Meditação do Papa Leão XIV na vigília de oração pela paz – 11 de outubro de 2025

Vigilia oracao pela paz 2025 10 11


No passado dia 11 de outubro de 2025, pelas 18 h locais, celebrou-se uma vigília de oração na Praça de São Pedro, por ocasião do Jubileu da Espiritualidade Mariana. A vigília foi presidida pelo Papa Leão XIV, que convidou todos os fiéis da Igreja em todo o mundo a que se juntassem a ele em oração através dos meios de comunicação social. A finalidade desta oração era pedir a Deus, num só coração e numa só alma, o dom da paz para o mundo, através da intercessão de Nossa Senhora. Para isso, o Papa Leão XIV pediu que a imagem original de Nossa Senhora de Fátima (a imagem nº 1), fosse trazida da Capelinha das Aparições, onde se encontra no Santuário de Fátima, para a Praça de São Pedro, a fim de rezar diante dela o terço com os fiéis, tendo-lhe oferecido, a ela e ao Santuário de Fátima, nessa ocasião, uma rosa de ouro.

No final da oração do terço, seguida do canto da Salvé Rainha e da ladainha lauretana de Nossa Senhora, e antes da exposição do Santíssimo Sacramento, o Sumo Pontífice dirigiu esta mensagem aos fiéis, terminando com uma prece a Maria.



MEDITAÇÃO DO PAPA LEÃO XIV  
NA VIGÍLIA DE ORAÇÃO E TERÇO PELA PAZ


Vaticano,  Praça  de  São  Pedro
Sábado, 11 de Outubro de 2025


Queridos irmãos e irmãs,


esta tarde, estamos reunidos em oração, juntamente com Maria, Mãe de Jesus,  tal como costumava fazer a Igreja primitiva de Jerusalém (cf. Act 1, 14). Todos juntos, perseverantes e concordes, não nos cansamos de interceder pela paz, dom de Deus que se deve tornar nossa conquista e nosso compromisso.

[Autêntica espiritualidade mariana]

Neste Jubileu da espiritualidade mariana, o nosso olhar de crentes busca na Virgem Maria a guia para a nossa peregrinação na esperança, contemplando as suas virtudes humanas e evangélicas, cuja imitação constitui a mais autêntica devoção mariana (cf. Conc. Ecum. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, 65.67). Como ela, a primeira entre os fiéis, queremos ser o ventre que acolhe o Altíssimo, «tenda humilde do Verbo, movida apenas pelo sopro do Espírito» (S. João Paulo II, Angelus, 15 de agosto de 1988). Como ela, a primeira dos discípulos, suplicamos o dom de um coração que escuta e se torna fragmento de um universo que acolhe. Por meio dela, Mulher dolorosa, forte, fiel, rogamos que nos conceda o dom da compaixão para com cada irmão e irmã que sofre e para com todas as criaturas.

Olhemos para a Mãe de Jesus e para aquele pequeno grupo de mulheres corajosas que estão junto à Cruz a fim de que também nós aprendamos a permanecer, do mesmo modo que elas, junto às infinitas cruzes do mundo, onde Cristo ainda está crucificado nos seus irmãos, para lhes levar conforto, comunhão e ajuda. Reconhecemo-nos nela, que é irmã da humanidade, e dizemos-lhe, com as palavras de um poeta:

«Mãe, tu és cada mulher que ama;
Mãe, tu és cada mãe que chora
um filho morto, um filho traído.
Esses filhos que nunca cessam de matar» (D. M. Turoldo).

À tua proteção recorremos, Virgem da Páscoa, juntamente com todos aqueles em quem se continua a realizar a paixão do teu Filho.


[Fazei o que Ele vos disser]

No Jubileu da Espiritualidade Mariana, a nossa esperança é iluminada pela luz suave e perseverante das palavras de Maria que o Evangelho nos transmite. E, entre todas, são preciosas as últimas pronunciadas nas bodas de Caná, quando, indicando Jesus, ela diz aos serventes: «Fazei tudo o que Ele vos disser!» (Jo 2, 5). Depois disso, não voltará a falar. Portanto, estas palavras, que são como que um testamento, devem ser muito caras aos filhos, como qualquer testamento de uma mãe.

Tudo o que Ele vos disser. Ela tem a certeza de que o Filho falará, pois a sua Palavra não terminou e ainda cria, gera, age, enche o mundo de primaveras e as ânforas da festa de vinho. Maria, como um sinal que indica o caminho, orienta para além de si mesma, mostra que o ponto de chegada é o Senhor Jesus e a sua Palavra, o centro para o qual tudo converge, o eixo em torno do qual giram o tempo e a eternidade.

Ponde em prática a sua Palavra, recomenda. Ponde em prática o Evangelho, transformai-o em gesto e corpo, sangue e carne, esforço e sorriso. Ponde em prática o Evangelho, e a vida transformar-se-á, de vazia em plena, de apagada em acesa.

Fazei tudo o que Ele vos disser: todo o Evangelho, a palavra exigente, a carícia consoladora, a repreensão e o abraço. O que compreendeis e também o que não compreendeis. Maria exorta-nos a ser como os profetas: a não deixar que nem uma só das suas palavras se perca em vão (cf. 1 Sm 3, 19).

E entre as palavras de Jesus que não queremos deixar cair, uma ressoa de modo particular hoje, nesta vigília de oração pela paz: aquela que foi dirigida a Pedro no Horto das Oliveiras: «Mete a espada na bainha» (cf. Jo 18, 11). Desarma as mãos e, primeiro ainda, o coração. Como já tive a oportunidade de recordar noutras ocasiões, a paz é desarmada e desarmante. Não é dissuasão, mas fraternidade; não é ultimato, mas diálogo. Não virá como fruto de vitórias sobre o inimigo, mas como resultado da sementeira da justiça e do perdão corajoso.

Mete a espada na bainha é uma palavra dirigida aos poderosos do mundo, àqueles que conduzem o destino dos povos: tende a audácia de vos desarmar! E, ao mesmo tempo, dirige-se a cada um de nós, para nos tornar cada vez mais conscientes de que não podemos matar por nenhuma ideia, fé ou política. O primeiro que deve ser desarmado é o coração, porque se não há paz em nós, não daremos paz.


[Entre vós não seja assim]

Ouçamos ainda o Senhor Jesus: os grandes deste mundo constroem impérios com o poder e o dinheiro (cf. Mt 20, 25; Mc 10, 42), «convosco, porém, não deve ser assim» (Lc 22, 26). Deus não faz desse modo: o Mestre não tem tronos, mas cinge-se com uma toalha e ajoelha-se aos pés de cada um. O seu império é aquele pequeno espaço que basta para lavar os pés dos seus amigos e cuidar deles.

É também o convite a adotar uma perspetiva diferente para olhar para o mundo a partir de baixo, com os olhos de quem sofre, e não com a ótica dos grandes; para olhar para a história com o olhar dos pequenos, e não com o dos poderosos; para interpretar os acontecimentos da história a partir do ponto de vista da viúva, do órfão, do estrangeiro, da criança ferida, do exilado, do fugitivo. Com o olhar de quem naufraga, do pobre Lázaro, atirado à porta do rico epulão. Caso contrário, nunca mudará nada, e não surgirá um tempo novo, um reino de justiça e paz.

Assim faz também a Virgem Maria no cântico do Magnificat, quando pousa o seu olhar sobre os pontos de fratura da humanidade, onde ocorre a distorção do mundo no contraste entre humildes e poderosos, entre pobres e ricos, entre saciados e famintos. E escolhe os pequenos, está do lado dos últimos da história, para nos ensinar a imaginar e a sonhar, juntamente com ela, novos céus e nova terra.


[Felizes vós]

Fazei tudo o que Ele vos disser. E nós a isso nos comprometemos para que  a grande palavra do Senhor: «Felizes os pacificadores» (cf. Mt 5, 9) se faça nossa carne e paixão, história e ação.

Felizes vós: Deus dá alegria àqueles que produzem amor no mundo, alegria àqueles que, à vitória sobre o inimigo, preferem a paz com ele.

Coragem, sigam em frente, vós que criais as condições para um futuro de paz, na justiça e no perdão; sede mansos e determinados, não deixeis cair os braços. A paz é um caminho e Deus caminha convosco. O Senhor cria e difunde a paz através dos seus amigos pacificados no coração, que se tornam, por sua vez, pacificadores, instrumentos da sua paz.

Reunimo-nos esta tarde em oração ao redor de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, como os primeiros discípulos no cenáculo. A ela, mulher pacificada na profundidade do seu ser, Rainha da paz, nos dirigimos:

Reza connosco, Mulher fiel, ventre sagrado do Verbo.
Ensina-nos a escutar o clamor dos pobres e da mãe Terra,
atentos aos apelos do Espírito no segredo do coração,
na vida dos irmãos, nos acontecimentos da história,
no gemido e no júbilo da criação.

Santa Maria, mãe dos viventes,
mulher forte, dolorosa, fiel,
Virgem esposa junto à Cruz
onde se consuma o amor e brota a vida,
sê tu a guia do nosso compromisso de servir.

Ensina-nos a permanecer contigo junto às infinitas cruzes
onde o teu Filho ainda está crucificado,
onde a vida é mais ameaçada;
a viver e a testemunhar o amor cristão
acolhendo em cada homem um irmão;
a renunciar ao egoísmo opaco
para seguir Cristo, verdadeira luz do homem.

Virgem da paz, porta de esperança segura,
Acolhe a oração dos teus filhos!

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