10 de dezembro de 2025 – Centenário da aparição da Virgem Maria e do Menino Jesus a Lúcia dos Santos, em Pontevedra

Quadro Convento das Doroteias em Pontevedra detalhe

Dia 10 de dezembro deste ano de 2025 faz cem anos da aparição da Virgem Maria e do Menino Jesus a Lúcia dos Santos, em Pontevedra, a pedir a devoção ao Imaculado Coração de Maria e a prática dos Cinco Primeiros Sábados.

Conta a Irmã Lúcia de Jesus no primeiro livro das Memórias (12ª edição. Secretariado dos Pastorinhos, Fátima 2006, disponibilizado online, em formato PDF, pelo Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima aqui), como oito anos após as aparições de Nossa Senhora a ela e aos pastorinhos na Cova da Iria, em Fátima, a Virgem Maria e o Menino Jesus lhe apareceram em Pontevedra, no convento das Irmãs Doroteias (agora Santuário do Imaculado Coração de Maria, na Rúa Sor Lucía), onde ela residia como postulante, para pedir a devoção ao Imaculado Coração de Maria através da devoção dos cinco primeiros sábados. Recordemos o que ela escreve:

interior capela das aparições

“Dia 10-12-1925, apareceu-lhe a SS. Virgem e, ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS. Virgem, pondo-lhe no ombro a mão, mostra-lhe, ao mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos.

Ao mesmo tempo, disse o Menino:

– Tem pena do Coração de tua SS. Mãe que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam sem haver quem faça um ato de reparação para os tirar.

Em seguida, disse a SS. Virgem:

– Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante 5 meses, ao 1.° sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas” (Memórias 1, 192).

Jesus Menino Pontevedra

No mesmo lugar, Lúcia acrescenta logo de seguida, como, no dia 15 de fevereiro do ano seguinte, 1926, lhe apareceu novamente o Menino Jesus no mesmo local, perguntando-lhe se já tinha espalhado a devoção ao Imaculado Coração de Maria:

“No dia 15, andava eu muito ocupada com o meu ofício e quase nem disso me lembrava. E indo eu deitar um apanhador de lixo fora do quintal, onde, alguns meses atrasados, tinha encontrado uma criança, à qual tinha perguntado se ela sabia a Avé-Maria e, respondendo-me que sim, lhe mandei que a dissesse, para eu ouvir. Mas, como ela não se resolvia a dizê-la só, disse(-a) eu, com ela, três vezes; e ao fim das três Avé-Marias pedi-lhe que (a) dissesse só. Mas, como ela se calou e não foi capaz de dizer, só, a Avé-Maria, perguntei-lhe se ela sabia qual era a Igreja de Santa Maria. Respondeu-me que sim. Disse-lhe que fosse lá todos os dias e que dissesse assim: ‘Ó minha Mãe do Céu, dai-me o Vosso Menino Jesus!’. Ensinei-lhe isto e vim-me embora.

No dia 15-2-1926, voltando eu lá, como é de costume, encontrei ali uma criança que me parecia ser a mesma e perguntei- lhe:

– Então, tens pedido o Menino Jesus à Mãe do Céu?

A criança volta-se para mim e diz:

– E tu tens espalhado, pelo mundo, aquilo que a Mãe do Céu te pediu?

E, nisto, transforma-se num Menino resplandecente. Conhecendo, então, que era Jesus disse:

– Meu Jesus! Vós bem sabeis o que o meu Confessor me disse na carta que Vos li. Dizia que era preciso que aquela visão se repetisse, que houvesse factos para que ela fosse acreditada, e a Madre Superiora, só, a espalhar este facto, nada podia.

– É verdade que a Madre Superiora só, nada pode; mas, com a Minha graça, pode tudo. E basta que o teu Confessor te dê licença e a tua Superiora o diga, para que seja acreditado, até sem se saber a quem foi revelado.

– Mas o meu Confessor dizia na carta que esta devoção não fazia falta no mundo, porque já havia muitas almas que Vos recebiam, aos 1.os Sábados, em honra de Nossa Senhora e dos 15 Mistérios do Rosário.

– É verdade, minha filha, que muitas almas os começam, mas poucas os acabam e as que os terminam é com o fim de receberem as graças que aí estão prometidas; e me agradam mais as que fizerem os 5 com fervor e com o fim de desagravar o Coração da Tua Mãe do Céu, que as que fizerem os 15, tíbios e indiferentes... “ (Memórias 1, 193-194).

"[Em seguida, apresentei] a Jesus a dificuldade que tinham algumas almas em se confessar ao sábado e pedi para ser válida a confissão de 8 dias. Jesus respondeu:

– Sim, pode ser de muitos mais ainda, contanto que, quando Me receberem, estejam em graça e que tenham a intenção de desagravar o Imaculado Coração de Maria.

Ela perguntou:

– Meu Jesus, as que se esquecerem de formar essa intenção?

Jesus respondeu:

– Podem formá-la na outra confissão seguinte, aproveitando a 1.ª ocasião que tiverem de se confessar” (Memórias 1, 192).

O pedido da devoção ao Imaculado Coração da Virgem Maria já tinha sido feito noutras aparições, logo desde o início do acontecimento de Fátima.

Assim, na primeira aparição do Anjo aos pastorinhos, na Loca do Cabeço, na Primavera de 1916, ele faz pela primeira vez referência ao Coração de Maria. Conta Lúcia:

“Subimos a encosta em procura dum abrigo e como foi, depois de aí merendar e rezar, que começámos a ver, a alguma distância, sobre as árvores que se estendiam em direção ao Nascente, uma luz mais branca que a neve, com a forma dum jovem, transparente, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do Sol. À medida que se aproximava, íamos-lhe distinguindo as feições. Estávamos surpreendidos e meios absortos. Não dizíamos palavra. Ao chegar junto de nós, disse:

– Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.

E ajoelhando em terra, curvou a fronte até ao chão. Levados por um movimento sobrenatural, imitámo-lo e repetimos as palavras que lhe ouvimos pronunciar:

– Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Depois de repetir isto três vezes, ergueu-se e disse:

– Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas. E desapareceu” (Memórias 1, 169).

Na segunda aparição, no pino do Verão, junto ao poço do Arneiro, renova-se a referência:

“De repente, vimos o mesmo Anjo junto de nós.

– Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios” (Memórias 1, 170).

Poço do Arneiro Anjo da Paz

Na terceira aparição do Anjo, em finais de setembro ou em outubro desse mesmo ano de 1916, o anjo volta novamente a referir-se ao Coração de Maria, mas falando, pela primeira vez de forma explícita, no Coração Imaculado de Maria:

“Apareceu-nos pela terceira vez, trazendo na mão um cálix e sobre ele uma Hóstia, da qual caíam, dentro do cálix, algumas gotas de sangue. Deixando o cálix e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração:

– Santíssima Trindade, Padre, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores” (Memórias 1, 170-171).

Santo Anjo de Portugal

Vai ser, porém, nas aparições de Nossa Senhora, nos dias 13 de junho e 13 de julho de 1917 que a Virgem Maria se vai referir diretamente a esta devoção. Escutemos, primeiro, o testemunho da vivência dessas aparições por parte de Lúcia:

“Nossa Senhora, a 13 de Junho (de) 1917, disse-me que nunca me deixaria e que Seu Imaculado Coração seria o meu refúgio e o caminho que me conduziria a Deus. Que foi ao dizer estas palavras que abriu as mãos, fazendo-nos penetrar no peito o reflexo que delas expedia. Parece-me que, em este dia, este reflexo teve por fim principal infundir em nós um conhecimento e amor especial para com o Coração Imaculado de Maria; assim como das outras duas vezes o teve, me parece, a respeito de Deus e do mistério da Santíssima Trindade. Desde esse dia, sentimos no coração um amor mais ardente pelo Coração Imaculado de Maria. A Jacinta dizia-me, de vez em quando:

– Aquela Senhora disse que o Seu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá a Deus. Não gostas tanto? Eu gosto tanto do Seu Coração! É tão bom!

Depois que, em [13 de] Julho, no segredo, como já deixo exposto, nos disse que Deus queria estabelecer no Mundo a devoção a Seu Imaculado Coração; que, para impedir a futura guerra, viria pedir a consagração da Rússia a Seu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados, falando disto entre nós, a Jacinta dizia:

– Tenho tanta pena de não poder comungar em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!

Já disse também como a Jacinta escolheu, entre a ladainha de jaculatórias que o Senhor Padre Cruz nos sugeriu, a de: “Doce Coração de Maria, sede a minha salvação!” Às vezes, depois de a dizer, acrescentava, com aquela simplicidade que Ihe era natural:

– Gosto tanto do Coração Imaculado de Maria! É o Coração da nossa Mãezinha do Céu! Tu não gostas tanto de dizer muitas vezes: “Doce Coração de Maria!” “Imaculado Coração de Maria!”? Eu gosto tanto, tanto!

Às vezes, andava a apanhar as flores do campo e a cantar com uma música arranjada por ela no mesmo momento:

– Doce Coração de Maria, sede a minha salvação! Imaculado Coração de Maria, converte os pecadores, livra as almas do inferno!” (Memórias 1, 125-126).

Imagem de Nossa Senhora de Fátima 1

Depois, no relato das aparições. Na aparição de 13 de junho, Nossa Senhora diz a Lúcia:

"– Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. A quem a aceita, prometer-lhe-ei a salvação e estas almas serão amadas de Deus, como flores colocadas por Mim para enfeitar o Seu trono".

– Fico cá sozinha? - perguntei, com pena.

– Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus".

Foi no momento em que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco parecia estarem na parte dessa luz que se elevava para o Céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora, estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação» (Memórias 1, 175-176).

aparição de Nossa Senhora em Fátima só foto

E sobre a aparição de Nossa Senhora no dia 13 de julho, descreve na segunda parte do “segredo de Fátima”:

«Assustados [com a visão do inferno, a primeira parte do segredo] e como que a pedir socorro, levantámos a vista para Nossa Senhora que nos disse, com bondade e tristeza:

– “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio Xl começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia a Meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará”» (Memórias 1, 177.208).

São estas as referências ao Imaculado Coração de Maria e à prática da devoção dos cinco primeiros sábados nos relatos de Fátima, que aqui queremos evocar, para não deixarmos passar inadvertidamente esta efeméride e celebrarmos o centenário da aparição de Nossa Senhora e do Menino Jesus a Lúcia no dia 10 de dezembro de 1925, recordando uma vez mais as próprias palavras da Virgem Maria e de Jesus.

No Carmelo, elas têm um significado muito particular, uma vez que o Carmelo desde a sua origem, no Monte Carmelo, tomou a Virgem Maria como sua Patrona, invocando-a com especial amor no mistério da sua Imaculada Conceição, como a “Virgem puríssima” e venerando de forma muito própria o seu puríssimo Coração, coração este que os carmelitas almejam imitar, na linha da sexta bem-aventurança: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8), a fim de “saborear de algum modo no íntimo do coração e experimentar no nosso espírito o poder da divina presença e a suavidade da glória celeste, não só depois da morte, mas ainda nesta vida mortal” (Felip Ribot, Instituição dos primeiros monges 1,2).

irma lucia imaculado coração maria

Com a devoção ao seu Imaculado Coração, Maria vem recordar a importância de uma vida de intimidade pessoal em profunda comunhão contemplativa com o seu Filho Jesus Cristo, ensinando-nos o modo de o fazer, através da oração, da renúncia pessoal e do sacrifício, do amor a Deus e da imolação pelos pecadores, para que estes possam voltar a Deus, reconciliar-se com Ele, consigo mesmos e com os outros, de modo que o mundo, reencontrando-se em fraterna união, possa finalmente alcançar a paz. A mesma paz  que todos os seres humanos, desde que nascem, desejam ver na terra, mas que nunca foram capazes de encontrar, porque não foram capazes de se reencontrar uns aos outros como irmãos, o que só é possível com o amor de Deus, desse mesmo amor do Deus que arde de amor pela humanidade, a ponto de ter dado a Sua vida por nós na cruz, e que quer arder no nosso coração, como arde no coração de Maria. Para que o mundo tenha a paz e para que neste Natal possa ressoar em toda a parte com maior intensidade e inundar os corações de uma maior e inefável alegria o hino que pela primeira vez ecoou em Belém aos ouvidos dos pastores, a quem fora dada pelo céu a jubilosa notícia do nascimento do Menino Deus, como nosso irmão, cantando: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2,14).

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