
Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. Mateus (1,18-24)
1,18A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua Mãe, estava desposada com José e antes de terem vivido juntos, achou-se grávida por virtude do Espírito Santo. 19Mas José, seu marido, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. 20Tendo ele assim pensado, eis que lhe apareceu, num sonho, um anjo do Senhor, dizendo: “José, filho de David, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado é do Espírito Santo. 21Dará à luz um Filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus, pois Ele salvará o seu povo dos seus pecados”. 22Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta: 23“Eis que a virgem conceberá no ventre e dará à luz um filho, a quem chamarão Emanuel” o que, traduzido, é: “Deus connosco”. 24Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu a sua mulher.
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
O texto de hoje pertence ao género literário, já presente no AT, dos “relatos do nascimento” de um eleito de Deus: o nascimento do eleito é anunciado por um anjo, que dá a conhecer a missão que Deus lhe vai confiar (cf. Jz 13,3s), indicada pelo nome que lhe deverá ser imposto, depois de ter nascido (cf. Gn 17,19). O eleito é, deste modo, associado, de forma singular, à obra salvífica de Deus, que é Quem toma a iniciativa e age através dele, mostrando que a obra é Sua, que a Sua Palavra é verdadeira e se cumpre sempre.
- v. 18. A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua Mãe, estava desposada com José e antes de terem vivido juntos, achou-se grávida por virtude do Espírito Santo.
vv. 18-25: Lc 2,1-7. A conceção de Jesus é o primeiro episódio do “Livro da origem de Jesus Cristo” (v. 1). Depois de ter apresentado a origem humana de Jesus, mostrando que Ele é “filho de David” (vv. 117), ou seja, descendente de David, Mateus apresenta a origem divina de Jesus (vv. 18-25). Ao designá-la “nascimento”, génesis em grego (vv. 1.18), o nome do primeiro livro da Bíblia na tradução grega dos LXX, Mateus indica que em Jesus se inaugura uma nova criação. O título grego “Cristo” (Mt, 16x, 10+6 = yod+vav, uma das formas do nome divino), traduz o hebraico Messias, significando o “ungido” pelo Espírito Santo (Is 11,2), prometido por Deus a David (2Sm 7,11-16), que seria sacerdote, profeta e rei (Lv 21,12; Dt 18,18; Is 45,1; 1QS 9,11) e havia de trazer a salvação definitiva ao seu povo. O título Cristo já é usado aqui por Mateus como um nome próprio: Jesus Cristo.
Estamos em Nazaré. Maria e José estavam desposados (v. 16; Lc 1,27). O casamento em Israel processava-se em duas fases: na primeira, o desposório (he. 'arash) os noivos prometiam-se um ao outro em casamento mediante um contrato e desposavam-se, mas sem coabitarem. Numa segunda fase, decorrido um tempo mais ou menos longo, selavam o seu compromisso definitivo, o casamento propriamente dito (he. nissuin). O vínculo assumido no desposório tinha, no entanto, um caráter tão sério que eles já se chamavam “marido” e “mulher” e se uma das partes quisesse voltar atrás, sofria uma penalidade, sendo necessário recorrer ao divórcio para o dissolver. Se nesta fase fosse concebido um filho, ele era considerado filho legítimo de ambos, e se a noiva cometesse uma infidelidade, era tida como adúltera.
É nesta fase que algo de absolutamente inédito acontece: sem ter coabitado com José, Maria, que vive em sua casa, acha-se grávida por virtude “do Espírito Santo” (cf. v. 20). O Espírito Santo é o amor de Deus em ação, a Sua força criadora que está na origem do universo (cf. Gn 1,2; Sl 104,30) e do homem (cf. Jb 33,4!; Ez 37,5s; Is 42,5). Jesus não será apenas ungido pelo Espírito Santo como Messias, mas é obra sua, desde o princípio. Ele é o Homem novo, no qual se inaugura a nova criação. Maria não diz nada a ninguém, nem sequer a José, pois confia a Deus a direção de tudo.
- v. 19. Mas José, seu marido, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo.
Entra então em cena José (he. “Ele acrescente”). Ele é “filho de Jacob” (v. 16), evocando José, filho do patriarca Jacob, o “homem dos sonhos” (Gn 30,24; 37,19), enviado por Deus à frente dos seus irmãos para “salvar” as suas vidas, em vista da “grande libertação” (Gn 45,7). É o que José fará com Maria e Jesus. Ao aperceber-se da gravidez de Maria, sendo o único a saber que a criança não é dele, não se atreve a denunciar Maria e, apesar do que vê, respeita o mistério daquela gravidez, que não compreende, recusando repudiá-la publicamente, como mandava a Lei, limitando-se a fazê-lo “em segredo”, ou seja, em privado, entregando-lhe uma certidão de divórcio (cf. Dt 24,1), a fim de não a acusar de adultério, expondo-a deste modo à morte por lapidação (cf. Dt 22,20s.24).
José age assim porque “era justo”. Embora soubesse, em consciência, que não podia manter a sua relação com Maria, a sua “justiça” (o amor a Deus e ao próximo, que se traduz na obediência à Sua vontade), que supera a dos escribas e fariseus (cf. 5,20), já é evangélica: age “em segredo”, só para agradar a Deus (cf. 6,1), não julgando Maria (7,1), preferindo a misericórdia à letra da Lei, evitando desta forma condenar um inocente (12,7).
José e Maria são chamados “marido” e “mulher” (gr. anêr, gunê: vv. 16. 19.20.24), tal como o primeiro casal (Gn 2,23; 3,6.16); mas ao invés dos nossos primeiros pais, Adão e Eva, nem Maria pecou, nem José a acusa, aparecendo ambos aqui em contraste com Adão e Eva, como o casal exemplar da nova humanidade (cf. v. 24).
- v. 20. Tendo ele assim pensado, eis que lhe apareceu, num sonho, um anjo do Senhor, dizendo: “José, filho de David, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado é do Espírito Santo.
Tendo José pensado em repudiar Maria “em segredo” (2,7), Deus associa-se a ele e fala-lhe também em segredo, “num sonho”, através de um anjo (gr. “mensageiro”), enquanto ele dorme, em sua casa. O termo “sonho” (gr. onár) só ocorre na Bíblia em Mateus (6x: 2,12.13.19.22.19). Era através de sonhos que Deus falava aos homens no AT (cf. Gn 20,3; 31,11; 37,6; 40,5; 41,1; Nm 12,6; 1Rs 3,5; Dn 4,13). “Anjo do Senhor” (2,13.19) designa no AT o próprio Deus que intervém na história para transmitir ao homem a Sua Palavra e lhe assegurar a Sua presença (Gn 16,11; 22,11.15; Ex 3,2), realçando assim a iniciativa divina, a verdade da sua Palavra, a transcendência da missão, o caráter sobrenatural da obra, a eficácia da ação. O anjo revela a José duas coisas totalmente novas: 1) o mistério da conceção virginal de Jesus; 2) declarando-lhe algo inaudito: que aquela “é do Espírito Santo” (v. 18; Lc 1,35).
- v. 21. Dará à luz um Filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus, pois Ele salvará o seu povo dos seus pecados”.
Se em Lucas a anunciação do nome é feita a Maria (Lc 1,31); em Mateus é a José que compete impor o nome ao filho, segundo a Lei (v. 25; ao oitavo dia, na circuncisão, quando o pai recebe a criança como seu filho, mesmo no caso deste ser adotivo: Gn 17,19; 21,3s; Lc 2,21). “Jesus” é a tradução grega do nome hebraico “Josué” (Ieoshuah), “Deus salva”. Em aramaico diz-se Ieshuah, a palavra usada em hebraico para “salvação”. É o nome do sucessor de Moisés, que introduziu Israel na Terra Prometida. Como o nome indica, a missão de Jesus será a de salvar “o seu povo”, agora, porém, não de inimigos terrenos (os egípcios), mas “dos seus pecados”, o que só Deus podia fazer (cf. Sl 130,8), não esperando ninguém que o Messias o fizesse (Str-B 1,70-74). É a terceira novidade: Jesus fá-lo-á (pelo Seu Sangue, derramado para remissão dos pecados: 26,28; Lv 17,11; Hb 9,14s; Ef 1,7; Cl 1,1), levando, como novo Josué, o novo povo de Deus, num novo êxodo, à sua verdadeira pátria, o Reino dos céus.
- v. 22. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta.
É em Jesus que se “cumpre o que foi dito” por Deus nas Escrituras (plêrôthê tó rêthen, 10x: 2,15.17.23; 4,14; 8,17; 12,17; 13,35; 21,4; 27,9), embora ultrapassando-o muito. Este é um tema central em Mateus que escreve para cristãos de origem judaica, para quem era fundamental a prova escriturística, aduzida segundo o esquema promessa-cumprimento: Deus faz o que disse, cumpre o que prometeu (cf. Nm 23,19). E tudo o que Deus prometeu no AT realiza-se em Jesus Cristo e, por meio dele, naqueles que nele acreditam.
- v. 23. “Eis que a virgem conceberá no ventre e dará à luz um filho, a quem chamarão Emanuel” o que, traduzido, é: “Deus connosco”.
Revelam-se então mais duas boas novas: 1) Jesus, o Messias prometido, concebido pelo Espírito Santo, nascido de uma virgem, é quem redimirá o seu povo dos seus pecados; 2) Ele é o Emanuel prometido em Is 7,14 (8,8), ou seja, o “Deus connosco” (Is 8,10; 2Cr 32,8; Sl 46,8.12). A passagem de Is 7,14, aduzida por Mateus, não era, porém, uma passagem que no judaísmo se aplicasse ao Messias, mas apenas ao rei Ezequias (NuR 14,173a); mas é agora, porém, que se cumpre à letra, de forma inaudita, o que ela significava e que Deus tinha prometido através dos profetas: habitar no meio do seu povo (cf. Ex 29,45; Ez 37,27; Zc 2,10; 8,23; 2Cor 6,16), sendo Ele mesmo a fazê-lo em Jesus, o Deus-connosco. O tema, de capital importância para a auto compreensão do povo de Deus, já desde Moisés (cf. Ex 33,16; 34,9), é retomado por Mateus no final do seu Evangelho (28,20; cf. 26,29), de modo a formar uma “grande inclusão”, à volta da figura de Jesus, o “Deus connosco”.
- v. 24. Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu a sua mulher.
“Quando despertou do sono” (Gn 28,16), “José fez como o Anjo do Senhor lhe tinha ordenado” (gr. prostásso: 8,4; Js 5,14) e recebe Maria como esposa. Pela fé e obediência de José, “filho de Abraão” (v. 1), à Palavra de Deus, na qual se apoia, pondo toda a sua confiança em Deus, e não no que vê (cf. Gn 15,6) ou as leis da natureza dizem, as vidas de Maria e de Jesus são salvas e Jesus será “o Filho de David” (Mt, 9x: v. 1; 2,42.45 9,27; 12,23; 15,22; 20,30s; Rm 1,3; 2Tm 2,8; 2Sm 7,11-16), não graças à carne, pela força da Lei, mas em virtude da promessa, por obra do Espírito Santo. Deus compraz-se na colaboração do homem, reputando o que se faz ao mais pequenino dos irmãos do Seu Filho como sendo feito a Ele (cf. 25,40); é o que aqui agora literalmente acontece: o gesto que José tem em relação a Jesus (e Maria) é realmente feito a Ele.
Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio…
d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?
- Tenho a mesma disponibilidade de Maria para acolher os desafios de Deus? Sou capaz de dizer cada dia “sim” a Jesus, para que Ele possa nascer em mim e chegar através de mim aos outros para os salvar?
- Acolho os projetos de Deus com a mesma disponibilidade de José, na obediência total a Deus? Como reajo quando alguém não é como eu gostaria que fosse ou como acho que deveria ser?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 24,1-6 (R. 7c e 10b)
Refrão: Venha o Senhor: é Ele o Rei glorioso.
Do Senhor é a terra e o que nela existe,
o mundo e quantos nele habitam.
Ele a fundou sobre os mares
e a consolidou sobre as águas. R.
Quem poderá subir à montanha do Senhor?
Quem habitará no seu santuário?
O que tem as mãos inocentes e o coração puro,
que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso. R.
Este será abençoado pelo Senhor
e recompensado por Deus, seu Salvador.
Esta é a geração dos que O procuram,
que procuram a face do Deus de Jacob. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Infundi, Senhor, a vossa graça em nossas almas, para que nós, que, pela anunciação do Anjo, conhecemos a encarnação de Cristo, vosso Filho, pela sua paixão e morte na cruz alcancemos a glória da ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na nossa vida)
Fr. Pedro Bravo, O.Carm.