Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo, ano C – 23 de novembro de 2025

Lc 23 42 Jesus lembra te de mim

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.

A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)

Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (23,35-43)

Naquele tempo, 23,35os chefes troçavam de Jesus, dizendo: «A outros salvou: salve-se a si mesmo, se este é o Cristo de Deus, o Eleito». 36Também os soldados escarneciam dele. Aproximando‑se, ofereciam-lhe vinagre, 37dizendo: «Se Tu és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo». 38E por cima dele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». 39Um dos malfeitores suspensos na cruz insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Cristo? Salva-te a Ti mesmo e a nós». 40Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o, dizendo: «Não temes ainda a Deus, tu que sofres a mesma condenação? 41Quanto a nós fez-se justiça, pois recebemos o que as nossas ações mereciam; mas este não fez nenhum mal». 42E dizia: «Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino». 43Ele disse‑lhe: «Amen te digo: hoje estarás comigo no Paraíso».

      Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

O texto de hoje tem por tema a realeza messiânica de Jesus (v. 2). Estamos no Calvário (v. 33; aram. Gólgota: Mc 15,22p), diante de Jesus crucificado, na hora em que Ele está a dar a vida pela salvação dos homens.

  • v. 35. Os chefes troçavam de Jesus, dizendo: «A outros salvou: salve-se a si mesmo, se este é o Cristo de Deus, o Eleito».

    (vv. 35-38: Mt 27,39-43.37; Mc 15,29-32.26). Ao invés de Mateus e de Marcos, em Lucas o povo não insulta Jesus na Sua paixão: limita-se a “contemplá-lo” (Sl 22,8), silencioso e perplexo, enquanto os seus chefes “troçam” dele (16,14; Sl 22,8), desafiando-o a “salvar-se a si mesmo” (Sl 22,9), com palavras decalcadas do Sl 22 (o principal salmo da paixão), estando desta forma, sem disso se aperceberem, a cumprir as Escrituras (cf. At 3,17s; 13,27). Ignoravam que, para salvar a humanidade do pecado e da morte, Jesus tinha de neles entrar para, ressuscitando, os vencer e viver para sempre com Deus (cf. Rm 6,10).

    “Os chefes” dos judeus ridicularizam a messianidade de Jesus, proclamando, porém, dois dos seus principais títulos: a) “o Cristo de Deus” (gr.), ou seja, “o Messias” (he.), o Ungido de Deus (Lc, 3x: 2,26; 9,20; “Cristo”, Lc, 12x: 2,11; 4,41; 20,41; 22,67; 23,2; 23,35.39; 24,26.46), prometido no AT; b) e “o Eleito”, título mencionado apenas por Lucas, evocando a revelação da verdadeira identidade de Jesus por parte do Pai. na Transfiguração (9,35). O título designa Jesus como: a) o “Servo de Iavé”, “escolhido” por Deus para levar a salvação a todos os povos (Is 42,1; cf. At 28,28); b) o justo perseguido (Sb 3,9; 4,15); c) o juiz universal, constituído e exaltado por Deus sobre todas as criaturas, do livro de Henoc (1Hen 39,6; 45,3; 49,2; 51,2.4; 52,6.9; 53,6; 55,4; 61,4.5.8.10; 62,1; 91,19). O Deus vivo não é como os deuses pagãos: não precisa de lutar contra outros deuses para vencer, salvando-se a si mesmo, mas dá-se a Si mesmo em comunhão de amor para salvar o homem.

  • v. 36. Também os soldados escarneciam dele. Aproximando‑se, ofereciam-lhe vinagre…

    Os soldados associam-se à paródia dos chefes judaicos e “escarnecem” de Jesus (v. 11; 18,32; 22,63; cf. 2Cr 36,16). “Oferecem-lhe vinagre” (Jo 19,29; cf. Nm 6,3) a beber, cumprindo assim também a Escritura, neste caso, o Sl 69,22 (“na minha sede, deram-me vinagre a beber”: cf. Jo 19,30).

  • v. 37. ... dizendo: «Se Tu és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo».

    Embora Lucas não especifique, estes soldados são romanos, pois insultam Jesus evocando o motivo da sua condenação por parte das autoridades romanas, ou seja, de Pôncio Pilatos (23,8): ser “o Rei dos judeus” (Lc 23, 3x: vv. 3.38).

  • v. 38. E por cima dele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus».

    Tal é, de facto, o motivo da condenação de Jesus pelo poder romano, afixado no titulum crucis: “Este é o Rei dos judeus”. Um letreiro cínico, que visava também ofender os judeus (cf. Jo 19,21s). Jesus, porém, nada tem de um rei temporal: não está sentado num trono, mas pregado numa cruz; não veste roupas sumptuosas, mas está nu; não aparece rodeado de soldados, dispostos a defendê-lo, mas foi abandonado pelos seus; não é aclamado povo, mas entregue pelos seus chefes; não julga, nem exerce autoridade de vida ou de morte sobre milhares de homens, mas está indefeso, pregado numa cruz, condenado a uma morte infamante (cf. Dt 21,23); não jura vingança, nem inflige castigo, mas tem apenas uma súplica na boca: “Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem” (v. 34). O título afixado declara, porém,  acertadamente quem é Jesus para Deus: o Messias prometido.

  • v. 39. Um dos malfeitores suspensos na cruz insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Cristo? Salva-te a Ti mesmo e a nós».

    O quadro é completado por uma cena exclusiva de Lucas, bem significativa para entender o sentido da realeza de Jesus. Com Jesus estão “suspensos” (Dt 21,22) – ou seja, crucificados (v. 33; At 5,30; 10,39; Gl 3,13), não com cravos, mas com cordas (cf. Jo 19,31s) –, dois “malfeitores” (vv. 32s.39; Mt 27,44; Mc 15,32b; 2Tm 2,9), no meio dos quais ele se encontra. Cumprem-se assim o Sl 22,17 (“Cercou-me um bando de malfeitores”) e Is 53,12 (“Foi contado entre os transgressores”). Um deles, insulta também Jesus (Mt 27,44; Mc 15,32): é o terceiro insulto a Jesus na cruz por ser “o Cristo”, tal como três foram as suas tentações pelo diabo no deserto, por ser Filho de Deus (4,1-13). Em cada um destes três insultos aparece o verbo “salvar” (gr. sôzô, aqui 4x).

    Este insulto a Jesus como “o Cristo”, repetido duas vezes pelos judeus (vv.35.39) e outras duas pelos romanos, sob o título de “Rei dos judeus” (vv. 37-38), compendia o falso testemunho levantado contra Jesus (23,2; Dt 17,6) que levou à sua condenação por parte dos judeus e dos romanos. Ele põe a nu a contradição entre: por um lado, a conceção humana do poder por parte dos grandes (cf. 22,25) e do Messias por parte dos judeus, que esperavam um Rei triunfalista, que faria grandes prodígios e destruiria todos os seus inimigos, sem nunca morrer; e, por outro, a visão de Deus sobre o Messias que dá a sua vida pela redenção dos homens (cf. Is 53,1-12).


  • v. 40. Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o, dizendo: «Não temes ainda a Deus, tu que sofres a mesma condenação?

    A visão divina é aceite, porém, pelo outro malfeitor, que repreende o seu companheiro, por ver no insulto deste a Jesus uma blasfémia.


  • v. 41. Quanto a nós fez-se justiça, pois recebemos o que as nossas ações mereciam; mas este não fez nenhum mal».

    Ele confessa, então, publicamente a sua culpa (cf. 18,13), reconhece a justeza da sua condenação (cf. Dn 3,27-39; Js 7,19s.25s) e proclama a inocência de Jesus (cf. v. 47; 12,8; At 13,28!; 3,14; 7,52; 22,14).


  • v. 42. E dizia: «Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino».

    A seguir dirige-se a Jesus, começando por invocar publicamente o Seu nome: “Jesus” (cf. At 2,21; 7,59; 9,14.21; 22,16; Jl 2,32; Rm 10,13!).

    Depois pede-lhe: “lembra-te de mim”, ou seja, usa de misericórdia para comigo, perdoa-me e salva-me (cf. Tb 3,3; Sl 25,7; Gn 40,14; Sl 106,4).

    Por último, põe em Jesus toda a sua fé e esperança, acrescentando: “quando entrares no Teu reino”. É uma expressão que retoma as palavras de Jesus em 22,18, descrevendo a sua paixão, morte e ressurreição como a verdadeira Páscoa, a da nova e eterna Aliança, que a páscoa judaica prefigurava. O malfeitor usa o verbo erchomai que significa “entrar/vir/aparecer”. Trata-se de uma confissão de fé em Jesus, não como rei terreno (pois está a vê-lo morrer), mas como o Rei-Messias do mundo vindouro, prometido por Deus (cf. Is 9,5s; Dn 7,14.22). Uma prece ainda hoje cantada pelo povo na liturgia grega no momento da comunhão.

    É um pedido surpreendente, que um condenado, um “maldito de Deus” (cf. Dt 21,22s), dirige a outro condenado, maldito como ele (Gl 3,13), em quem, não obstante, reconhece a presença de Deus que vem ao encontro do último dos homens e se faz próximo do mais perdido deles, para dar ao homem, justamente condenado (cf. Rm 5,18), a única, derradeira e verdadeira esperança: a da salvação (cf. 19,10).

  • v. 43. Ele disse‑lhe: «Amen te digo: hoje estarás comigo no Paraíso».

    Perante tal fé, Jesus responde: “Amen te digo”. A palavra hebraica amen, já utilizada em ambiente litúrgico (cf. Dt 27,15-26; 1Cr 16,36; Rm 1,25), significa “é verdadeiro”, “é digno de fé”, “é digno de confiança”. Jesus utiliza-a para vincar a importância do que a seguir vai afirmar, indicando que o que diz é digno de fé e de confiança, porque certamente acontecerá (cf. Ap 3,14).

    “Hoje” aparece aqui em Lucas como a última das onze vezes que ocorre no seu Evangelho. Não tem apenas o sentido cronológico do “dia presente” (12,28, 22,34.61), mas sobretudo o sentido teológico do “dia da salvação e da graça” (2Cor 6,2), em que, quem acredita em Jesus, recebe a salvação (2,11; 4,21; 5,26; 13,32.33; 19,5.9).

    Jesus chama à vida eterna “paraíso”. “Paraíso” (Ne 2,8; Qo 2,5; Ct 4,13) é uma palavra persa que significa “parque”. Era o nome dado ao Éden, “o jardim de Deus” (Is 51,3; Ez 28,13; 31,8), que no meio tinha a árvore da vida (Gn 2,8s; Ap 2,7), onde o homem, criado por Deus, fora colocado, gozando da comunhão com Ele, e donde foi expulso por causa do pecado (Gn 3,23s). Era considerado pelo judaísmo palestiniano a morada onde as almas dos justos repousavam até à ressurreição final (cf. 16,23s; Apoc Mos 37; 2Hen 8,1-9). No NT, “paraíso” é sinónimo de “céu”, a morada de Deus (2Cor 12,4), onde Cristo, pela sua morte e ressurreição, nos introduziu (Ef 2,5ss).

    É em Cristo que se inaugura o “hoje”, definitivo e eterno, da salvação (At 13,33), em que o homem, redimido dos seus pecados, regressa à comunhão com Deus, tal como por Ele fora prometido (cf. Ez 37,27). Tal é o sentido da realeza de Jesus: dar a vida, para, unindo os homens a si, os fazer participar, com Ele e nele, da sua realeza, ou seja, da vida divina, na glória do Reino de Deus.

  Ler o texto uma segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo...

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

      a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio…
      d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Como é que damos testemunho da realeza de Cristo: através de estruturas de poder ou num serviço de amor e proximidade às pessoas?

  • Que é mais importante para mim: o seguimento de Jesus, a atenção ao próximo ou as minhas pretensões de aplausos e reconhecimento?

  • Sou compreensivo com os outros, mesmo com os que erram? Como é que me relaciono com os que são rejeitados por parte dos outros?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela inflame o coração)

Salmo responsorial                                            Sl 122,1-2.4-5 (R. cf. 1)

Refrão: Iremos com alegria para a casa do Senhor.

Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém.     R.

Jerusalém, cidade bem edificada,
que forma tão belo conjunto!
Para lá sobem as tribos,
as tribos do Senhor.     R.

Para celebrar o nome do Senhor,
segundo o costume de Israel;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David.     R.

Pai-nosso…

Oração conclusiva:

Deus todo-poderoso e eterno, que no vosso amado Filho, Rei do universo, quisestes instaurar todas as coisas, concedei propício que todas as criaturas, libertas da escravidão, sirvam a vossa majestade e Vos glorifiquem eternamente. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave Maria...

Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, O.Carm.