ação livre e desinteressada ameaça a sua posição, desmascara as suas mentiras e põe a descoberto as suas faltas e manobras injustas, os procurarão silenciar, agredindo-os violentamente e eliminando-os.


  • v. 12. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa. Pois foi assim que perseguiram os profetas que vieram antes de vós”.

    v. 12: Lc 6,23. A promessa ao v. 11 é que “é grande nos céus a vossa recompensa” (cf. Gn 15,1; 2Cor 4,17; Hb 10,35; cf. Sr 2,8). O verbo está no presente do indicativo, porque eles já possuem a sua recompensa, que é o próprio Deus (cf. Is 62,11; 49,4) que neles já habita (cf. 1Pd 4,14), embora só se lhes venha a dar plenamente quando eles entrarem na pátria celeste.

    As perseguições que os discípulos de Jesus irão sofrer não serão assim um desaire, mas um sinal de sucesso, sendo mesmo um motivo de intensa alegria, sobrenatural (cf. 1Pd 3,14; Ap 19,7; cf. At 5,41; 2Cor 12,10; Fl 1,29; Cl 1,24; Hb 10,34; Tg 1,2), porque mostram que eles fizeram a escolha certa, aquela que está do lado de Deus, identificando-se com Jesus.

    Os discípulos de Jesus serão, pois, como os profetas do AT que, apesar de perseguidos (At 7,52; Hb 11,33-38; Tg 5,10s), serviram a Deus de forma desinteressada, não à espera de uma vantagem ou de uma recompensa pessoal, mas apenas por amor a Ele e ao Seu povo, confiando sempre em Deus e permanecendo junto do povo, sem nada mais querer do que a glória de Deus e a salvação dos homens.

         Ler o texto uma segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...

 2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

        a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio…
        d) Partilha... e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?

  • É possível ser pobre e feliz ao mesmo tempo? Que tipo de felicidade buscam as pessoas do nosso tempo?
  • Procure recordar os momentos em que se sentiu feliz na sua vida. A sua visão de felicidade é a mesma de Jesus? Como alcançá-la?
  • Com que bem-aventurança se identifica mais? E menos?
  • Como viveu Jesus as bem-aventuranças? Como as vivo eu no meu dia-a-dia? De que maneira Maria pode inspirar-me a fazê-lo?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela me inflame o coração)

Salmo responsorial                                                    Sl 24, 1-6 (R. cf. 6)

Refrão: Esta é a geração dos que procuram a vossa face, Senhor.

Do Senhor é a terra e o que nela existe,
o mundo e quantos nele habitam.
Ele a fundou sobre os mares
e a consolidou sobre as águas.      R.

Quem poderá subir à montanha do Senhor?
Quem habitará no seu santuário?
O que tem as mãos inocentes e o coração puro,
o que não invocou o seu nome em vão.      R.

Este será abençoado pelo Senhor
e recompensado por Deus, seu Salvador.
Esta é a geração dos que O procuram,
que procuram a face de Deus.      R.

Pai-nosso…

 Oração conclusiva:

Deus todo-poderoso e eterno, que nos concedeis a graça de honrar numa única solenidade os méritos de todos os vossos santos, dignai-Vos derramar sobre nós, em atenção a tão numerosos intercessores, a desejada abundância da vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

 Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc